Repetição de eventos extremos com mais frequência e intensidade exige adoção de protocolos para enfrentar fenômenos de forma mais humana e racional
Os estragos provocados no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina desde a manhã de terçafeira (30) são atribuídos pelos meteorologistas a um fenômeno chamado “ciclone-bomba”. Em 2016, Porto Alegre enfrentou outro episódio de nome assustador: a microexplosão, ou microburst, que causou danos a construções e deixou cicatrizes em parques. Entre um e outro, houve uma série de eventos climáticos severos, repetidos a intervalos cada vez menores.
Esse quadro é a melhor tradução para a vida real da mudança climática: aumento da frequência e da intensidade de tempestades. E é bom lembrar que o ciclone-bomba veio depois de uma das mais intensas estiagens que o Rio Grande do Sul já enfrentou.
Paulo Nobre, coordenador do Modelo Brasileiro de Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), costuma alertar que, no Sul e no Sudeste do Brasil, a tendência provocada pelas mudanças climáticas é de que ocorram “secas mais extremas e duradouras, intercaladas por períodos muito chuvosos”. E embora nuvens de gafanhotos sejam, literalmente, tão antigas quanto a Bíblia, estudiosos atribuem a fenômenos climáticos esse súbito retorno a esta parte do planeta, depois de décadas de trégua. Seu efeito mais visível, o de prolongar e agravar eventos naturais, como a seca, aumenta o risco dessa praga.
As mudanças climáticas têm forte impacto na economia. Além do custo da reparação dos danos cada vez maiores e mais frequentes, prejudicam diretamente a produção agrícola e alteram até padrões de consumo. Cientistas do Inpe alertam para a intensificação dos fenômenos há mais de uma década. O diagnóstico é reconhecido fora do âmbito da ecologia e da meteorologia: empresas montam planos de negócios que incluem o impacto da mudança e seguradoras já identificaram uma oportunidade de mercado
Mais do que qualquer país, o Brasil pode transformar ameaça em vantagem competitiva. Para isso, é essencial adotar uma estratégia de valorização da Amazônia, mas também uma forma mais racional e abrangente de administrar a previsão de eventos extremos.
Mesmo com o assustador nome de “ciclonebomba” circulando antes que seus impactos mais graves atingissem o Estado, houve pouca prevenção. Como os americanas fazem nas temporadas de furacões, é preciso criar um protocolo – depois das lições da pandemia. Investir no cuidado prévio será mais humano e mais racional do que gastar com a reparação dos danos.
Fonte: Grauchazh