Não é preciso mais imaginar como será a Copa, porque, de certa maneira, ela começou com a partida Brasil e Inglaterra. Visitei o entorno do Maracanã na véspera do jogo e constatei que as piscinas do complexo Júlio Delamare estavam cercadas com grade.
Só dois pombos conseguiram furar o bloqueio e talvez sejam os últimos frequentadores do lugar que o governo pretende demolir. Entre os entusiastas do esporte aquático no Rio, há uma sensação de perda com o surgimento do novo Maracanã. Será que o futebol é tão importante assim, a ponto de engolir as piscinas para construir estacionamentos ou shoppings?
Milhares de trabalhadores ainda estavam em atividade no entorno do Maracanã. Aquele chamado Museu do Índio, lembram? Já está enquadrado pelas máquinas e hoje é apenas um depósito de material.
Os taxistas que tinham um ponto defronte ao estádio também desapareceram dali. Pelo volume das obras e o material ainda em depósito, é possível deduzir que o trabalho vai continuar nas próximas duas semanas.
O destino do complexo Júlio Delamare ainda não está selado. A Procuradoria contesta sua demolição, argumentando que os custos deveriam ser pagos pela empresa concessionária do Maracanã.
Um outro setor da justiça, a Defensoria Pública da União, considera que o complexo Júlio Delamare não atrapalha os jogos, nem o fluxo de torcedores que vão comparecer ao estádio.
Todos esses dramas do esporte aquático ficam em segundo plano, diante da reconstrução do monumental templo de futebol. Até a véspera do jogo Brasil-Inglaterra, a dúvida da justiça era se havia segurança para o jogo inicial.
Uma juíza chegou a suspender a partida. A PM deu um laudo favorável e parece que o problema foi superado. Para mim, o entorno deveria estar pronto na Copa. Há um problema de segurança sim, quando o estádio ainda está cheio de material de construção e seu entorno tomado pelo acabamento das obras.
Há pedra, areia, ferro retorcido, enfim muitos materiais que se transformam em armas, quando a torcida sai enfurecida de um jogo. Tudo isso dá para resolver até os primeiros encontros oficiais. O que não dá para resolver ainda é o destino do Júlio Delamare, cuja piscina coberta é um excelente espaço de hidroterapia para tantas pessoas necessitadas.
O espírito do chamado novo mundo e este: construir e destruir incessantemente. Por causa disso, alguns arquitetos para defini-lo usam a célebre frase de Karl Marx: tudo que é sólido se desmancha no ar.
O pior que o Júlio Delamare é sólido mas tem uma grande parte líquida que também deve se evaporar diante da marcha do progresso, na versão dos nossos governantes.
Fonte : Blog do Gabeira