Vinte e um jovens americanos, entre 11 e 22 anos, conseguiram esta semana o aval da Suprema Corte dos Estados Unidos para levar adiante o processo judicial que movem contra o governo de seu país.
Ao lado da organização não-governamental, Our Children’s Trust, o grupo alega que, as decisões tomadas no sistema nacional de energia estão piorando as mudanças climáticas e desta maneira, o governo dos Estados Unidos está os privando do direito à vida, à liberdade e à propriedade, além de estar fracassando em proteger recursos naturais essenciais.
Vale ressaltar que a ação Juliana v. United States, nome pelo qual ficou conhecida, não é contra o presidente Donald Trump especificamente. Ela é contra o governo americano, tanto que foi iniciada em 2015, ainda sob a administração de Barack Obama, conforme mostramos aqui em post de 2016. Mas até a semana passada o processo não tinha prosseguido, quando então, no último dia 29/10, foi marcada a primeira audiência em uma corte do estado de Oregon. A Casa Branca tentou impedir que o caso seja julgado, mas a Suprema Corte dos Estados Unidos não aceitou o pedido.
“Os jovens de nosso país ganharam com essa importante decisão, que mostra que mesmo o governo mais poderoso do mundo precisa seguir regras e processos litigiosos da nossa democracia”, afirmou Julia Olson, da Our Children’s Trust.
Muitos desses jovens, chamados de “Climate Kids”, eram ainda crianças quando a ação foi iniciada há três anos e hoje são adolescentes, que percebem em seu dia a dia os efeitos do aquecimento global.
“Eles já sofrem os danos irreparáveis, que só ficam piores a cada dia que passa com a emissão de mais dióxido de carbono, que vai se acumulando gradativamente na atmosfera e nos oceanos”, alegou o advogado de defesa.
“Eu sou uma criança muito impaciente. E impaciente por uma razão. Eu moro em uma ilha e já vi o nível do mar subir. Tive que abandonar minha casa por causa de furacões. Encontrei peixes mortos na areia e sei que o clima está diferente – cada vez há dias mais e mais quentes. Esta é a razão porque é tão importante que este processo siga em frente”, diz Levi Draheim, de 11 anos.
Os jovens americanos não são os primeiros a tentar processar criminalmente seus governantes pela (falta) de responsabilidade perante as mudanças climáticas. São os chamados “litígios climáticos”.
No começo deste ano, um movimento semelhante aconteceu na Colômbia, como divulgamos nesta outra reportagem. E anteriormente, holandeses tentaram o mesmo caminho na corte, mas não foram bem sucedidos.
Como bem colocou há dois anos o jornalista John Sutter, da CNN, a iniciativa dos jovens americanos perante a corte mostra que o futuro está processando o presente. “Estamos no tribunal porque os líderes que foram eleitos para cuidar de nosso planeta e de nosso país para a nossa geração e aquelas que virão, não estão cumprindo o prometido”, disse Xiuhtezcatl Tonatiuh, de 15 anos, à Sutter. “Minha geração vai herdar uma crise que está à nossa volta hoje. Estamos aqui para proteger não só o meio ambiente, a Terra e a atmosfera, mas pelo direito que temos em viver em um mundo saudável, justo e sustentável”.
Foto: divulgação Our Children’s Trust