As cenas de horror de Mariana/MG se repetem em Brumadinho/MG.
De todo mundo vêm manifestações de pesar, solidariedade, censura, cobranças de responsabilidade pelos crimes ambientais… Até o presidente da China apareceu pedindo providências…
Penso que este episódio é um sintoma, sintoma gravíssimo evidentemente, de um processo muito mais complexo. Quero me referir a forma de produzir, de consumir, de viver, enfim, da humanidade nos últimos séculos da revolução industrial para cá caracterizado cada vez mais pelo consumismo. Consumismo predatório, exagerado, irresponsável, egoísta, imprevidente, desigual, opressor. Consumismo que não respeita os limites da Terra num egocentrismo suicida.
O drama do estado minerador Minas Gerais faz parte desta engrenagem mundial.
EUA, China, Europa e outros são grandes compradores do minério extraído a “ferro” e fogo e lama a qualquer custo para nosso meio ambiente. Mas não esqueçamos, todos nós também somos compradores e consumidores desta produção mineral. Vamos pensar um pouco na infinita variedade de artefatos dependentes desta atividade. Navios, trens, ônibus, automóveis, motos, bicicletas, garfos, facas, chaves, fechaduras, móveis, estruturas de casas e edifícios, embalagens de alimentos, panelas, pás e enxadas. A lista é provavelmente infinita. Tudo muito útil na maioria dos casos para nossa qualidade de vida atual.
A questão colocada pela reflexão ambientalista moderna não passa por abandonar coisas tão engenhosas. O problema é o ritmo, a proporção, o cuidado, o planejamento de longo prazo que toda exploração deste e de outros recursos naturais da Terra deve observar. Inclusive para que haja Terra para nossa espécie e para as demais espécies no futuro. É preciso lembrar que existe passado, presente e futuro! É preciso lembrar que há limites para o uso dos recursos da Terra e que alguns deles não são renováveis.
Esta louca e hedonista forma de viver é terreno fértil para este tipo de tragédia Brumadinho/Mariana, mas produzem também tragédias que podem parecer menos chocantes por serem mais moleculares, porém que podem ter proporções ainda mais graves.
Por exemplo, as chamadas mudanças climáticas de origem antrópica/aquecimento global causadas principalmente pelo uso abusivo de combustíveis fósseis. A poluição do ar nas cidades, assassina silenciosa de milhares de pessoas por ano. O desmatamento nas nossas florestas como a Amazônia, este patrimônio do planeta sob nossa responsabilidade nacional. A morte da vida do solo pelo uso de agrotóxicos. A asfixia dos oceanos. A erosão da biodiversidade causando extinção de um número incrível de espécies animais e vegetais a cada dia que passa.
É preciso punir os responsáveis irresponsáveis por mais este crime ambiental em Minas Gerais.
Mas é preciso refletir sobre a forma que cada um de nós está vivendo e consumindo nossa casa comum, o planeta Terra. De certa forma cada um de nós também é responsável por Brumadinho e Mariana.
Fonte: Eduardo Jorge