O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) disse que no governo Fernando Henrique Cardoso houve vários casos de irregularidades na Petrobras “muito semelhantes” aos apurados na Operação Lava Jato.
A declaração está nos termos de colaboração premiada do senador, homologada no Supremo Tribunal Federal nesta terça-feira (15).
Delcídio, que foi diretor na estatal de 1999 a 2001, ainda no governo tucano, falou que as ilegalidades em contratações da Petrobras “não são novidade” e ocorrem “há muito tempo”. “Em alguns casos, para enriquecimento pessoal, como também para financiamento de campanhas políticas.”
O delator disse que o presidente da Petrobras na maior parte do governo tucano, Joel Rennó, tinha “apoio político que nenhum outro teve ao longo da história” na estatal. As acusações dele relativas aquela época se concentram em uma empresa chamada Marítima, do empresário German Efromovich.
O senador diz que a Marítima era uma pequena empresa no início dos anos 1990, mas, “em um curto espaço de tempo”, teve um crescimento vertiginoso e passou a fornecer sondas e plataformas para a Petrobras.
Ele se referiu às encomendas das plataformas P-36, P-37 e P-40 e da série de sondas de perfuração conhecida como Ametistas. Segundo o senador, as três plataformas custaram pelo menos US$ 270 milhões a mais do que o previsto inicialmente e tiveram “atrasos injustificados” na construção.
Ele detalhou o caso da plataforma P-36, que teve seu custo aumentado em US$ 100 milhões depois de seguidos atrasos. Na P-37, disse, a Marítima venceu concorrência, “sem maiores explicações”, após ter sua proposta inicial desclassificada.
A P-36 naufragou na Bacia de Campos em 2001, após explosão em um compartimento de rejeitos, deixando 11 mortos. No caso da série de sondas de perfuração Ametistas, Delcídio diz que a Marítima foi a única empresa a concordar com os prazos de construção propostos pela Petrobras, depois que “todos os outros concorrentes se negaram a atender esse prazo”.
As obras atrasaram e, em 1999, já sob a gestão Henri Philippe Reichstul, a Petrobras cancelou as encomendas. O processo gerou uma disputa bilionária entre a Marítima e a estatal, com processos nas cortes de Londres e Nova York.
Efromovich foi banido de licitações da Petrobras, voltando a atuar nas concorrências apenas no final dos anos 2000, quando assumiu o estaleiro Mauá, em Niterói (RJ).
Hoje, o estaleiro tem três navios inacabados da Transpetro, subsidiária de transportes da Petrobras, cujas obras foram interrompidas em julho de 2015 após divergências com relação ao valor dos contratos.
Rennó não foi localizado pela reportagem. Efromovich ainda não respondeu.
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Fonte : Folha de São Paulo