A saída voluntária em massa das ONGs presentes na Conferência da ONU sobre Mudanças Climática, em Varsóvia, além da demissão do então ministro do Meio Ambiente da Polônia a dois dias do fim da cúpula das Nações Unidas “frustrou” o governo brasileiro sobre possíveis resultados positivos na COP 19, informou o secretário nacional da Secretaria de Mudança do Clima e Qualidade ambiental da pasta, Carlos Augusto Klink.
Segundo ele, o encontro de Varsóvia tinha o objetivo de construir “um mapa do caminho” para a elaboração do novo acordo global que vai substituir o Protocolo de Kyoto.
Mas, para o secretário, o governo polonês causou certo “desconforto” ao substituir repentinamente o chefe da pasta ambiental e promover um megaevento voltado ao uso do carvão mineral concomitante à conferência do clima – que prega a redução do uso de combustíveis fósseis.
“Tivemos alguns acontecimentos fortes. O governo polonês, apesar de receber muito bem as delegações, causou um pouco com a notícia de mudar parte de sua estrutura durante a COP. (…) Gerou um bocado de desconforto”, explicou Klink ao G1, por telefone, direto de Varsóvia.
Ele disse ainda que as ONGs manifestaram seu descontentamento e “argumentaram que todos sairiam da COP 19 com menos [propostas] do que entramos”. “Para nós, diria que causa certa frustração, porque queríamos usar Varsóvia para construir esse mapa do caminho já acordado para passar por Lima (no Peru, sede da COP 20) e depois Paris (França, sede da COP 21)”, complementa.
O objetivo principal da reunião na Polônia é dar os primeiros passos na busca de um novo tratado (ou protocolo) que terá de ser assinado por todos os países em 2015, na conferência da França, e entrar em vigor a partir de 2020. O acordo vai obrigar, por força de lei, a redução de emissões de gases poluentes e, com isso, diminuir os impactos da mudança climática.
Mais cedo, André Nahur, coordenador do programa de Mudanças Climáticas e energia da organização ambiental WWF, disse que a saída das ONGs ocorreu porque havia “uma clara falta de liderança do governo polonês”. “Diante desta complexidade, não é esperado um resultado grande desta conferência, que tem a influência de grandes poluidores. É a primeira vez que fazemos isso, uma retirada de um processo, porque acreditamos que não haverá segurança climática [nas discussões]”, explicou André ao G1.
Debate entre ricos e pobres – Segundo Klink, não há chance do encontro terminar sem um documento e os delegados saírem de mãos vazias da Polônia. Porém, existem grandes entraves na discussão de temas como financiamento climático de países vulneráveis por nações desenvolvidas.
A implantação do mecanismo chamado de “loss and damage” (perdas e danos, em tradução livre) é um dos temas com debate acirrado. Na prática, se for aprovado, o instrumento diplomático força países ricos a financiar nações que já sofrem com os efeitos da mudança climática. “É difícil dizer se vai ser aprovado”, explica o porta-voz do governo.
O secretário falou ainda que a proposta brasileira de solicitar ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, a criação de uma metodologia que calcule a “culpa histórica” de cada nação sobre o aumento da temperatura do planeta foi “bloqueada” pelos países que integram o Anexo 1 do Protocolo de Kyoto (nações desenvolvidas do Hemisfério Norte).
Mas que o plano de pedir aos governos que façam consultas internas com setores da sociedade civil sobre as metas de redução de emissões de gases-estufa tem sido bem aceito e tem grande chance de ser aprovado ao final do encontro.
Klink disse também que a discussão para estabelecer o cronograma de criação do novo acordo global continua forte. “Nosso desejo é valorizar o processo [ que antecede a aprovação do novo acordo] e não olhar só para 2015. Lima vai ser uma COP muito importante, já que a COP 19 tem características peculiares. Temos algumas dificuldades de que Varsóvia apresente algo convincente”, conclui o secretário.
Alta no desmate não impactou imagem do Brasil – Durante a conferência de Varsóvia, o Ministério do Meio Ambiente divulgou que o desmatamento na Amazônia Legal entre agosto de 2012 e julho de 2013 aumentou 28% em relação ao período anterior.
A informação, de acordo com o secretário, não manchou a imagem do Brasil de potência verde e influente negociador em conferências climáticas. “De maneira alguma. O esforço brasileiro é claramente reconhecido. Estamos tranquilos quanto à reputação do país”, complementa.
Segundo dados do sistema Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal), operado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o bioma perdeu em um ano 5.843 km² de vegetação, o equivalente a quase quatro vezes o município de São Paulo. A Amazônia Legal compreende todos os estados da Região Norte, além de Mato Grosso e parte do Maranhão.
Fonte : G1