DO IPAM – Os dados divulgados hoje pelo governo federal de desmatamento no cerrado mostram que, entre 2016 e 2017, o segundo maior bioma do Brasil perdeu 14.185 quilômetros quadrados de vegetação nativa, ou 6.777 km2 no primeiro ano e 7.408 km2 no segundo.
O número foi comemorado pelo governo federal como positivo, pois a taxa caiu em relação a 2015, quando 11.881 km2 foram desmatados. Porém, o acumulado no cerrado é equivalente ao da Amazônia em 2016 e 2017, quando 14.840 km2 foram desmatados. Considerando que a área do cerrado é metade da Amazônia e tem 49,9% de remanescentes, enquanto a Amazônia tem 85%, a savana consolida-se como bioma mais ameaçado do Brasil atualmente.
Esse desmatamento equivale à emissão de 440 milhões de toneladas de CO2equivalente, numa estimativa conservadora. “Apesar de estarmos dentro da meta nacional de redução do desmatamento do cerrado, que por sinal é uma meta alta, precisamos derrubá-la ainda mais ser quisermos o cerrado cumprindo seu papel”, afirma a diretora de Ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Ane Alencar. “Quando pensamos nos desafios que temos à frente, quanto ao controle do efeito estufa, a perda em biodiversidade e em serviços ambientais que o cerrado fornece e o impacto sobre populações tradicionais que dependem desses recursos, um desmatamento desse vulto tem um custo muito alto para o Brasil.”
O desmatamento concentrou-se na região conhecida como Matopiba, que cobre o cerrado nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Essa é hoje uma das grandes frentes de avanço agropecuário, ao lado do sul da Amazônia, com uma produção crescente de grãos e gado. Os quatro Estados somaram 8.785 km2 de desmatamento em 2016 e 2017, ou 74% do registrado. É também a região onde havia mais remanescentes em 2015: 69,7%, de acordo com o Mapbiomas.
O governo não soube precisar os motivos para a queda, mas citou ações contra o desmatamento ilegal e o monitoramento por satélite. O ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, lembrou que o Código Florestal permite o desmatamento de até 80% da propriedade rural localizada no cerrado, o que também pode influenciar nessas taxas elevadas registradas no bioma.
Fonte: Observatório do Clima