O engenheiro florestal e superintendente da Fundação Pró-Natureza, a Funatura, César Victor do Espírito Santo, é o primeiro a falar com exclusividade ao Blog da Fundação sobre o Código Florestal e o textos aprovados pelo Congresso Nacional. A partir de hoje, vamos apresentar diferentes pontos de vista sob a mesma preocupação: do jeito que está, o Código Florestal só privilegia o agronegócio brasileiro.
A Funatura é uma organização não-governamental brasileira e foi criada em 1986 por um grupo de especialistas da área ambiental. Desenvolve projetos de conservação ambiental a nível local, regional e nacional, dentre eles, o Projeto de Implementação do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, e o de Alternativas de Desenvolvimento do Cerrado, dentre outros.
Na sua opinião o que seria um Código Florestal eficaz, justo e coerente tanto para os agricultores, sociedade civil e principalmente para o meio ambiente?
CV: Seria um Código Florestal equilibrado, tanto para a natureza quanto para os setores produtivos. Algo similar ao que foi proposto na lei de 1965. Esse novo texto não leva ao equilíbrio, pois existem aspectos perigosos para natureza, como o aspecto das áreas desmatadas que acabam causando problemas ainda maiores tanto para áreas urbanas quanto para rurais.
Para o senhor, quais são os principais problemas no texto aprovado pelas duas casas?
CV: As APPs, por exemplo, houve uma diminuição da área protegida, ignorando os tamanhos dos rios. Outra questão é a anistia a quem já desmatou as áreas protegidas. O Governo diz que irá tomar medidas, mas não existe uma fiscalização, a meu ver as coisas vão acabar ficando por isso mesmo e a natureza será seriamente prejudicada.
O senhor acredita que há uma contradição no texto do Código, no que diz respeito a redução de áreas de reflorestamento das margens dos rios, porém para a existência do agronegócio é necessário e fundamental água em abundância e terra de qualidade?
CV: Muitos agricultores têm uma visão imediatista. Querem lucros de qualquer maneira, não existe uma visão de futuro. Áreas importantes de serem conservadas estão sendo destruídas. É importante que haja um planejamento de paisagem, como os 20% de cerrado, por exemplo. Eles entram em APPs começam a monocultura sem verificar antes o que irá acontecer àquela área.
Passeatas e mobilizações no Brasil inteiro contra o texto do Código enviado para a presidente Dilma enfatizam a insatisfação da sociedade civil. O senhor acredita que essa pressão pode gerar resultado para o veto da presidente?
CV: Com certeza vai haver vetos em muitas questões e esses vetos são importantes que sejam feitos, pois são questões inadmissíveis. A sociedade vai gerar pressão, com certeza. Ainda não é tão expressiva, mas o pouco que se organizou surte efeito.
Quais os impactos de uma suposta aprovação pela presidente Dilma do novo Código Florestal para a visão de outros países com relação ao Brasil, que esse ano sedia a Rio+20 e recebe membros governamentais e ambientalistas do mundo inteiro?
CV: Eu acredito que mancha um pouco o Brasil, mas como a Rio+20 trata de lidar com questões globais, esses assuntos internos não são altamente debatidos. A sociedade civil brasileira irá comentar bem mais do que países que participarão da Conferência.
Fonte : Blog da FVHD