Com a maior parte da economia parada no Brasil nas últimas semanas, como forma de evitar o colapso do sistema de saúde durante a pandemia de covid-19, uma atividade não se intimidou com o novo coronavírus. Os alertas de desmatamento da Amazônia tiveram uma alta de 30% no mês de março ante o mesmo mês no ano passado, passando de 251,42 km² para 326,51 km². Os dados são do sistema Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que traz orientações para a fiscalização do Ibama sobre onde a motosserra está ativa.
O Deter não serve como dado definitivo do destamento porque, por ser uma análise mais rápida, às vezes é também meio míope, principalmente por causa da presença de nuvens, particularmente mais comuns nessa época do ano, quando ainda chove bastante na região. Mas o sistema é um indicativo do que vai deve ser revelado depois pelo Prodes, que traz o número oficial de quanto foi a devastação da floresta no período de agosto de um ano a julho do ano seguinte.
No ano passado, foram os indicativos trazidos pelo Deter que mostraram que o primeiro ano da gestão Bolsonaro estava vendo uma retomada preocupante do desmatamento, o que acabou levando à queda do então diretor do Inpe, Ricardo Galvão. As queimadas que chamaram a atenção de todo o mundo em agosto revelaram que havia uma quantidade enorme de floresta previamente derrubada que naquela ocasião pegava em fogo. Em novembro, o Prodes bateu o martelo: o desmatamento havia subido quase 30% no ano.
Agora o Deter indica que no acumulado de 1º de agosto de ano passado a 31 de março deste ano a Amazônia já perdeu 5.315 km². O mesmo período de oito meses entre 2018 e 2019 somava 2.661 km² – alta de 99%. Como já vem ocorrendo nos últimos anos, o Pará lidera o desmatamento, com 42% da perda acumulada. O Estado teve uma alta expressiva em março, passando de 32,7 km² no ano passado para quase 121,8 km² neste ano, uma elevação de 272%.
Na quinta-feira, ao Estado, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), disse que pediu apoio ao federal imediato. “É um volume assustador de desmatamento. Se não houver uma medida drástica e imediata de fiscalização, não haverá mais tempo. Vamos ter um ano de 2020 pior que o ano passado”, disse.
Na ocasião, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, alegou o que já vinha dizendo desde o ano passado, que os dados do Deter são apenas uma referência. Até hoje ele não apresentou aos técnicos do Inpe as supostas inconsistências que ele diz ter encontrado.
Com o início da temporada seca a partir do fim de maio, em geral o corte raso da floresta cresce ainda mais. A não ser que a fiscalização se torne muito mais efetiva, nos próximos meses, a taxa anual deve ser ainda pior que a do ano passado.
Fonte: Estadão