Os acontecimentos se precipitam, a noite ainda não acabou. Mas sinto-me no dever de dizer que estou aqui, acompanhando tudo. Durante a semana, preparo o artigo para o Estado de São Paulo. É um comentário, entre outras coisas, sobre o livro de Manuel Castells, Redes de Indignação e Esperança. Ele analisou a Primavera Arabe, o movimento Occupy Wall Street, os jovens indignados na Espanha e analisou o caso pioneiro da Islândia.
O Brasil entrou no mapa internacional das grandes revoltas populares articuladas pelas redes sociais na internet. Fiz hoje um texto para a Band, acrescentando essa ideia: em quase todos lugares, o movimento começa com uma reivindicação pontual e termina com uma vontade de mudar o país.
Isso já aparece nos cartazes das manifestações dos brasileiros aqui e no exterior: desculpem o transtorno mas estamos mudando o Brasil.
Alguma coisa começou e não sabemos todos os seus contornos. Uma revista me perguntou hoje como via o futuro. Disse que o cenário era mais complexo no ano que vem, quando teremos Copa do Mundo, eleições presidenciais e perigo de inflação.
Joseph Blatter falando pela FIFA e expressando também o desejo do governo afirmou que a Copa das Confederações vai arrebatar os brasileiros e vão esquecer de seus problemas. É uma ilusão porque também estão em jogo nas manifestações os gastos com a Copa do Mundo. Ao que tudo indica, as pessoas pedem melhores serviços públicos e combate à corrupção.
É ridículo supor que vão abrir mão de suas queixas apenas porque o Brasil conquistou o título. Joseph Blatter também perguntou onde estavam a educação e o fair play quando o estádio vaiou Dilma em Brasília.
Ele nos vê como torcedores porque está em curso um projeto milionário que enriquece a Fifa e alguns grupos, mas leva enormes recursos do povo brasileiro. É fácil supor como os acontecimentos mexeram comigo e me trouxeram esperança. Sem prejuízo do trabalho, pretendo agora voltar com um texto diário. As vezes não dá nem para esperar um dia. De qualquer forma, até amanhã.
No Rio, onde se fez a maior manifestação do Brasil, houve violência e isto não é bom. Um dos aprendizados do século XX foi rejeitar a tese de que os fins justificam os meios.
Sei que os conselhos as vezes parecem pretensão. Mas a história nunca começa do zero, sempre é renovada com as lições do passado. É possível questionar o transporte coletivo, os gastos da Copa, os serviços públicos, falar em mudanças no Brasil –tudo isso sem violência.
Fonte : Blog do Gabeira