A democracia brasileira respira e anda. Conversando com um artesão que fabrica selas em uma pequena fábrica numa cidade do alto da serra da Mantiqueira ele me disse: “Pelo menos uma coisa está valendo nestes sofrimentos atuais, o povo está prestando mais atenção na política.”
Foi assim no domingo, 17/4/16. Nas casas, nos bares, nas ruas, nas praias, um dia inteiro de política. Milhões acompanhando a votação no Congresso.
Muita gente ficou impactada com o espetáculo político/midiático da discussão e votação nominal. Muita gente viu ao vivo pela primeira vez quem são seus representantes eleitos para o parlamento mais importante do Brasil. Muita gente ficou impressionada como eles podem ser limitados, raivosos, folclóricos, espontâneos, hipócritas, simplórios, repugnantes, espertalhões vulgares, etc. Mas também viu gente digna se esforçando por fazer bem o seu papel. Por exemplo, o deputado do PMDB Jarbas Vasconcelos com sua coragem e solenidade bem pernambucana ou a deputada Luiza Erundina com sua austeridade e simplicidade bem sertaneja.
Alguns criticaram a ênfase nas famílias e religiões. Sugiro um desconto na reprovação afinal o povo do Brasil é muito assim.
Enfim um espetáculo bem brasileiro mais para festa e futebol do que para uma formal e afetada assembléia britânica.
Além disto, é preciso ter a exata noção que aquele domingo era um episódio final de uma longa novela jurídica/política na Câmara Federal seguindo sempre um ordenamento totalmente constitucional. E isto é marcante no Brasil.
Agora vamos para o Senado. Serão alguns meses para saber o destino de um projeto político que virou um projeto de poder a qualquer custo.
Se em maio/2016 a resolução da Câmara for acolhida pelo Senado teremos um novo período jurídico/político que deve durar 6 meses. Pelo menos neste tempo teremos um governo provisório após o Brasil ter ficado praticamente 15 meses sem governo nenhum. Melhor um governo provisório democrático que possamos apoiar ou se opor do que governo nenhum.