As eleições municipais começam oficialmente em 16 de agosto, data a partir da qual está autorizada a propaganda eleitoral nas ruas – os horários de TV começam dez dias depois. Ao contrário das disputas anteriores, a campanha terá 45 dias e não mais 90 dias.
Os candidatos a prefeito, portanto, terão menos tempo para pedir votos. Além disso, o processo eleitoral de 2016 deve dividir a atenção do eleitor com pelo menos outros três grandes temas.
O Senado vai concluir em meados de agosto o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.
A Operação Lava Jato, que atinge políticos de diversos partidos, continua produzindo fatos relevantes. Novas denúncias e delações premiadas estão a caminho.
Há ainda a crise econômica, que levou a alta do desemprego e a desaceleração do crescimento.
Até que ponto essas questões influenciam a escolha do eleitor para o prefeito de sua cidade? O Nexo pediu a opinião de dois cientistas políticos para avaliar se temas nacionais vão reverberar nas urnas. São eles:
Adriano Oliveira, cientista político e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco)
Cláudio Couto, cientista político e professor da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas)
O que define uma eleição municipal, questões locais ou nacionais?
ADRIANO OLIVEIRA “O básico é a avaliação que o eleitor faz dos serviços públicos. Se os serviços públicos da prefeitura estão bem avaliados, os candidatos à reeleição, por exemplo, tendem a ser reeleitos. O preponderante é o cotidiano do município, mas o fator nacional não deixa de ser considerado.
O momento nacional pode ter influência positiva, como de certa forma ocorreu em 2008 e 2012 (por haver um clima de euforia por causa da economia). Mas tem que se entender o contexto de cada eleição. Há que se medir a variável nacional, mas acima de tudo o principal fator é a avaliação do eleitor sobre as questões locais. A qualidade das propostas dos candidatos também influencia bastante o comportamento do eleitor durante o pleito.”
CLÁUDIO COUTO “O que define são as questões locais, como a conservação do espaço público, das ruas, dos serviços como a saúde, creches e o transporte público. Pelo que a experiência nos mostra, a tendência é que o eleitor vote olhando no âmbito em que as decisões ocorrem. Pode haver algum contágio [do debate nacional], mas ele não é decisivo. Por isso o voto é dividido: o eleitor às vezes vota em um partido político para presidente, em outro para governador e em outro para prefeito.
Na campanha de 2012 em São Paulo, por exemplo, a proposta do [então candidato Celso] Russomanno de mexer no Bilhete Único acabou com a candidatura dele e era no meio do julgamento do mensalão no Supremo [que tinha os petistas como principal alvo]. Não obstante isso, o PT continuou crescendo naquele ano e [o candidato do PT] Fernando Haddad foi eleito.”
A crise atual (no sentido econômico e político) terá qual relevância para o pleito de 2016?
ADRIANO OLIVEIRA “Sem dúvida a crise econômica tende a ser relevante, principalmente quando se considera que para 80% dos brasileiros o país está em crise. O que tenho observado é que prefeitos bem avaliados, com algo em torno de 40% de aprovação, o eleitor diz que a crise interfere negativamente na sua administração. Quando o prefeito é mal avaliado, o eleitor diz que o problema não é a crise, mas a incompetência do administrador. Ou seja, ele retira a crise do contexto. Então, nestas eleições, mesmo o impacto da crise econômica vai depender da avaliação que o eleitor faz da prefeitura.
Acredito que a crise econômica influencie mais do que a crise política, embora para o PT ela deva interferir mais. Ela colocará um teto eleitoral aos candidatos petistas. Aqueles eleitores contrários ao impeachment de Dilma Rousseff tendem a votar no PT, o que dá a eles margem de 25% a 30% de intenção de voto. Mas cerca de 60% são favoráveis ao afastamento e tendem a não votar no PT, o que gera um limite de crescimento àqueles candidatos.”
CLÁUDIO COUTO “A questão econômica tende a influenciar mais fortemente quando se trata de ações do governo federal. Se houvesse, hoje, uma eleição para presidente da República, possivelmente o PMDB não iria bem porque agora ele é o responsável pela condução da política econômica [com o presidente interino Michel Temer], tendo ou não culpa direta pela situação atual. Mas não vejo como interferir no pleito municipal porque entendo que a avaliação de uma candidatura a prefeito se dá em torno de questões de nível local.
No que se refere à crise política (o desgaste dos partidos e das lideranças políticas), ela deve ter importância para o PT e deve fazê-lo perder votos pelo país. Embora alguns partidos tenham até mais pessoas envolvidas nos escândalos do que o PT, a pecha ficou com o PT, como se fosse o único responsável pela corrupção no país.
Mesmo havendo essa separação do voto por parte do eleitor (entre federal, estadual e municipal), o contágio tende a ser mais forte para o PT porque os ataques à legenda foram mais persistentes nos últimos anos e uma hora acaba contagiando.”