Sem Marina, campanha do PV será de vanguarda
Pré-candidato à Presidência da República pelo Partido Verde, Eduardo Jorge, 64 anos, promete que a campanha deste ano terá um programa de governo nada conservador. Ex-deputado federal por São Paulo, o médico sanitarista disse que defenderá tanto o aborto como a legalização de drogas. Ele afirmou que, com a saída da ex-senadora Marina Silva do PV, a legenda agora está livre para defender “ideias de vanguarda”.
Na candidatura de Marina à Presidência em 2010, o partido conseguiu 20 milhões de votos. Em entrevista ao Correio, Eduardo não respondeu se terá cacife para alcançar a marca das eleições passadas, mas garante que, além do plano de governo, pretende tomar atitudes diferentes da atual pré-candidata a vice-presidente pelo PSB. E, no caso de um segundo turno, o médico afirma que a legenda escolherá um candidato para apoiar. “Eu, pessoalmente, vou ter a mesma posição que eu tive em 2010. Eu fui o único na reunião com a Marina que foi contra aquela história de se omitir. Aquela posição infantil de dizer: ‘se o povo não botou a gente no segundo turno, não quero mais brincar’. Isso foi um erro.”
Além de deputado, Eduardo também exerceu o cargo de secretário de Saúde de São Paulo, quando Luiza Erundina foi prefeita, de 1989 a 1993, e na gestão da petista Marta Suplicy. Ele foi membro do Partido dos Trabalhadores até 2003. Já filiado ao PV, entre 2005 e 2012, a convite do então prefeito José Serra (PSDB), passou a responder pela pasta municipal do Meio Ambiente. Desde o fim de 2013, ele trabalha como médico sanitarista no governo paulista de segunda a sexta-feira. Nos outros dias, ele tem se dedicado aos encontros regionais do PV para discutir as diretrizes do plano de governo.
Três perguntas para Eduardo Jorge, médico e presidenciável pelo PV
Quais são as diretrizes principais para a campanha deste ano?
Às vezes, existe um estereótipo que quer nos prender a uma espécie de gueto verde, “esses aí são do partido da selva, da defesa da Amazônia, dos rios”. Mas o que nós queremos mostrar é que a sustentabilidade deve atravessar todas as outras diretrizes. A principal diretriz é essa: a sustentabilidade em todos os campos, para o equilíbrio socioeconômico ambiental, nesse diálogo com todas as outras políticas públicas. E a segunda diretriz é a necessidade de uma reforma política profunda no Brasil.
O senhor acredita que tem força para conquistar 20 milhões de votos como fez a Marina Silva na campanha de 2010?
Cada eleição tem sua história. Na outra eleição, era o PT versus PSDB. Todos os outros insatisfeitos vieram para a nossa campanha, porque éramos uma espécie de coligação PV com Marina. Marina se filiou ao PV, mas ela, na verdade, não era do PV. Marina é uma instituição, uma moça muito importante na área ambiental do mundo inteiro. Foi uma campanha belíssima. Pela característica do PV e da Marina, já que nós tínhamos o voto do ambientalista radical ao pastor mais reacionário.
O que terá de diferente nessa campanha?
O PV agora pode vir com o seu programa mais completo. Voltam as teses mais comportamentais que conflitavam com a visão conservadora e religiosa da Marina. Por exemplo, uma política mais inteligente para a questão das drogas. Queremos algo semelhante ao que Estado já faz com o álcool e o tabaco, em que ele (governo) explica que, se for usar, use muito pouco, com determinados cuidados. A partir dessa regulação, eu posso dizer: “em vez de você usar maconha, é melhor que se interesse por literatura, música, por observação de pássaros, vá passear na praia”.