Sempre desconfio de fevereiro sem carnaval. O calendário deste ano driblou os versos de Jorge Ben, empurrando os festejos para março, mas fevereiro começou sem deixar dúvida que o compositor carioca estava certo ao dizer que moramos em um país tropical. São Paulo registrou a maior temperatura para o mês desde que o Instituto Nacional de Meteorologia iniciou a medição, há 71 anos. Pelo menos naquela época o paulistano podia pular no Tietê para se refrescar…
A vida na panela de pressão virou o assunto preferido das conversas de bar – principalmente aqueles que servem a cerveja bem gelada. O calor não dá refresco, e para piorar não chove mais na terra da garoa. Quem contava com o ar condicionado para suportar o verão teve que lidar com um repentino apagão, causado justamente pelo alto consumo nas regiões afetadas pelo calor. Se tivéssemos mais investimentos em energia solar, o calor deixaria de ser problema para se tornar a solução. Atingiríamos picos de produção.
As altas temperaturas podem até ser o estopim de uma revolução na moda. O Tribunal de Justiça de São Paulo tornou facultativo do uso de terno e gravata em suas dependências. Uma decisão que poderia valer para o resto do ano, e para o resto do país também. E no Rio de Janeiro um funcionário público não se conformou com o ar condicionado quebrado e resolveu aparecer no trabalho com a saia da mulher, depois de ser barrado por usar bermuda. Se ao menos estivéssemos no carnaval, ele passaria despercebido.
Mas vejamos o lado bom. Melhor reclamar do calor do que das enchentes e inundações que costumam causar estrago nesta época do ano. E ainda tem gente que diz que o aquecimento global é invenção de ambientalista. Será que com o derretimento das calotas polares o mar vai chegar na Vila Madalena, finalmente realizando o desejo dos nossos artistas? Se o Peru, depois de tantos anos, conseguiu anexar ao seu território uma faixa de mar do Chile, nós também podemos sonhar.
José Luiz Penna é deputado federal e presidente do Partido Verde (PV)