Começou hoje na Cidade do México, o encontro promovido pelo Partido Verde Ecologista de Mexico (PVEM) sobre os êxitos dos verdes das Américas. Durante o evento foi lançada a campanha “Apagão Verde”, um chamado para a população apagar as luzes por 5 minutos no dia internacional do Meio Ambiente (5/6), às 21h.
O Secretário de Relações Internacionais do PV Brasil e Co-Presidente Executivo da Federação dos Partidos Verdes das Américas, Fabiano Carnevale, falou sobre a história dos verdes brasileiros e propôs uma reflexão sobre o ecologismo na América Latina.
Leia abaixo a íntegra da exposição de Carnevale: “Primeiramente, gostaria de saudar a iniciativa do PVEM, grande protagonista da política verde internacional. Foi em 1999, em Oaxaca, que participei do primeiro encontro internacional de Partidos Verdes da minha vida e que foi o embrião do que hoje é a Global Greens, organização que reúne verdes de mais de 90 países no mundo.
Nesse dia 30 de maio, eu completei 20 anos de Partido Verde. Aos 37 anos, me dou conta de que dediquei mais da metade da minha vida na construção desse projeto que até hoje me fascina e estimula.
Mas essa história havia começado 10 anos antes, em 1985, quando um grupo de intelectuais e artistas começou a pensar e articular a fundação de um Partido Verde no Brasil. Liderados por ex-exilados políticos da Ditadura brasileira (1964-1985) e influenciados pelo sucesso do ecologismo na Europa, principalmente na Alemanha, o PV participou experimentalmente das eleições estaduais de 1986 e obteve seu registro oficial em 1987.
Começávamos ali a construir belas páginas na política brasileira. Nos primeiros anos, marcamos posição contundente na defesa da Amazônia e na luta contra a energia nuclear. Tendo a cidade do Rio de Janeiro como centro principal, elegemos o vereador mais votado de 1988 e fomos os protagonistas na consolidação das políticas ambientais da cidade, como a criação de APA´s e dos primeiros quilômetros da rede cicloviária da cidade.
Em 1990, elegemos o primeiro deputado federal verde no parlamento. Em 1994, a chegada de Fernando Gabeira ao parlamento viria consolidar a importância dos verdes na política nacional. Mesmo possuindo apenas um representante, Gabeira sempre foi um dos deputados mais influentes do Congresso Nacional. Foi o responsável pela aprovação de diversos marcos nas leis ambientais brasileiras e da luta anticorrupção.
Em 2002, o PV elegeria mais 4 deputados federais e constituiria sua primeira bancada federal. Em 2006, elegemos 13 deputados, quando Gabeira foi o deputado mais votado do estado do Rio de Janeiro. Em 2010, elegemos 14. Fomos atingidos pela imensa onda conservadora que atingiu diversos países do mundo e em 2014, caímos para 8 deputados.
Em 2010, o Partido Verde fez cerca de 20% dos votos para a Presidência da República, provocando um terremoto na política tradicional brasileira. Em 2014, a candidatura de Eduardo Jorge obteve grande repercussão entre a juventude e a classe média, pela postura progressista e transparente. Apesar de prejudicada pela polarização ocorrida no primeiro turno, nossa candidatura foi aclamada como vencedora entre os usuários das redes sociais.
Nesse anos, as conquistas do PV no parlamento são inúmeras: a defesa intransigente dos direitos dos povos indígenas, a luta contra o desmatamento da Amazônia, a consolidação dos marcos das leis ambientais, a defesa dos recursos hídricos, a liderança da frente parlamentar ambientalistas, a proposição pela mudança da matriz energética e a rotulação dos alimentos transgênicos.
E agora eu quero falar um pouco sobre essa ideia ‘europeia’ de ecologia política nas nossas Américas. De como nos inserimos nessa ideia e a fazemos prosperar e ganhar legitimidade internacional. E isso passa pela nossa História pré-colombiana. Pelo caráter autóctone das nossas comunidades indígenas e também pelas experiências de colapso ambiental que sofremos.
Ao contrário da História europeia, baseada nas guerras e conquistas militares, a nossa História é estreitamente ligada às relações dos povos originais com o meio ambiente. Tanto pela sustentabilidade e respeito, quanto pelo esgotamento dos recursos naturais que fez colapsar algumas das grandes civilizações da História da Humanidade.
A heterogeneidade é o grande pilar do Ecologismo internacional. Ao contrário das grandes ideologias do século XX (o Socialismo e o Capitalismo), o Ecologismo (maior protagonista do século XXI) não se constrói pela homogeneidade de discurso e sim pela heterogeneidade criativa, que nos proporciona soluções complexas para os problema complexos que a modernidade nos impõe.
Enquanto a Europa colapsa e se contradiz frente a um falso discurso de unidade (que a cada momento se confrontam com identidades nacionalistas e xenófobas), as Américas insinuam ao mundo que nossa pluralidade é a mais capaz de dar conta desse mundo estilhaçado.
E os Verdes das Américas mostram a cada dia uma vitalidade que deve servir de exemplo para o resto do mundo. Porque a história e a complexidade multiétnica e pluricultural do nosso continente é a própria alma do movimento ecologista. E estamos só começando. O futuro é Verde. E o futuro dos Verdes mundiais passa pelas Selvas Mexicanas, pelas águas do Caribe, pelos Andes, pela Amazônia e vão até a Patagônia.
Muito obrigado.”
Amanhã, está programada a apresentação de André Fraga, Secretário Municipal da Cidade Sustentável de Salvador e membro da Executiva Nacional do Partido Verde.
Fonte : Fabiano Carnevale/Secretário de Relações Internacionais