Estudo do Instituto Trata Brasil com a BRK Ambiental faz parte da campanha ‘Outubro Rosa’, de atenção à saúde da mulher. Universalização do saneamento básico tiraria 630 mil mulheres da pobreza imediatamente.
Uma em cada quatro mulheres brasileiras não tem acesso adequado a água tratada, coleta e tratamento de esgoto, segundo estudo do Instituto Trata Brasil com a BRK Ambiental. Além disso, a universalização dos serviços de água e esgoto tiraria imediatamente 635 mil mulheres da pobreza, a maior parte delas negra e pobre.
“O saneamento e a vida da mulher brasileira” faz parte da campanha “Outubro Rosa”, de atenção à saúde da mulher, e se baseia em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e dos ministérios da Saúde, da Educação e das Cidades. O estudo tem o apoio do Pacto Global e da ONU Mulheres.
Segundo os dados mais atuais disponíveis, referentes ao ano de 2016, 27 milhões de mulheres (ou uma em cada quatro) não têm acesso adequado à infraestrutura sanitária no país, o que interfere em indicadores de saúde, educação, renda e bem-estar.
Na idade escolar, as meninas sem acesso a banheiro têm desempenho estudantil pior, com 46 pontos a menos em média no Enem quando comparadas à média dos estudantes brasileiros. O saneamento impacta também no ingresso ao mercado de trabalho, pois o acesso a água tratada, coleta e tratamento do esgoto poderia reduzir em até 10% o atraso escolar da estudante.
“A jovem que está em período escolar e não tem saneamento falta mais, aprende menos, consegue se dedicar menos aos estudos, pois tem que se dedicar a outras tarefas, principalmente ligadas à falta de saúde. Como ela tem menos frequência escolar, o desenvolvimento é menor”, afirma Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil.
“Uma menina no mesmo nível escolar, no mesmo bairro, mas com água e esgoto, tem desenvolvimento melhor na sala de aula do que a jovem atingida pelas doenças do saneamento”, diz Édison Carlos, do Instituto Trata Brasil.
Isso porque a falta de acesso a água tratada e a esgotamento sanitário é uma das principais causas de incidência de doenças diarreicas. Essas doenças levam as mulheres a se afastar 3,5 dias por ano, em média, de suas atividades rotineiras. O afastamento por esses problemas de saúde afeta principalmente o tempo destinado a descanso, lazer e atividades pessoais.
“A pessoa responsável pela saúde da família é a mãe. Não é o marido, não é o jovem, não é o idoso. Então, quando tem alguma doença, é a mãe que recebe os impactos, é ela que falta ao trabalho”, diz Carlos.
Meninas de até 14 anos são as maiores vítimas desse quadro, com índice de afastamento por diarreia 76% maior que a média em outras idades (132,5 casos de afastamento por mil mulheres contra 76).
Renda e saneamento
O estudo também aponta que 1,5 milhão de mulheres não têm banheiro em casa, e que essas brasileiras têm renda 73,5% menor em comparação a trabalhadoras com banheiro em casa.
Segundo Carlos, como as mulheres sem acesso a saneamento têm o aprendizado escolar prejudicado, a tendência é que elas ocupem cargos menos relevantes na cadeia profissional. Consequentemente, elas têm uma renda menor em comparação com quem tem acesso aos serviços.
“Esse tipo de pessoa atingida por falta de banheiro, que é uma classe mais pobre da população, trabalha muito com trabalho informal, como o de ambulantes. Quando elas faltam ao trabalho por causa de uma doença, elas têm uma queda de renda imediata. Não tem atestado”, diz Carlos.
O acesso ao saneamento traria um acréscimo médio de R$ 321,03 ao ano para cada uma dessas brasileiras, o que representaria um ganho total à economia do país de mais de R$ 12 bilhões ao ano, aponta o estudo.
Além disso, 635 mil mulheres sairiam imediatamente da pobreza com o acesso aos serviços de água e esgoto. Isso porque, segundo Carlos, o saneamento é um investimento transversal – ou seja, envolve diversas áreas da sociedade.
“Quando você melhora vários aspectos da vida, como educação, a pessoa pula de uma faixa de renda para outra e tem mais condição de se alimentar melhor, vestir melhor, ter um imóvel em uma área um pouco melhor. Ou seja, melhora o seu padrão de vida e sai dessa linha de pobreza mais absoluta”, diz.
Ritmo lento para a universalização
Segundo os dados mais atualizados do setor, de 2016, 83,3% da população brasileira é abastecida com água potável, o que quer dizer que os outros 16,7%, ou 35 milhões de pessoas, ainda não têm acesso ao serviço.
Quanto à coleta de esgoto, 51,9% da população têm acesso ao serviço. Já 48,1%, ou mais de 100 milhões de pessoas, utilizam medidas alternativas para lidar com os dejetos – seja através de uma fossa, seja jogando o esgoto diretamente em rios. Apenas 44,9% do esgoto gerado no país é tratado.
O Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), lançado em 2013 pelo governo federal, prevê alcançar a universalização do abastecimento de água e da coleta e tratamento de esgoto até 2033.
Segundo Carlos, porém, o país não tem conseguido investir o suficiente nos últimos 11 anos. Para cumprir esta meta, estudos do setor mostram que o Brasil necessitaria de investimentos da ordem de R$ 20 bilhões por ano. Em 2016, foram investidos R$ 11,5 bilhões. “A gente não investiu pouco. Só que não investiu o suficiente”, diz.