Um artigo publicado hoje na edição internacional do New York Times problematiza a questão da aceitação do mercado financeiro ao acordo que surgirá da COP-21. Apesar dos inúmeros desejos de que o combate à crise climática seja uma iniciativa para salvar o planeta, O NYT avalia que a reação do mercado será fundamental para o sucesso do acordo.
Os combustíveis fósseis movimentam 80% da economia mundial. As companhias de carvão, petróleo e gás possuem um valor de mercado de mais de 5 trilhões de dólares, enquanto as energias renováveis possuem um valor de pouco mais de 300 bilhões.
John Kerry, o principal negociador americano na COP, avalia que isso deve se inverter numa espécie de ajuste de mercado, onde as empresas de energia renováveis terão um “mar de oportunidades” para reverter esse quadro.
A crise climática deveria ser um excelente momento para a Humanidade repensar suas formas de produção e consumo e retomar a vida pública das mãos do famigerado “mercado”. Mas por enquanto, isso está mais na esfera dos nossos desejos do que no campo da realidade.
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As partes não chegaram a um acordo ainda, que era previsto para hoje. A França vai apresentar novo texto de acordo amanhã, às 8h local. O texto apresentado ontem tinha reduzido os pontos de divergentes de 900 (!!) para 50. O negociador da França se diz otimista e confiante. John Kerry, dos EUA, se mostra menos confiante.
Eu imagino que o acordo sairá, mas que será muito mais genérico do que deveria. Mas se a meta de não se aumentar mais de 2 graus a temperatura global até 2050 for garantida, é algum avanço. O ideal seria que o texto contivesse uma meta que falasse de 2 graus para baixo, com as partes revisando suas metas a cada ano.
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Como prometido, a íntegra do texto apresentado pela Federação dos Partidos Verdes das Américas (FPVA) para a COP-21. A vice-governadora do Tocantins, Claudia Léllis esteve presente e também apresentou para a Global Greens as contribuições do seu estado na luta contra a crise climática:
Carta Verde das Américas
Os Verdes das Américas têm demonstrado grande vitalidade, como resultado de sua complexidade histórica e multicultural – um produto do centenária encontro entre os povos autóctones e cultura ocidental. Esta diversidade multicultural e complexidade histórica estão se tornando a própria alma do movimento ambientalista. Nas Américas, ainda existem diversos mega ecossistemas e espaços naturais que regulam o clima. Este tesouro e do patrimônio natural é protegido pelos Partidos Verdes da região.
Três dos mais poderosos Partidos Verdes do mundo podem ser encontrados na Federação dos Partidos Verdes das Américas: os Partidos Verdes do Brasil, Colômbia e México representam mais de 6 milhões de eleitores juntos. Além de ocupar diversos cargos oficiais dentro de seus governos, tanto no nível executivo quanto legislativo, estes partidos têm sido uma força motriz na implementação das agendas ambientais em seus respectivos países. É precisamente por isso que esses três partidos – México, Colômbia e Brasil – atualmente regem a Federação dos Partidos Verdes das Américas, uma organização internacional composta por 13 partidos na região. A FPVA foi criada em 1998 e durante 17 anos, tem apoiado o fortalecimento da política ambiental no continente.
A Federação considera que o aquecimento global não será controlado reduzindo parcialmente as emissões de CO2. Na verdade, consideramos que o mínimo necessário para estabilizar a situação global do clima deva ser um plano de emissões de gases que permita não mais do que 1,5 graus acima da temperatura média global. No entanto, acreditamos que a situação não possa ser controlada se a humanidade continuar a destruir sistematicamente os ecossistemas destinados a equilibrar as emissões de gases do efeito estufa; ecossistemas que regulam o clima mantendo as florestas, os mares e os oceanos vivos.
A única solução sustentável consiste em trabalhar sobre a raiz do desequilíbrio ecológico e isso implica no desenvolvimento da consciência ambiental da humanidade. Acreditamos que a obrigação essencial dos Partidos Verdes do mundo é promover condições de vida que permitam alcançar essa consciência ambiental.
Propomos:
– estabelecimento de sistemas de ensino que promovam uma visão alternativa da economia e da sociedade, aquela em que o planeta é visto como a casa comum para a humanidade e onde a vida seja respeitada em todas as suas formas;
– implementação de sistemas de justiça social a fim de permitir uma distribuição justa da riqueza e para combater a pobreza;
– modificação do atual modelo de crescimento econômico baseado na produção-consumo.
Em suma, os Verdes das Américas acreditam que a COP 21 deve chegar a um acordo para reduzir as emissões com objetivo de 1,5 graus e que o fundo criado para ajudar as nações mais vulneráveis ??seja realmente e utilizado para esse fim.
FABIANO CA11RNEVALE é Secretário de Relações Internacionais do Partido Verde, Co-Presidente da Federação dos Partidos Verdes das Américas e foi Delegado oficial da Global Greens na COP-21.