Os dados são preocupantes e mostram que houve um aumento da transmissão do vírus principalmente entre jovens na faixa etária de 15 a 24 anos. No mundo, as mulheres são as mais infectadas pelo HIV. Já no Brasil, contrariando a tendência mundial, homens gays voltaram a ser os mais vulneráveis.
De acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV (Unaids), atualmente o Brasil vive a pior epidemia desde 1981. A América Latina, principalmente a do Sul, tem uma epidemia diferente de outros países. Os dados do Ministério da Saúde mostram que a taxa de homens de 15 a 19 anos infectados pelo HIV mais que duplicou nos últimos 10 anos (de 2,9 casos por mil habitantes em 2003 para 6,9 em 2015). O mesmo ocorreu na faixa de 20 a 24 anos (de 18,1 casos por mil habitantes a 33,1). Em todo o país, a proporção de casos de infecção homossexual entre homens foi de 30,8% em 2007 para 50,2% em 2016. Em casos heterossexuais, ela caiu de 47,3% para 38,5% no mesmo período.
Os índices brasileiros vão na contra mão do quem vem acontecendo no resto do mundo, no qual mulheres continuam na faixa dos mais vulneráveis. Segundo dados do Unaids, em 2015, as mulheres eram 60% dos jovens de 15 a 24 anos com HIV no mundo. Hoje, sozinho, o Brasil responde por mais de 40% das novas infecções de aids na América Latina. São 15 mil mortes por ano. Ainda de acordo com o Unaids, o principal fator de alta no Brasil foi o avanço de novos casos entre gays (homossexuais assumidos) e homens que mantêm relações com homens (heterossexuais que admitem manter relações ocasionais com outros homens).
Segundo o diretor executivo do Unaids, Michel Sidibé, “no Brasil, vemos um aumento da aids e em parte por complacência”. De acordo com Michel, o Brasil era o melhor aluno da classe. “Por anos, vimos a força incrível do Brasil, liderando o debate mundial. Hoje, essa força foi perdida. Isso deixa claro que não se pode baixar a guarda.” Desde estudos de 2009, a agência já apontava que a prevenção no Brasil poderia estar falhando – quase metade dos homens que têm relações com outros homens nunca foi testada. Para Sidibé, os governos precisam indagar-se por que tais populações não estão recebendo a atenção necessária. No Brasil, apenas 6% do orçamento contra a aids seria para prevenção. A Unicef fez um alerta no fim de 2016 em que afirma que até 2030 o contágio de HIV por adolescentes pode aumentar até 60%.
Assunto em pauta – Segundo especialistas, quanto mais se fala sobre sexualidade e doenças relacionadas, mais abertura pode-se ter com jovens e adolescentes, principais vítimas da falta de informação. Na avaliação do Unaids, governos precisam focar esforços em populações mais vulneráveis, além de reforçar a prevenção e dar mais opções aos jovens. Apesar dos avanços, só 57% dos infectados sabem ter o HIV e apenas 46% dos doentes (17 milhões) têm acesso a tratamentos. Os diálogos nas escolas são fundamentais, já que grande parte do tempo de um adolescente passa-se no ambiente escolar.
Números da Aids no Brasil – De acordo com o Ministério da Saúde ainda informou que 827 mil pessoas vivam com HIV/Aids no Brasil, desde 1980, início da epidemia de Aids no Brasil, até o final de 2015. Desse total, 372 mil ainda não estão em tratamento, e, destas, 260 mil já sabem que estão infectadas. Um dado que alarmante é que 112 mil pessoas não sabem que portam o vírus HIV/Aids, segundo o boletim.
De 1995 até 2015, houve uma queda no número de mortes causadas pelo HIV. De 9,7 óbitos a cada 100 mil habitantes em 1995 para 5,6 em 2015. O Ministério da Saúde informou que, de janeiro a outubro de 2016, 34 mil novas pessoas com HIV e Aids entraram em tratamento pelo SUS. Em relação ao tratamento da doença, o número subiu de 44%, em 2012, para 64%, em 2015, ou 455 mil pessoas.
Já no caso da detecção de bebês e crianças de até cinco anos, caiu 36% nos últimos seis anos, passando de 3,9 casos por 100 mil habitantes. Um dos critérios é que a detecção de AIDS em menores de cinco anos sejam iguais ou inferiores q 0,3 p/ cada mil crianças nascidas vivas.
Aids no mundo – Segundo os especialistas da ONU, a preocupação com a falta de prevenção não é só no Brasil. “Estamos soando o alarme em todo o mundo. O progresso parou”, disse Michel Sidibé. Segundo Michel, está faltando prevenção e se houver um aumento de novos casos de infecção agora, a epidemia será impossível de ser controlada. “O mundo precisa tomar medidas urgentes e imediatas, com enormes perdas econômicas.” Hoje há 36,7 milhões de pessoas vivendo com a doença no mundo.
A ONU esperava acabar com a aids até 2030.
Fundação Herbert Daniel