Após décadas de silêncio constrangedor por parte das altas esferas do poder público, o drama da população de Santo Amaro da Purificação, cidade do Recôncavo Baiano, foi finalmente trazido à luz por meio de audiência pública na Câmara dos Deputados.
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias promoveu na quarta-feira, 27, audiência para debater a contaminação do solo por chumbo na cidade baiana. A iniciativa é do deputado Roberto de Lucena (PV-SP), que se sensibilizou com a situação das vítimas.
Conforme relatado na audiência, a Companhia Brasileira de Chumbo (Cobrac), subsidiária da empresa francesa Penarroya Oxide S.A., contaminou o município do Recôncavo Baiano com milhões de toneladas de rejeito e cerca de 300 mil toneladas de escória (uma mistura de terra com alta concentração de chumbo).
A população de Santo Amaro da Purificação vem sofrendo diversas doenças graves nos últimos 40 anos por conta da poluição e a contaminação pelo chumbo (Pb) e cádmio (Cd), em nível endêmico no município. Pais, filhos e netos estão contaminados.
Adailson Ferreira, presidente da Associação das Vítimas da Contaminação por Chumbo, informou que existem 940 viúvas em Santo Amaro. “São mulheres sem apoio, passando dificuldades e vendo outras gerações nascendo com problemas graves de saúde”, disse. “Minha neta, senhores deputados, nasceu doente. E eu sei que vou morrer a qualquer instante”, completou aos prantos.
Grupo de trabalho
Para o deputado Roberto de Lucena, a realização da audiência pública representa o primeiro passo para que se faça justiça aos trabalhadores contaminados, seus descendentes e ao povo de Santo Amaro da Purificação. “É uma luta de todos nós, membros da Comissão de Direitos Humanos e Minorias”, enfatizou.
Roberto de Lucena propôs a criação de um grupo de trabalho na Comissão de Direitos Humanos para acompanhar os fatos que envolvem a questão. “Vamos visitar a população, checar as condições das vítimas e levantar suas necessidades. E, para isso, queremos contar, desde já, com o apoio do Governo Federal, por meio da Casa Civil e Ministérios da Saúde; Trabalho e do Meio Ambiente”, disse.
O advogado Itanor Neves, que sempre acompanhou o caso, garantiu que o número de vítimas fatais já ultrapassou os três mil, desde que o problema foi identificado. “É hora das autoridades públicas olharem com mais seriedade para essa questão”, declarou.
Contribuíram com a exposição do tema na audiência o presidente da Associação das Vítimas da Contaminação por Chumbo, Adailson Ferreira; o procurador de Justiça de Santo Amaro da Purificação, Leandro de Almeida; o diretor de saúde ambiental Ministério da Saúde, Guilherme Franco Netto, além do advogado Itanor Neves.