Desdobramento da operação ‘Câmbio, Desligo’ mira pessoas próximas ao brasileiro Dario Messer, “o doleiro dos doleiros”. Juiz Bretas expediu 37 mandados de prisão no Rio, SP e em Ponta Porã, fronteira paraguaia
O ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes é alvo, nesta terça-feira, de um mandado de prisão expedido pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, no âmbito da Operação Patrón —um desdobramento da Operação Câmbio, Desligo, braço da Lava Jato fluminense. A investigação mira suspeitos ligados ao doleiro Dario Messer, conhecido como “o doleiro dos doleiros”, preso em São Paulo em julho deste ano.
Cartes recebeu a notícia do mandado contra ele em sua casa em Assunção, onde recebeu a visita de vários políticos nesta terça, segundo a imprensa local. Até agora, a ordem de prisão preventiva não chegou ao país vizinho, segundo afirmou ao EL PAÍS o chefe da agência da Interpol na capital paraguaia, Wilberto Sánchez. “Até o momento não há alerta vermelho”, afirmou o comissário.
Cartes comandou o Paraguai entre agosto de 2013 e agosto de 2018. Empresário milionário do país e suspeito de ocultar seu patrimônio através de Messer, ele é acusado de lavagem de dinheiro e organização criminosa. Em nota, a Polícia Federal afirma que identificou cerca de 20 milhões de dólares (84 milhões de reais) ocultados, dos quais mais de 17 milhões estão num banco nas Bahamas. O restante está “pulverizado no Paraguai entre doleiros, casas de câmbio, empresários, políticos e uma advogada”, ainda segundo a nota.
Na operação desta terça, a Polícia Federal cumpre no Brasil um total de 37 mandados de prisão preventiva, prisão temporária e de busca e apreensão no Rio de Janeiro, em Armação dos Búzios (RJ), na Grande São Paulo e em Ponta Porã (MS), na fronteira com o Paraguai. A inclusão de Cartes e outros residentes do Paraguai e dos Estados Unidos na ordem de Bretas foi autorizada pela Difusão Vermelha da Interpol. Entre os alvos também está a namorada de Messer, Myra de Oliveira Athayde, que foi detida nesta terça. Ela se estava em seu apartamento, em Ipanema, na Zona Sul do Rio.
Apelidado pelo doleiro Alberto Youssef de o doleiro dos doleiros, Dario Messer vem sendo monitorado desde os anos de 1990 pela Justiça. Ele havia se mudado definitivamente para o Paraguai em 2014, ano em que a Lava Jato começou. Contou com moradia fixa e cidadania do país vizinho. Até que, em maio de 2018, tornou-se alvo de um mandado de prisão em uma mega operação da Câmbio, Desligo, acusado de coordenar um esquema que movimentou 1,6 bilhão de dólares em 52 países. Na ocasião conseguiu fugir, mas finalmente foi capturado em julho deste ano.
“Irmão de alma”
O nome da operação se refere à forma que Messer reverenciava o ex-presidente do Paraguai. Cartes, um dos empresários mais ricos do país, é um velho conhecido do pai de Dario, Mordko Messer, que teria ensinado o ofício de doleiro ao filho. Durante evento do Congresso Mundial Judeu em Buenos Aires, realizado em março de 2016, Cartes afirmou ter sido acolhido por Mordko, a quem chamou de “segundo pai”, em um momento difícil de sua vida. “Deus colocou em meu caminho uma família e uma grande pessoa, que me acolheram em seus corações e sentimentos, e me fizeram sentir parte da família. Me ajudaram e me ensinaram coisas fundamentais. Eles ganharam meu eterno carinho de filho, minha gratidão e admiração”, disse o ex-presidente na ocasião. Em entrevista ao jornal local Última Hora, o paraguaio também chamou Dario de “irmão de alma”.
O doleiro chegou a participar de uma viagem oficial do presidente a Israel em 2013. Além disso, possui um imóvel no exclusivo Paraná Country Club, na cidade de Hernandarias, onde apartamentos valem mais de 200.000 dólares e uma casa alcança 1 milhão. De acordo com o jornal ABC Color, Cartes editou decretos em 2017 “para beneficiar seu ‘irmão’ Dario”, dentre eles o veto a um projeto que declarava o terreno do Paraná Club como sendo uma reserva natural.
Fonte: El País