Um dos fundadores do Partido Verde no Brasil, ex-presidente da Fatma e atual coordenador de Gestão Ambiental na UFSC. Aos 60 anos, Rogério Portanova carrega uma história pessoal dedicada ao meio ambiente e à sustentabilidade. Não à toa, foi escolhido pela Rede como o candidato ao governo do Estado e principal porta-voz da presidenciável Marina Silva em Santa Catarina. Com três eleições em seu currículo (duas à prefeitura de Florianópolis, em 1996 e 2000 e uma ao governo estadual, em 1998), Portanova volta à disputa majoritária com um discurso que, para ele, está cada vez mais em evidência. Até por isso escolheu a palavra “sustentável”, como a que define a sua candidatura e o que quer para SC caso seja eleito.
PERFIL
Nascimento: 22/7/1958
Natural de: Porto Alegre (RS)
Profissão: Advogado
Escolaridade: Superior
Carreira política: Nunca foi eleito para cargo público
Veja o vídeo acessando ao link da matéria: Diário Catarinense
Confira a seguir a entrevista com o candidato:
O senhor foi candidato em 1998 para o governo, na época pelo PV. O que muda daquela candidatura para essa?
Há 20 anos o discurso ambiental era um discurso quase marginal, que as pessoas davam pouca atenção. Hoje é contrário. Ele está no centro do debate internacional. O discurso do aquecimento não é um discurso de ambientalista, é um discurso da ciência, que mostra como o desenvolvimento da sociedade industrial levou ao esgotamento dos recursos naturais e que pode fazer com que a sociedade entre em colapso. Para isso existem várias alternativas e que estão no nosso plano de governo, como por exemplo uma nova matriz energética, um novo modal de transporte. Não dá para ficar no transporte rodoviarista da maneira com que nós o conhecemos e ficar dependendo de um único combustível fóssil que é o petróleo.
E como o senhor pretende mudar isso no âmbito de um Estado da federação?
Em primeiro lugar o Estado faz parte de uma federação, que faz parte de um sistema internacional. A primeira coisa é buscar os bons projetos a nível internacional, como por exemplo fazer a transição da nossa energia para energia solar, energia eólica, e hoje infelizmente no Brasil nós temos as grandes empresas de energia impedindo que se venha a ter essa energia pessoal, solar. Se nós chegarmos ao governo, haverá a isenção para adoção de energias que tenham baixo impacto de carbono, colaborando para o desenvolvimento de sustentabilidade na área energética e contra o impacto que as grandes barragens têm.
O assunto meio ambiente veio à tona, como o senhor falou, mas isso não significa necessariamente emplacar partidos como a Rede e o PV. Como o senhor pretende deslanchar a candidatura daqui até outubro?
Olha, não sei. François Mitterrand levou 16 anos para ser presidente da França tentando várias eleições. O Lula levou três eleições até virar presidente. Como nós estamos em um tempo mais rápido, a Marina só vai precisar perder duas eleições para ser presidente. Nós temos um partido que tem três anos e que pode eleger a próxima presidente do Brasil. Isso mostra que nós estamos em um impasse. De um lado as forças do retrocesso, que podem levar o país à barbárie. Do outro lado as forças da civilização, que pode pensar em inovação tecnológica, em cidadania integrada, e principalmente em diversidade cultural. Se tem um lugar que tem diversidade, é na Rede Sustentabilidade.
Em SC, quais seriam essas forças do retrocesso?
Aquelas que ainda questionam os valores da democracia, que ainda advogam pela volta da ditadura militar, que têm observado as questões de gênero e de sexualidade como uma espécie de desvio. Ou seja, todos aqueles que não admitem os avanços dos movimentos sociais. Socialismo acho que contribuiu muito para que nós discutíssemos o mundo do trabalho. Mas hoje existe o mundo da mulher, dos costumes, dos indígenas. Tudo isso nós estamos abarcando e trazendo como essa pluralidade necessária para a transformação da sociedade e para que a democracia seja aprofundada e não para que haja um retrocesso. E por outro lado nós temos também aqueles que apenas trocam de lugar, hora estão com um, hora estão com outro. E é exatamente esse o quadro que nós vemos em SC. Os mesmos de sempre, aqueles que fizeram a crise, e que não vão tirar nem o Estado, nem o país da crise. Vai ser preciso votar diferente, pensar diferente, e ter uma alternativa. Acredito que esse seja o nosso papel.
O senhor citou a candidatura da presidenciável Marina Silva. Nas duas vezes em que ela foi na disputa ficou na faixa dos 20% dos votos, uma candidatura de peso nacionalmente, e ficou abaixo disso em SC. As ideias de Marina Silva têm mais dificuldade de penetração aqui?
Acredito que há de um lado um desconhecimento e do outro uma articulação política que não se permitiu conhecer efetivamente a candidata. Em 2010 foi Rogério Novaes o candidato a governador que não concorreu pela Ficha Limpa, ganhou 0% dos votos e praticamente escondeu a candidatura dela. Em 2014, o PSB fechou com o Paulo Bauer e o candidato era efetivamente Aécio Neves. Pela primeira vez, existe uma candidatura que assume integralmente os valores, os projetos, os princípios de Marina Silva, e que pretende reproduzir esses 13%, 14% aqui no Estado. Com isso a gente vai cumprir com a cláusula de barreira e eventualmente mesmo com um número pequeno de candidatos fazendo uma campanha pelo programa, fazer o voto de legenda necessário para chegar à Assembleia Legislativa e à Câmara dos Deputados. Essa é a grande diferença. Não existia uma perfeita harmonia entre as candidaturas estaduais e a candidatura de Marina Silva. Hoje nós acreditamos que estamos em perfeita harmonia e nos diferenciamos de todos os demais candidatos. A única proposta que tem como base a sustentabilidade é a nossa. O resto é o mesmo de sempre.
Uma candidatura com chapa pura, poucos meses para trabalhar daqui até outubro. Como a Rede vai trabalhar daqui até a eleição?
A minha avó já dizia: antes só do que mal acompanhado. Nós estamos muito bem porque a grande aliança que nós fizemos foi com as ONGs, com os movimentos sociais e com a sociedade em geral. A Rede Sustentabilidade é talvez o partido que tem o maior número de candidatos cidadãos. Nós temos candidatos do meio ambientalista, lá de Blumenau, por exemplo. Nós temos candidatos indígenas, que vieram do movimento das mulheres, da luta da negritude. Diversos movimentos sociais incorporaram a Rede, sem fazer parte organicamente do partido. Estamos antecipando o que já vai ser lei a partir de 2020. A grande aliança que nós fizemos: primeiro, com a sociedade civil organizada. A segunda a gente espera ser com o povo catarinense que mais de 50% ainda não escolheu seu candidato e que tem o mesmo nojo e a mesma indignação com a política que nós temos. A gente, como os demais, vai procurar esse candidato que ainda não tem voto.
Fonte: Diário Catarinense