A Cúpula Mundial sobre a Mudança Climática (COP21) que Paris sediará em menos de dois meses deve traçar uma nova meta global de longo prazo, como a eliminação de emissões de carbono até o ano de 2050, disse o diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o brasileiro Achim Steiner.
Em entrevista à Agência Efe em Lima, Steiner ressaltou que o novo acordo mundial que for fechado na COP21 para reduzir emissões e financiar ações contra a mudança climática deve contemplar “um grande passo” que guie os esforços conjuntos de todos os países.
“Um acordo que careça de um objetivo a longo prazo e que simplesmente diga que os países vão fazer um pouquinho mais do que já fazem será insatisfatório para o público, os mercados financeiros e para muitos países”, advertiu Steiner.
“Precisamos eliminar as emissões de carbono. Isso é o que nos diz a ciência e seria um grande passo que isso pudesse estar presente no acordo de Paris”, insistiu.
O brasileiro defendeu que a 21ª Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre a Mudança Climática “é crucial para fornecer à economia global e aos mercados sinais que lhes incentivem a investir em modelos econômicos que reduzam essas emissões de carbono”.
“Paris não é o final da viagem para garantir que a temperatura global não se elevará em 1,5 ou 2 graus (gerando as piores consequências da mudança climática), mas é um ponto crítico para adotar uma ação global neste desafio”, destacou Steiner.
O diretor do Pnuma avaliou o compromisso demonstrado pela maioria dos 188 países que participarão da reunião de Paris ao ter apresentado na semana passada seus planos nacionais de proteção do clima, conhecidos como Contribuições Previstas e Determinadas em Nível Nacional (INDC, na sigla em inglês).
Steiner assinalou que “é um destaque que 146 países, que representam 87% das emissões do planeta, estejam agora sujeitos a uma estratégia” para reduzir suas emissões dos gases que causam o efeito estufa.
“É um ponto de virada. Pela primeira vez na história da convenção do clima, a grande maioria dos países e dos emissores se comprometeram a avançar juntos voluntariamente”, ressaltou.
O responsável do Pnuma antecipou que outro empecilho da cúpula de Paris será garantir que os países desenvolvidos demonstrem perspectivas reais de conseguir reunir US$ 100 bilhões anualmente a partir de 2020 para financiar ações de combate e adaptação da mudança climática em países em desenvolvimento.
Steiner se mostrou cauteloso com o relatório apresentado esta semana pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE) durante as reuniões anuais das juntas de presidentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM), que afirmava que em 2014 foram mobilizados US$ 62 bilhões.
“Faltam menos de dois meses para a COP21,e isto deve ser um tema de preocupação para todos. Houve um aumento significativo das finanças, mas é insuficiente, porque, além disso, acredito que se deve reimpulsioná-las para garantir que se pode fechar essa lacuna”, opinou Steiner.
O funcionário da ONU lembrou que somente o valor total dos ativos do setor bancário chega a US$ 135 trilhões e exortou a conciliar o setor financeiro com a economia real para encontrar soluções que permitam que parte dessa riqueza possa ser destinada a financiar os US$ 100 bilhões anuais.
A COP21 acontece de 30 de novembro a 11 de dezembro e o acordo que a ser adotado substituirá o Protocolo de Kioto quando este expirar no ano de 2020.
Fonte: Terra