Sempre que sou convidado a falar sobre saneamento ambiental, costumo perguntar se meus interlocutores concordam com a ideia de que a água é um elemento estratégico para o futuro do planeta.
Claro, não há discordâncias, todo mundo pensa assim.
No Brasil, faço uma pergunta relativa à necessidade de uma gestão eficiente para a produção e a distribuição da água potável. Da mesma forma, ninguém levanta a menor oposição. Ou seja, todo mundo concorda com o óbvio, que a água é um elemento sem o qual o ser humano não sobrevive, e precisa ser melhor cuidada. Se isso é tão claro, por que temos esse quadro assustador sobre a qualidade da água no Brasil e no mundo?
Depois das perguntas, apresento os preocupantes números sobre o saneamento ambiental. Em todos os lugares, ainda temos sérios problemas com a água e com o esgoto. A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou recentemente um trabalho dando conta de que um terço da população mundial — 2,4 bilhões de pessoas — vive sem saneamento básico. No Brasil, a falta de saneamento básico de qualidade atinge cerca de metade da população.
Esse quadro seguramente vai se modificar a partir do ano que vem, caso Brasília seja escolhida pelo Conselho Mundial da Água para sediar o Fórum Mundial da Água, em 2018. O Conselho é a mais importante entidade para a discussão e proposta de solução para preservar a água como elemento fundamental para o futuro do planeta — ele é formado por 70 países, tem sede na cidade de Marselha, na França, e a cada três anos organiza concorrido encontro em uma cidade escolhida por seus integrantes.
O fórum dura uma semana, com a participação desses países. No último encontro, realizado na França, compareceram cerca de 25 mil pessoas ligadas profissionalmente à questão ou interessadas no tema saneamento ambiental. O Brasil foi representado por 250 pessoas, do governo e da iniciativa privada.
Inicialmente, havia nove cidades concorrentes a sediar o Fórum Mundial de 2018. Foram sendo eliminadas, restando Brasília e Copenhague, capital da Dinamarca. São essas duas cidades que disputarão em fevereiro próximo os votos dos conselheiros do conselho mundial para sediar o Fórum 2018. Em, 2015 o encontro será na Coreia.
Esses eventos só são realizados com a total participação dos governos das cidades. Na realidade, quem organiza o fórum é a cidade escolhida. No caso de Brasília, o governo está à frente desse processo desde o início, tendo o governador Agnelo Queiroz e a ministra do Meio Ambiente, Isabella Teixeira, recebido há poucos meses uma comitiva do conselho mundial, em visita à cidade. Esse processo é semelhante ao que acontece em outros grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo de Futebol. O país — ou a cidade — apresenta sua proposta e o primeiro passo é a avaliação feita por uma comissão. É feito um relatório e depois o plenário da entidade escolhe o local do fórum.
Brasília tem muita chance de vitória. Os argumentos reunidos na proposta apresentada ao Conselho Mundial, em maio, conseguem mostrar uma cidade com qualidades suficientes para realizar um dos mais destacados encontros mundiais sobre saneamento ambiental. Além disso, o fórum, com suas discussões e sugestões sobre os melhores caminhos para resolvermos nossos problemas com saneamento ambiental, vai também beneficiar os 13 países da América do Sul. Assim como o Brasil, toda a região sul-americana, nesses quatro anos de preparação do evento, terá chance de conscientizar grande faixa da população sobre as vantagens e necessidades de melhorar o uso que fazemos da água no campo e nas cidades.
Isso só é possível com a chegada maciça de modernas tecnologias nas áreas do reuso, da dessalinização, da eficiência energética e da redução de perdas. O desconhecimento dessas tecnologias, não é exagero afirmar, prevalece de forma semelhante em todos esses países. A exceção é o Chile, que já atingiu a universalização dos serviços de saneamento. No Brasil, algumas áreas são marcadas pela perda excessiva na produção de água de boa qualidade.
Melhorar a gestão dos processos de produção de água com boa qualidade é contribuir para a estabilidade social e econômica nos países. Em duas vertentes: a) Melhorar a distribuição da água, uma tarefa que, infelizmente, não conseguiu acompanhar nos últimos anos os bem-sucedidos investimentos sociais que tiraram da pobreza milhões de famílias brasileiras; b) A boa gestão vai evitar aumento nos custos para produção de alimentos, universalização dos serviços sanitários, geração de energia e água para os processos industriais — vale lembrar que a água está presente em todos os momentos da vida humana.
Por tudo isso, Brasília tem importante papel a desempenhar nesse campo fundamental para a saúde e o bem-estar da população. A possibilidade de ser escolhida para sediar o Fórum 2018 é grande!