Em entrevista concedida à assessoria de comunicação da liderança do Partido Verde da Câmara dos Deputados, Eduardo Jorge fala sobre a medalha do mérito legislativo, recebida na última quarta-feira, e sobre eleição, reforma política, partido e meio ambiente.
Eduardo, qual o significado dessa condecoração?
EJ: Receber a medalha do mérito legislativo, para mim, tem um caráter até afetivo, dada a minha relação com o Congresso Nacional. Minha passagem pelo Congresso, por quatro mandatos, inclusive como deputado constituinte, contribuiu significativamente para a minha evolução de oposição socialista totalitária para oposição socialista democrática. Aprendi a conviver e debater com diferentes e receber a pressão da sociedade civil, que nem sempre coincide com as nossas posições. Para mim, esses 16 anos na Câmara Federal foram fundamentais para minha formação pessoal e política. Eu credito, inclusive, a esse meu comportamento de aceitar o debate democrático, o fato de ter conseguido aprovar projetos importantes para a sociedade brasileira, mesmo sendo durante todo esse tempo oposição ao governo.
Quais seus planos para o próximo ano e para as eleições de 2016?
EJ: Vou continuar trabalhando como médico sanitarista da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, onde sou concursado há 38 anos. No meu tempo livre, estarei à disposição do Partido Verde para ajudar na formação política, principalmente, no que diz respeito ao fortalecimento do partido nos municípios. Eu acredito que o foco institucional do PV deve ser em nível local. É nos municípios, com os vereadores, prefeitos e movimentos sociais, que o PV tem mais chance de se enraizar. Este é um dos pontos importantes do nosso programa, que eu, inclusive, fiz questão de ressaltar durante a campanha para presidente da república. Quando eu dizia que defendia mais Brasil e menos Brasília, significava justamente isso: a diminuição do centralismo do governo federal sobre todo o brasil. A eleição de 2016 será o momento para o Partido mostrar a importância que atribui à vida política no município, pois é onde teremos condições de alcançar cargos eletivos no executivo e fazer experiências exemplares de governar verde. Teremos a oportunidade de eleger vereadores de qualidade, que levarão nossas políticas para o parlamento local e, tão importante quanto, fortaleceremos o nosso contato com os movimentos sociais.
O que o senhor espera da proposta de reforma política e o que considera importante ser aprovado?
EJ: A proposta que existe hoje no Congresso não passa de remendos. O Partido Verde defende uma proposta muito mais abrangente, de longo prazo. Defendemos o voto facultativo, o parlamentarismo, o voto distrital misto, o financiamento público de campanha, a suspensão do financiamento de campanha por empresas privadas e o fim da remuneração para vereadores. Esta proposta, inclusive, seria uma forma de atrair vocações para servir e não vocações para construir uma carreira política de ascensão social, de lobismo, como é hoje, infelizmente, muito forte na política brasileira.
A bancada do PV na Câmara, apesar de pequena, trava importantes batalhas em defesa das questões socioambientais. Como o senhor avalia esse trabalho e, em sua opinião, quais serão os principais desafios dos verdes na próxima legislatura?
EJ: É claro que gostaríamos de ter elegido mais deputados, pois também queremos quantidade. Contudo, eu acredito que o mais importante nós possuímos, que é qualidade, coerência e competência. O PV, no mundo todo, por ser um partido de vanguarda, de ideias avançadas, não dá para ser um partido grande, hegemônico. Na Alemanha, onde o Partido possui sua maior força no mundo, tem apenas 6 % dos votos e, no entanto, impulsionou grandes mudanças, influenciando tanto os partidos conservadores quanto os partidos sociais-democratas, que colocaram o país na vanguarda do desenvolvimento sustentável.
Na próxima legislatura, é importante que a bancada, se for aderir a um bloco, que seja um bloco coerente, onde possamos avançar na questão da sustentabilidade e adotar uma postura de oposição independente, equilibrada e construtiva.
O acordo nuclear Brasil/Alemanha não foi suspenso, como reivindicaram os verdes brasileiros, da Alemanha e de todo o mundo. Qual o significado da manutenção desse acordo?
EJ: É tradicional a oposição do Partido Verde, no mundo todo, à fonte nuclear como fornecedora de energia. Principalmente pela insegurança, pois, quando existem desastres, e eles existem, uma vez que nenhuma engenharia atômica garante segurança absoluta, eles põem a perder todos os investimentos e deixam prejuízos inomináveis. Foi assim nos Estados Unidos, em Chernobyl e no Japão. Então eu pergunto: por que o Brasil, que tem um potencial de energia renovável extraordinário, quer apostar numa fonte de energia tão insegura como essa? Foi lamentável não termos colocado fim nesse acordo, que é da época da ditadura militar e que demonstra, embora muito escondido, o desejo de setores brasileiros de desenvolver a bomba atômica.
Do ponto de vista da Alemanha, o que aconteceu foi um comportamento oportunista dos Partidos Social Democrata e Conservador. O PV Alemão defendeu uma posição coerente: se nós estamos fechando nossas usinas, por que vamos estimular que o Brasil, através de um acordo com nosso país, mantenha usinas e até construa outras? Contudo, o governo alemão se apoiou em um argumento malicioso, argumentando que, se o próprio governo do Brasil não quer romper, porque a gente vai romper? Pelo menos, poderemos dar algum tipo de assessoria na área de segurança.
Fonte: Comunicação Lid/PV
Foto: Paula Laport/LidPV