O prefeito Eduardo Paes optou por decretar feriado durante o Jornada Mundial da Juventude no Rio.Foi uma decisão sensata, consideradas as circunstâncias: o evento já está marcado e a mobilidade no Rio continua dramática. Desde o princípio, apesar de todas as obras em curso, o feriado era a carta na manga. Para evitar complicação, que fiquem todos em casa.
Os assalariados, que creio ser maioria, é sempre mais tempo de folga, sem nenhum abalo no orçamento mensal. Mas existe hoje um número crescente de pessoas que trabalham por conta própria, os chamados autônomos, esforçados empreendedores, nem todos católicos, que vão pagar um tributo à visita do Papa.
O argumento dos organizadores é de que os grandes eventos compensam. Tendo a concordar com eles. No entanto, não se analisam friamente os números, para avaliar o quanto custam para a cidade os feriados que, potencialmente, podem nos paralisar por quatro dias.
Pode parecer um materialismo vulgar, analisar os eventos religiosos sobre o prisma de prejuízo ou lucro financeiro para a cidade. O espírito não se deixa medir pela régua financeira. Nem sempre os feriados são religiosos. E nem todos professam a mesma religião.
Os governantes que têm todos os dados na mão precisam olhar os grandes eventos com muita atenção, procurando, sempre que possível, encontrar uma forma de compensar os autônomos que precisam trabalhar todos os dias. Com a irrelevância da política e o baixo nível parlamentar no Brasil, as minorias ficam mais desprotegidas ainda. E, em certos casos, também as maiorias.
Na semana que passou assistimos a um episódio típico. Por sugestão de uma empresa de Eike Batista, o metrô queria colocar a venda o nome das estações, que passariam a ser patrocinadas. Trata-se de uma denominação geográfica que envolve mapas e a própria história da cidade. Não haveria problema se as estações fossem adotadas pelas empresas, mas serem chamadas pelos nomes corporativos, isso é outra história.
Ao que tudo indica, o governo nem sabia dos planos que o metrô anunciou. E o próprio Sérgio Cabral congelou o tema, até que seja melhor estudado. O processo de internacionalização do Rio é irreversível, assim como sua vocação turística. Mas alguém em algum lugar, até mesmo nos parlamentos, deveria cuidar para que esse processo não arraste com ele a identidade do Rio.
Não somos uma Disneylandia à beira mar. Dá para ser um grande centro turístico afirmando, simultaneamente, a personalidade e a tradição cultural da cidade.
Artigo publicado no jornal Metro em 20/05/2013