Eduardo Jorge diz que é uma opção para o eleitor não votar apenas naquele que for o menos ruim
O entrevistado deste domingo (8) é o pré-candidato à presidência da República pelo Partido Verde, Eduardo Jorge (PV/SP), que esteve essa semana em Aracaju e conversou com o Correio de Sergipe. Na oportunidade, ele fala do desafio que terá pela frente, confirma sua pré-candidatura e diz que, para o eleitor, ela é uma alternativa para que não fique apenas votando no que é menos ruim. Ele critica o capitalismo e o socialismo dizendo que, apesar das diferenças dos modelos, eles não respeitam o Meio Ambiente. Ele também é defensor que o País tivesse um maior controle na administração da água, “ouro líquido” para o presidenciável. Ele entende que o petróleo é importante, mas é um recurso finito. Confira a seguir, e na íntegra, a breve entrevista concedida por Eduardo Jorge:
CORREIO DE SERGIPE: Falando inicialmente, sobre a sua pré-candidatura à presidência da República. O senhor pretende mesmo levar esse projeto adiante?
EDUARDO JORGE: O PV viu que era importante, um partido que tem ideais, que trouxe a discussão da necessidade ao respeito ao Meio Ambiente no Brasil, que o socialismo e o capitalismo não pensassem só em economia. Que respeitassem os limites do Meio Ambiente, pois eles eram finitos. Isso é uma coisa muito nova. Tem apenas 30 anos que o PV veio para o Brasil e, durante todo este tempo, o partido tem segurado esta bandeira verde com bastante galhardia. E agora, com o apoio da ONU, com a tese do Desenvolvimento Sustentável de 1992, o PV se fortaleceu mais ainda. Com as evidências do Aquecimento Global e outras teses, que eram minoritárias, passam a ter um espaço maior na opinião pública, nos empresários, junto aos trabalhadores e donas de casas, além dos outros partidos. O PV avalia que ainda é a melhor força para as ideias Ambientalistas do Brasil. Portanto ele precisa ficar à frente. O cidadão tem que ter esse direito no 1º turno. Ele não pode ficar com a opção de votar apenas naquele que for o menos ruim. A candidatura é para valer!
CS: E, como todo pré-candidato à presidência da República, o PV tem conversado com outras legendas em busca de alianças?
EJ: As três grandes candidaturas já contam com grandes apoios de empresas, construtoras, estruturas sindicais poderosíssimas, de trabalhadores e patrões, e até estatais. Essas três pré-candidaturas atuam como aspirador de pó, ou seja, levam todos os partidos. São critérios do poder econômico, da força. A força do nosso partido, do PV, são as nossas ideias. A avaliação nossa é que se o Partido Verde precisar ir sozinho, ele irá porque antes só do que mal acompanhado.
CS: Agora como o senhor acompanha a política de desenvolvimento focada para o Meio Ambiente do governo da presidente Dilma Rousseff?
EJ: Não só a Dilma, que a gente às vezes acaba cometendo injustiças. De uma maneira geral, os partidos no Brasil ainda caminham muito no modelo antigo. Eles dão muita importância à área econômica e à área social, que todos os governos contribuíram para avançar, é verdade. Na ditadura não tinha essa preocupação social. Mas os governos do PSDB e do PT não dão a devida importância a questão ambiental. Ela entra como se fosse um item a mais, quando na verdade esta é uma questão central. A economia, justiça social e o respeito ao Meio Ambiente devem ficar na mesma altura, com o mesmo nível de importância. É claro que a economia tem que caminhar, tem que ter trabalho e o trabalhador tem que levar o pão para casa e ter o direito de construir sua casa longe de uma área de risco. Tem que se buscar acabar com esse abismo entre riqueza e pobreza no Brasil. Houve avanços, mas o Brasil segue desigual. Como os recursos são finitos, se esta geração não cuidar, nossos netos e bisnetos não vão ter a qualidade de vida que eles merecem. Essa é uma crítica que fazemos a todos os partidos de matriz capitalista e socialista. São diferentes em vários aspectos, eles não respeitam o Meio Ambiente. O PV vai focar nisto: a crise climática existe, o Aquecimento Global é grave e nós temos que mudar o modelo energético, o modelo de construir as cidades porque o Brasil tem que enfrentar o planeta e enfrenta a crise climática.
