Uma comitiva de parlamentares do Partido Verde recebeu, nesta segunda, a visita de Catherine Grèze, representante francesa do parlamento europeu. A deputada, eleita pelo partido verde francês, teve com os brasileiros uma conversa sobre a usina de Belo Monte. A parlamentar foi recebida pelos deputados Penna, Sarney Filho, Antônio Roberto, Rosane Ferreira, Eurico Júnior e pelo senador Paulo Davim.
Os parlamentares falaram da luta da bancada do Partido Verde em impedir a construção da usina e apresentaram os enormes impactos causados pela forma como a obra vem sendo conduzida. Isso para suprir uma produção relativamente pequena. A capacidade instalada é de 11.233 MW, mas, por operar com reservatório muito reduzido, a usina deverá produzir efetivamente cerca de 4.500 MW, correspondente a 5,5% da energia brasileira.
“A vida das pessoas da região virou um tormento, o custo de vida ficou alto e a usina não trouxe benefícios econômicos para a região, já que a grande maioria dos insumos, de tratores a alimentos, são comprados de fora do Pará”, apontou José Carlos Lima, secretário nacional de comunicação do Partido Verde. “Hoje a usina tem mais de 15 mil operários, mas quando ela funcionar, vai ter apenas 800. Ou seja, muita gente vai ficar por lá desempregada”, lamentou.
Os danos ao meio ambiente e aos povos tradicionais também são incomensuráveis. “Tive um encontro com os índios Araras, que tiveram suas terras afetadas, e perguntei o que eles queriam. Eles disseram que não queriam nenhuma compensação financeira, desejavam apenas viver como sempre viveram, como seus pais viveram”, contou o secretário.
Durante a reunião, também vieram à tona as constantes derrotas indígenas no Congresso Nacional. Os anfitriões explicaram à deputada francesa o perigo da PEC 215, que, se aprovada, retira do poder executivo a atribuição de criar e alterar limites de áreas indígenas, de quilombolas e de unidades de conservação.
Penna explicou a Catherine que atualmente os verdes brasileiros trabalham no sentido de fazer com que os índios tenham representatividade nos espaços tradicionais de poder. “Nós estamos fazendo um movimento grande de filiação para que esses povos ocupem espaços institucionais, sendo deputados, vereadores, trazendo-os para as discussões que os interessam”, afirmou o deputado.
Grèze também se mostrou curiosa sobre as recentes manifestações populares no Brasil. Segundo a deputada, a impressão que se tinha pela mídia internacional era de que a população brasileira estava satisfeita com o atual governo. Os parlamentares explicaram que trata-se de uma insatisfação generalizada com as instituições de poder e as organizações políticas, e que reação do partido foi de participar e ouvir o clamor das ruas.
“O PV tem a vantagem de se alinhar à maioria das bandeiras que surgiram: do transporte sustentável, mobilidade urbana, ensino público de qualidade, universalização da saúde, defesa das minorias, combate intransigente à corrupção”, apontou Penna. Catherine Grèze segue hoje para o Pará, onde conhecerá in loco a situação dos povos afetados pela construção da usina de Belo Monte.
Texto: Eduardo Oliveira