Um ano depois da catástrofe, artista brasileiro lembra ao mundo que nada foi feito.
Por Katherine Rivas, da Envolverde*
Um ano depois da tragédia de Mariana (MG), ocorrida no 5 de novembro de 2015, O G20 recebe o quadro “Mariana Nunca mais” para lembrar ao mundo que desde o acidente nada foi feito nem restaurado.
A obra está sendo apresentada na exposição “2016 China Hangzhou G20 International Art Exchange Exhibition” que iniciou no dia 11 e vai até 23 de outubro na China. O evento é paralelo ao encerramento das atividades do G20.
O autor Silvio Dworecki resolveu fazer três pinturas representando o Rio Doce e suas etapas de destruição. Os três quadros foram feitos ao óleo, e unidos têm a dimensão de 4mx 1,90. A técnica utilizada é conhecida como tríptico semelhante a uma história em quadrinho.
A narrativa dos quadros apresenta um primeiro rio de cor azul, simbolismo do Rio Doce com vida antes da tragédia. A arte mostra o rio em processo de destruição com cores vermelhas, um rio de barro e sangue. O artista utilizou a técnica de escorrer tinta na tela para dar a imagem de fluência dos rios.
Na terceira pintura Dworecki cria um rio prata, de textura mais dramática, representando água que vira metal, um Rio Doce morto e inutilizável.
O artista foi convidado para representar o Brasil no G20, e iniciou a obra em setembro concluindo-a em quinze dias. Ele afirma que escolheu Mariana como tema porque achou necessário lembrar que um ano depois da tragédia ninguém foi punido e a catástrofe precisa da atenção do mundo. “Ir para o G20 é representar o Brasil fora, eu senti que devia chamar a atenção do mundo para Mariana. A arte tem a função de acordar as pessoas para as questões da existência e do meio ambiente”, explica.
Além de Silvio, que tem obras expostas no Masp e na Pinacoteca do Estado de São Paulo e é livre-docente da FAU-USP, a comissão de representantes brasileiros é formada por Renata Barros, artista que tem mostras em museus como Masp, MAC USP e Pinacoteca do Estado de São Paulo, e Lia do Rio, que já participou de exposições em Nova York, Tóquio, Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra.
A obra “Mariana Nunca Mais” é de caráter inédito e ficará exposta de forma permanente no Museu do G20. O artista comenta que no seu retorno organizará eventos com jornalistas para que a data 5 de novembro não passe desapercebida.
Esperança e desafios
Dworecki tem a expectativa de que a tragédia de Mariana chegue em mais pessoas no mundo e nunca seja esquecida. Ele considera que durante 2016 o Brasil focou sua atenção em questões como a Lava Jato deixando de lado uma catástrofe ambiental, de igual importância. “Estamos fazendo uma ferida muito profunda na nossa casa e nada está sendo feito. Talvez agora nada mude, mas após a exposição muitas pessoas se sentirão alarmadas e vão se conscientizar. Isso já é um grande avanço”, diz.
Para o artista o brasileiro, não há tempo para pensar em Mariana por causa da crise política e econômica. Mas isso não o exonera da responsabilidade com aqueles que tinham em Mariana meios para subsistir.
Antes da viagem Dworecki confessou estar preocupado com o fim da obrigatoriedade das aulas de arte nas escolas públicas. Na visão dele a arte vai muito além de um castelo de Crista por ser uma profissão que tem a função social de acompanhar o mundo denunciando irregularidades. “A arte saiu dos currículos das escolas e isso é uma negligencia ambiental, política e educacional” enfatizou Dworecki. Segundo o artista, quem apoia isso é tão negligente como quem permitiu que a catástrofe de Mariana acontecesse.
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