CS: O senhor não acha que falta ao governo do Estado desenvolver uma política de incentivos para empresas que investem no Meio Ambiente?
EJ: As empresas têm que se moverem por elas mesmas! E o governo tem que ter sim sua política econômica voltada para o Meio Ambiente. Porque se eles quiserem sobreviver no mundo futuro, onde a sustentabilidade será ainda mais exigente, elas têm que começar desde já. As grandes multinacionais começam a se mover! Elas têm os relatórios dos cientistas e estão vendo a escassez de recursos e estão se planejando para tudo. As grandes petrolíferas, principais responsáveis pelo Aquecimento Global e da degradação do Meio Ambiente, estão se transformando em empresas de energia. Continuam investindo em petróleo que vai perder a importância e que será usado ainda por um tempo. Mas vai focar mais em energia solar, eólica e de etanol. Tem empresas estrangeiras investindo em etanol no Brasil. E por isso que é importante o governo criar um ambiente econômico, caso contrário, as grandes empresas não vão sobreviver, vão viver assim até quando der.
CS: Como é que o senhor tem acompanhado os riscos destes apagões e de falta de água em São Paulo?
EJ: A questão climática já começa a cobrar seu preço. As secas sempre existiram. A gravidade é que isso começou a acontecer fora da normalidade. Já é uma cobrança de mudanças climática e o Brasil não está preparado para isso. O nosso País não fez o planejamento adequado para isso. O modelo das grandes Hidrelétricas não tem como avançar. Na Amazônia temos áreas problemáticas. O Brasil já devia estar investindo em energia eólica e, principalmente, na energia solar. O nosso País segue focado em grandes Hidrelétricas.
CS: E qual a tramitação da obra de transposição de parte das águas do Rio São Francisco, para o Nordeste Setentrional em um governo do PV?
EJ: No século 20 o “ouro líquido” era o petróleo. No século 21 o “ouro líquido“ será a água. Hoje quem descobre petróleo, se lambuza. O petróleo não vai acabar assim, mas sua importância vai diminuir. A água para a agricultura, para as indústrias, para as cidades. O controle dela terá que ser cada vez mais rigorosamente compartilhado e racional. Tem que ter eficácia, evitando qualquer desperdício. Israel pegou um deserto bíblico e, com um gotejamento, ele fora transformado em produção de laranja para exportação. A administração da água tem uma importância maior que a administração do petróleo. No Brasil isso é feito de uma forma muito amadora ainda. No caso do Velho Chico, como não houve uma preservação das nascentes e afluentes, alguns Estados se sentem prejudicados. É preciso avançar nas proteções, na recuperação do rio, mas tem que reconhecer que é preciso levar a água para os irmãos dos outros Estados.
CS: E quanto à rodovia transamazônica? Sai do papel no governo do PV?
EJ: Aí é outro padrão! Há décadas que o Brasil entende que administrar é priorizar a indústrias automobilísticas. O próprio PT nasceu nas grandes montadoras e hoje ainda é muito ligado a elas. Qualquer espirro das fábricas de automóveis, eles correm no ABC para dar subsídios e evitar que os estoques fiquem nas fábricas. No caso da Amazônia eu estive lá e onde o transporte marítimo é sensacional, mais econômico e mais eficiente. E a Amazônia não aproveita isso. Eu sou muito mais a favor que se tenha hidrovias mais organizadas. Outra alternativa que o Brasil deixou de lado foram as ferrovias.
“Os governos do PSDB e do PT não dão a devida importância à questão ambiental. Ela entra como se fosse um item a mais, quando na verdade esta é uma questão central”
Eduardo Jorge | Pré-candidato a Presidente da República
A QUESTÃO CLIMÁTICA JÁ COMEÇA A COBRAR SEU PREÇO. AS SECAS SEMPRE EXISTIRAM. A GRAVIDADE É QUE ISSO COMEÇOU A ACONTECER FORA DA NORMALIDADE
Fonte : Correio de Sergipe