Em vez de Lava Jato, a operação se chama Coffee Break. No lugar de “pixuleco”, o apelido da propina é “cafezinho”. E quem se diz “golpeado” é um prefeito que foi cassado e voltou ao cargo após decisão da Justiça.
Nesse cenário de acusações e investigações, Campo Grande (MS) terá a eleição com a maior quantidade de candidatos a prefeito do Brasil. A capital de 860 mil habitantes tem 15 concorrentes.
As pesquisas, no entanto, apontam que a disputa direta acontecerá entre três: o deputado estadual Marquinhos Trad (PSD), a vice-governadora Rose Modesto (PSDB) e o prefeito Alcides Bernal (PP).
O favorito no primeiro turno é Trad, que vem de uma família tradicional da política sul-mato-grossense, mas rejeita o rótulo de candidato do clã. “A minha família nunca ocupou cargo público por nomeação, todos concorreram e submeteram o nome à eleição”, diz.
A vice-governadora vem em segundo lugar, com o discurso de gestora e de fazer “uma nova política”. Investigada na Coffee Break, é alvo de ataques tanto de Trad quanto de Bernal. Ao se defender, ela alega que nunca sofreu processo, denúncia ou condenação.
A operação, deflagrada em 2015 pelo Ministério Público do Estado, é o tema mais discutido da campanha, principalmente pelo prefeito Alcides Bernal. Eleito em 2012, foi cassado com menos de um ano e meio de mandato por 23 dos 29 vereadores –inclusive Rose Modesto, que tinha assento na Câmara Municipal.
O processo dizia que o prefeito forjou situação de emergência para fazer licitações. Bernal nega as acusações, mas ainda responde por elas na Justiça. Em seu lugar, assumiu o vice Gilmar Olarte (sem partido, então no PP).
No entanto, com ajuda de escutas telefônicas, a Promotoria apurou um suposto esquema de compra de votos para destituir Bernal. Olarte, segundo o MP, fazia parte do conluio. Ele está preso preventivamente desde agosto.
Em maio, foram denunciadas 24 pessoas, inclusive o ex-prefeito Nelson Trad Filho (PTB), irmão de Marquinhos. Seu advogado, César Maksoud, nega as irregularidades.
De volta ao poder, Alcides Bernal diz que sofreu um “golpe” dos adversários e que a proliferação de concorrentes é uma tentativa de desgastar sua candidatura.
Para o analista político Eron Brum, o motivo da quantidade de candidatos é outro. “Eles estão negociando e vão pender no segundo turno para quem chegar com mais votos ou oferecer melhores condições no governo”, diz.
Segundo Brum, se Bernal for para o segundo turno, estará enfraquecido. A cassação, diz o analista, aconteceu porque o prefeito é pouco afeito ao diálogo e não conseguiu construir uma base fiel.
Rose Modesto concorda. Ela insiste que as contratações de Bernal foram irregulares e afirma que, se eleita, irá “trabalhar em equipe”.
“Eu dialogo em qualquer momento desde que seja para o interesse público. Com bandido é que não dá para conversar”, rebate Bernal.
A reportagem procurou a defesa de Gilmar Olarte, que não se manifestou.
Folha de São Paulo