Cientistas de diversos países que realizam pesquisas na área ambiental terão, esta semana, a última oportunidade de manifestar seus pontos de vista e questionamentos e tentar influenciar a agenda de discussões e as decisões que deverão ser tomadas durante a RIO+20.
Eles estarão reunidos em Londres em um grande evento da comunidade científica internacional em meio ambiente que antecede a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que será realizada no Rio de Janeiro nos dias 20 a 22 de junho.
Intitulado “Planet Under Pressure” (“planeta sob pressão”), o evento foi organizado pelos quatro programas da Organização das Nações Unidas (ONU) voltados para a área ambiental: International Programme of Biodiversity Science (Diversitas), International Human Dimensions Programme on Global Environment Change (IHDP), World Climate Research Programme (WCRP) e International Council of Scientific Unions (ICSU).
A expectativa dos pesquisadores é que as discussões que serão realizadas durante o encontro em Londres resultem em um documento que possa ser encaminhado por intermédio do ICSU à RIO+20, com um posicionamento em relação à temática da conferência.
“Será a última oportunidade de manifestar nossos pontos de vista e questionamentos e destacar que a ciência já avançou o conhecimento e tem contribuições significativas para dar às discussões ambientais e para tentar evitar que a RIO+20 se torne um evento puramente político”, disse Carlos Joly, coordenador do programa BIOTA-FAPESP e diretor do Departamento de Políticas e Programas Temáticos da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação.
Na avaliação de Joly, apesar da proximidade da RIO+20, ainda é possível que os pesquisadores e especialistas reunidos no encontro em Londres possam influenciar a agenda e balizar as discussões que ocorrerão na conferência no Rio de Janeiro. Isso porque o ICSU, apesar de não poder votar, tem direito a voz e assento nas reuniões da ONU.
“Mesmo estando em cima da hora, a posição do ICSU poderá ser apresentada durante as discussões na RIO+20 e certamente antes da conferência o documento resultado do encontro em Londres será distribuído para as delegações dos países”, disse Joly.
“O encontro em Londres está sendo realizado em um momento bastante oportuno, escolhido especialmente pelos organismos internacionais da área ambiental. Se ocorresse duas semanas depois, dificilmente alguma coisa poderia sair dele. Ainda estamos dentro do limite de tempo”, disse.
De acordo com Joly, as discussões durante o “Planet Under Pressure” serão influenciadas, mas não pautadas, pelo documento preparatório da RIO+20. Conhecido como Zero Draft, o documento foi considerado excessivamente genérico pelos pesquisadores da área ambiental.
Como contraponto ao Zero Draft, um comitê composto por pesquisadores e especialistas na área ambiental de diversos países, designado por Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, elaborou outro documento, o Resilient people, resilient planet: a future worth choosing.
Publicado em fevereiro, o relatório aponta os principais problemas ambientais mundiais e quais as alternativas para solucioná-los ou, ao menos, minimizá-los.
“O documento é mais objetivo e não se prende a questões geográficas e econômicas como o Zero Draft, que, para ser aprovado por 193 países, logicamente teve que ter uma retórica e abordagem mais genérica”, disse Joly.
Durante o encontro em Londres, Joly participará na segunda-feira (26/03) de um dos principais painéis de discussão que serão realizados durante o evento, sobre o atual estado do planeta e os desafios econômicos e políticos que terão de ser enfrentados e superados nas próximas décadas. O painel é coordenado por John Beddington, conselheiro científico chefe do Reino Unido.
No mesmo dia, Joly também participará de outro painel sobre contribuições à RIO+20, coordenado pelo presidente do ICSU, Yuan-Tseh Lee. Na ocasião, Joly apresentará os resultados do BIOTA-BIOEN-Climate Change Joint Workshop: Science and Policy for a Greener Economy in the context of RIO+20, promovido em conjunto pelos programas BIOTA, BIOEN e Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG). Realizado no início de março, o objetivo do evento foi contribuir para as discussões sobre os tópicos que estarão em pauta na RIO+20.
Belmont Forum
Glaucia Mendes de Souza, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), apresentará durante o “Planet Under Pressure” um pôster explicativo do programa BIOEN.
“Fiquei um pouco surpresa porque a conferência não tem muitas sessões voltadas para a questão da energia, que permeia toda a discussão sobre a pressão sobre o planeta e é responsável, em parte, pelas medidas emergenciais que estão sendo tomadas para controlar as mudanças climáticas”, disse.
Além dos programas de pesquisa da FAPESP, também serão apresentados durante o evento em Londres resultados de outros projetos apoiados pela Fundação, como os do Temático “Urban growth, vulnerability and adaptation: social and ecological dimensions of climate change on the coast of São Paulo”, que teve cinco trabalhos selecionados para exibição.
“Isso mostra que estamos realizando pesquisas de alta qualidade no Brasil, em uma realidade na qual praticamente só nós, brasileiros, trabalhamos, com uma grande diversidade de ambientes, pressões e o maior remanescente de floresta tropical do mundo”, disse Joly.
Na quarta-feira (28/03), também será lançado durante o encontro na capital inglesa a primeira chamada de propostas do Belmont Forum.
Criado em 2009, o grupo, integrado pela FAPESP, é formado pelas principais agências financiadoras de projetos de pesquisa sobre mudanças climáticas globais. Entre elas estão a National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos, e o Natural Environment Research Council (Nerc), do Reino Unido. O objetivo do grupo é tentar promover uma nova maneira de se realizar colaboração internacional em pesquisas na área ambiental.
A chamada de propostas de pesquisa envolve duas áreas: segurança hídrica, com coordenação da Agence Nationale de la Recherche (ANR), da França; e vulnerabilidade costeira, que será liderada pela NSF.
Na ocasião, Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, fará uma apresentação sobre os futuros projetos do Belmont Forum. Entre eles está o lançamento de uma chamada de propostas em 2013 sobre segurança alimentar e bioenergia, que deverá ser liderado pela FAPESP.
“A FAPESP está se propondo a organizar um workshop para formatar uma proposta para que possa gerenciar a chamada internacional sobre esses temas”, disse Reynaldo Victoria, coordenador do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) e representante da FAPESP no Belmont Forum.
Fonte : Agência Fapesp