Por meio de palestras e dinâmicas, evento fez um resgate da formação do PV e do espírito de mobilização com a leitura do manifesto escrito em 1986 e levou importantes reflexões aos dirigentes atuais
Durante dois dias e meio de evento (22, 23 e 24/10), em um hotel fazenda próximo à Brasília e cerca de 200 participantes, entre membros da Fundação Verde Herbert Daniel (FVHD) e do Partido Verde (PV) de todo o Brasil, “Ver de Novo” abriu o ciclo de palestras com a inspiradora fala de Guido Guelli e David Sion, dois dos fundadores e vanguardistas do PV, fazendo um relato da biografia do Partido com histórias de mobilizações partidárias intensas para a sua legalização como partido político. Demostrando a força e a atualidade do primeiro programa partidário escrito em 1986, Sion fez a leitura do manifesto e protagonizou um dos momentos mais marcantes do evento. Segundo o veterano, “o programa do PV deve ser muito bem trabalhado com os filiados e candidatos para que todos saibam do que se trata o ideário verde e trabalhem em comunhão”.
Para finalizar a noite do dia 22, os participantes do evento puderam conhecer o projeto “Aflorando” da pianista Jaci Toffano, no qual foram interpretados sucessos de artistas eruditos e populares, tocando de Mozart a Tom Jobim. O projeto “Aflorando – piano na praça” está percorrendo o Brasil para apresentar às mais diversas pessoas músicas tocadas em um instrumento visto quase que exclusivamente em concertos. Segundo Jaci, “tocar para o grande público nas ruas é muito caloroso”.
Dando continuidade às atividades, a primeira palestra de sexta-feira (23), “Ego sistema X Eco sistema”, ministrada por Myrthes Weber da Fundação Getulio Vargas (FGV), fez um alerta para a maneira com a qual estamos consumindo o planeta. Segundo Myrthes, “é preciso mudar a relação da sociedade com o meio ambiente. O que percebo é uma desconexão entre a sociedade e a coletividade, o todo”. Outra constatação apresentada pela palestrante é de que, apesar das pessoas consumirem cada vez mais, o que faz com que a produção de bens também aumente, assim como a poluição, o bem estar social não tem aumentado na mesma proporção, pelo contrário, “o número de pessoas com doenças psicossociais e o número de suicídios tem aumentado cada vez mais”, alertou Myrthes.
Em uma apresentação entusiasmada, Carlos Augusto Costa, presidente do Partido Verde de Pernambuco, apresentou a palestra “Repensando o futuro”, e lembrou que a participação dos candidatos no cotidiano das pessoas é fundamental para entender quais são suas dificuldades. “Encontrar as pessoas, escutá-las, entender o que está acontecendo em cada canto da cidade é fundamental para que haja avanço na participação do PV no processo político brasileiro”. Segundo Carlos, a população precisa se sentir representada para voltar a acreditar nos partidos políticos. Segundo pesquisa apresentada por Carlos, o nível de engajamento em causas ambientais no Brasil é alto, o que falta são ações concretas que promovam maior participação dessa população.
Ainda na sexta-feira, Marcos Sorrentino, professor da Universidade de São Paulo (USP), ministrou a palestra “Ecologia Política e alternativas para o planeta”. Segundo Sorrentino, a questão ecológica deve ser “ampliada a níveis de educação social”. Para tanto, é preciso educar os adultos para que as crianças sejam realmente educadas. Uma das estratégias educadoras, para ele, é “tomar um banho de realidade para aprender com os olhares diversos da população”.
De acordo com Marcos Sorrentino, na década de 80, época da formação do PV, Fernando Gabeira foi responsável pela mudança comportamental no âmbito ambiental, no entanto, até hoje a população ainda não é educada para pensar de maneira coletiva o meio ambiente. Para Marcos, proporcionar a mudança cultural permanente, articulada e totalitária é fundamental para a mudança na mentalidade. “O conhecimento tem que vir de todos os meios de comunicação e acumular forças para a mudança educacional de um todo”, completou.
Finalizando a noite de sexta-feira, o presidente do Partido Verde (PV), José Luiz Penna, recebeu de David Sion o manifesto do PV escrito em 1986 e afirmou que “política é dialogar com o futuro”. Segundo Penna, o PV deve ser a referência para a saída da crise política no Brasil. “Dentre as tragédias dessa crise de representatividade, a qualidade de vida dos brasileiros ficou comprometida com essa opção desastrosa do governo de implementar a indústria automobilística, estimulando o uso do transporte individual e ocasionando congestionamento horrendos”. “Agora é a hora do PV no Brasil e do ideário verde”, finalizou sua fala durante o encontro “Ver de Novo”.
Já no sábado e aplaudido de pé pelos participantes, Eduardo Jorge, ex-candidato à presidência pelo PV, fechou o ciclo de palestras na tarde do dia 24 e elencou 12 pontos principais observados ao longo do encontro. Segundo Eduardo, “o PV é um partido de caráter democrático, pacifista e revolucionário” e destacou a importância do programa partidário do PV, “o programa é a marca do partido e o filiado deve conhecer os princípios e estuda-lo”.
Outro ponto colocado por Eduardo foi a respeito da transparência das negociações partidárias e o uso dos recursos. “O PV não é o partido da democracia secreta, as pessoas têm que saber como o dinheiro entra e sai, quais alianças o partido fez ou deseja fazer. Não pode haver opacidade das estruturas dos recursos e das negociações partidárias”, enfatizou.
A comunicação também foi lembrada por Eduardo como uma importante ferramenta para um partido democrático. “A comunicação deve ser muito bem montada a nível nacional e em cada estado e município também deve ser organizada, afim de deixar a população dessas pequenas cidades antenada”, enfatizou.
Dinâmicas – Ao longo dos dias do evento “Ver de Novo”, várias dinâmicas foram promovidas para que os integrantes pudessem interagir uns com os outros, conhecer novas ideias e debater sobre temas relacionados ao bem estar comum. A dinâmica de Dança Circular chamou a atenção de diversas pessoas que, nas manhãs de sexta e sábado, puderam se conectar com a música, aprenderem novas danças e se divertirem. Outra dinâmica interessante, chamada brainstorm, fez com os dirigentes pensassem em questões consideradas por eles próprios como essenciais para o partido.
O Encontro “Ver de Novo” foi uma importante iniciativa da Fundação Verde Herbert Daniel (FVHD), com o apoio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que teve como objetivo promover a formação política dos dirigentes verdes do Brasil e fazer com que todos reflitam sobre ações concretas para a mudança no cenário político brasileiro e maior participação nos espaços de poder.
por Larissa Itaboraí