O desmatamento na Mata Atlântica entre os anos de 2011 e 2012 causou a perda de uma área de 235 km² de floresta (que inclui mangues e restingas), taxa anual considerada a maior desde 2008. As informações fazem parte do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, divulgado na manhã desta terça-feira (4) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela organização não-governamental (ONG) SOS Mata Atlântica.
No período que vai de 2008 a 2010, a taxa média anual de desflorestamento foi de 151 km². No levantamento de 2010 a 2011, a taxa anual ficou em 140 km². Na comparação dos dez estados avaliados em todos os períodos do atlas (feito desde 1985 e que incluiu BA, ES, GO, MG, MS, PR, RJ, RS, SC e SP desde o início), o aumento foi de 29% em relação a medição feita em 2010-2011.
Segundo o atlas, os estados de Minas Gerais, Bahia, Piauí e Paraná são os que têm situação mais crítica, já que nesses locais foi constatado um avanço na derrubada da vegetação nativa.
Minas foi o estado que mais desmatou, responsável por derrubar 107 km² de floresta. De acordo com o atlas, o aumento na taxa de desmate no estado foi 70% maior que no período anterior. Em seguida, vem a Bahia, que perdeu 45 km² de floresta no período. O Piauí, monitorado pela primeira vez , perdeu 26 km² de área e já é considerado o terceiro estado que mais desmatou o bioma no período de 2011-2012.
Com os dados atualizados, sabe-se que restam apenas 8,5% da vegetação original da Mata Atlântica, que alcança 17 estados brasileiros e é considerado o bioma mais ameaçado do país. Essa paisagem natural é uma das mais ricas em biodiversidade, e até 60% de suas espécies de plantas são endêmicas, ou seja, só existem naquela região.
Ainda segundo o atlas do Inpe e da SOS Mata Atlântica, nos últimos 27 anos, o bioma perdeu 18.269 km² de vegetação nativa, uma área equivalente a 12 cidades de São Paulo.
Perda de restingas e manguezais – Pernambuco foi o único estado que perdeu área de manguezal, ecossistema que funciona como berçários marinhos e são áreas importantes para atividades como a pesca.
Já o maior desmatamento na vegetação de restinga, ocorreu no estado do Rio de Janeiro, na região de São João da Barra. Nos dois casos, segundo a SOS Mata Atlântica, o impacto ambiental foi causado por obras de infraestrutura, como a construção dos portos de Suape (em PE) e do Açú (no RJ).
Intervenção do Ministério Público em MG – De acordo com o levantamento é a quarta vez consecutiva que Minas Gerais lidera o ranking do desmatamento na Mata Atlântica. Segundo Marcia Hirota, coordenadora do Atlas pela SOS Mata Atlântica, o estado, que tem a maior cobertura nativa de floresta (10,4% de seu território ainda é coberto por vegetação), é o que mais abriga áreas de supressão.
Para o Ministério Público Estadual, os cortes foram feitos para dar lugar a carvoarias, que abastecem a indústria siderúrgica, e a plantações de eucalipto. As imagens de satélite captaram ilegalidades principalmente no noroeste do estado, na região do Vale do Jequitinhonha.
A situação, considerada grave pelo promotor de Justiça Carlos Eduardo Ferreira Pinto, forçou a instauração de 18 inquéritos contra siderúrgicas instaladas nas proximidades de Sete Lagoas e Divinópolis. O objetivo é saber se insumos que abastecem o setor são extraídos ilegalmente da floresta.
Além disso, foram ajuizados três processos criminais contra proprietários de fazendas que, segundo o MP, burlaram a lei ao conseguir autorizações para desmatamento de áreas da Mata Atlântica. “As medidas concretas foram tomadas com base em denúncias feitas no ano passado”, explicou Ferreira Pinto.
“Estamos protocolando um ofício na próxima semana, pedindo uma moratória para que o governo do estado não conceda mais nenhuma autorização para supressão da vegetação nativa, para qualquer finalidade. Além disso, queremos que seja feita a revisão de todas as autorizações concedidas”, disse Marcia.
Fonte : G1