“E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos” – Chico Buarque
Na noite da última quarta-feira (6/2), o Rio de Janeiro sofreu mais uma vez com a intensidade do temporal que se abateu sobre a cidade, provocando 6 mortes e uma incontável soma de perdas materiais. É uma história que se repete há mais de 200 anos na cidade (Machado de Assis, em crônica sobre as enchentes de 1896, cita outras duas grandes enchentes, em 1811 e 1756) e que não consegue conciliar as (poucas) soluções dadas nos últimos anos para o problema, com o crescimento populacional, a ocupação de encostas e o desmatamento.
É fato que a geografia carioca é peculiar. Uma metrópole espremida entre as montanhas e o mar. Isso deixa a cidade bastante vulnerável aos eventos climáticos extremos, que tendem a aumentar no decorrer dos próximos anos.
Por isso, seria preciso um amplo investimento em ações que amenizem o impacto dessas grandes chuvas, reduzindo os danos provocados por elas. O investimento em infraestrutura verde (permeabilização do solo, renaturalização de rios, replantio de árvores nas encostas, muros e tetos verdes, jardins de chuva, etc.) deveria ser uma das prioridades da gestão municipal.
Infelizmente, o que vemos no atual governo de Marcelo Crivella é o oposto. Uma de suas primeiras medidas como prefeito, foi transformar a Secretaria de Meio Ambiente (construída e organizada pelo Partido Verde no início da década de 1990) em apêndice da Secretaria de Conservação. O prefeito também culpou as “árvores velhas”, que o “pessoal do meio ambiente” (ambientalistas) não deixa derrubar pelos deslizamentos ocorridos na quarta-feira. Só faltou dizer que apenas 22% do orçamento para ações de prevenção contra desastres provocados pela chuva foram aplicados nos dois anos de sua gestão.
A agenda ambiental carioca precisa ser retomada com urgência, envolvendo diversos setores, como associações comerciais e de moradores, partidos políticos, especialistas e outras organizações da sociedade civil. É preciso reconstruir a luta ambientalista local, para chegarmos a propostas e soluções que minimizem o impacto dos eventos climáticos extremos na nossa cidade, para que os versos românticos de Chico Buarque não se transformem em profecia.
Para saber mais sobre infraestrutura verde, recomendo esse artigo da paisagista Cecília Herzog e da arquiteta Lourdes Rosa:
http://www.revistas.usp.br/
Por Fabiano Carnevale – Presidente Municipal do PV-Carioca e Secretário de Relações Internacionais do PV.