‘Apoiamos a agenda que trouxe emprego’, afirmou o senador
Para o senador Aécio Neves (PSDB-MG), seu partido tem grandes chances de sair vitorioso das urnas no próximo ano. Por não ver alternativas para a sustentação do crescimento econômico do país sem reformas, os eleitores, acha, tendem a escolher um candidato de centro.
Ele defende o apoio que os tucanos deram ao presidente Michel Temer até recentemente, sob o argumento de que isso foi essencial para ajudar o país a sair da recessão. “Agora é o momento de o PSDB defender seu projeto nacional sem se envergonhar de ter participado de um processo de esforço para a retomada da economia”, afirma.
Aécio se defende das acusações apresentadas pelo Ministério Público e afirma que sua inocência ficará clara ao longo do processo.
O senhor espera ter o presidente Michel Temer no seu palanque?
Acho que o presidente Michel Temer não vai participar de palanques. E a pergunta é até uma oportunidade para repor algo que acho essencial para a compreensão do papel do PSDB em todo esse processo, porque, dentro do próprio partido, existem incompreensões. Vejo alguns gritando pela impopularidade do presidente e “fora Temer”; não temos nada com isso. Tinha um Brasil que não caminhava. Demos um apoio a essa agenda de reformas e nunca deixamos de dizer que o PSDB tem um projeto nacional. Agora é o momento de o PSDB defender seu projeto nacional sem se envergonhar de ter participado de um processo de esforço para a retomada da economia. O PSDB ajudou na construção desse novo ambiente econômico, mas acho que um governo do PSDB, do ponto de vista nacional, é que pode alavancar essa retomada do crescimento de forma muito mais vigorosa do que temos hoje.
Como explicar para o eleitor que o partido ficou no governo Temer até as vésperas das eleições e agora sai?
Apoiamos o Michel por responsabilidade com o Brasil. Apoiamos uma agenda que possibilitou a retomada do emprego, do crescimento, com inflação e juros mais baixos. Essa é a herança que vamos compartilhar na campanha eleitoral, porque, sem o apoio do PSDB, nada disso teria acontecido, até pela inserção do PSDB na sociedade. Se tivéssemos feito o que sempre faz o PT, se o PSDB tivesse se decidido em razão do seu interesse, podia ter deixado o governo Temer naufragar, mas quem naufragaria seria a população desempregada, as empresas fechando. Ajudamos nessa transição sempre dizendo: esse não é o nosso governo, o nosso governo precisará ser eleito.
A candidatura do governador Geraldo Alckmin ainda não decolou. As pesquisas mostram Lula e Bolsonaro na frente. O PSDB pode se tornar coadjuvante nessas eleições?
Acho que não. O governador Geraldo Alckmin precisará realmente fortalecer seu discurso e andar pelo país, mas há um espaço grande da construção de uma aliança ampla no centro, incluindo o compromisso com essas reformas. Só elas vão permitir ao Brasil voltar a crescer, o resto é balela. A candidatura do Lula será sempre uma incógnita em razão dos problemas que ele enfrenta. Vejo na candidatura Bolsonaro, com quem tenho boa relação pessoal, uma manifestação muito mais de protesto contra tudo que está aí do que algo já preparado para um enfrentamento presidencial. Acho que aquela força de centro que conseguir aglutinar maior número de apoios e falar diretamente à população da necessidade de reformar o Estado brasileiro é que terá maior chance.
A se confirmar a polarização entre Lula e Bolsonaro, o PSDB fica com quem? O partido se uniria a uma candidatura de extrema-direita só para não deixar o PT voltar ao poder?
Eu espero que a população brasileira não esteja frente a esse dilema. Acho que haverá espaço para uma construção de centro, e é nela que o PSDB tem de buscar seu protagonismo, com alianças verdadeiras, mas, sobretudo, com aliança com a população. O quadro está totalmente indefinido ainda. O PSDB tem de andar rápido e não temer se reencontrar com sua história. Tem de refazer seu caminho de compromisso com as reformas, o Estado eficiente e uma visão mais liberal para a economia com uma inserção maior no mundo, no sentido de atrair investimentos.
O senhor trabalha com a hipótese de ser condenado nas investigações da Lava-Jato?
Nenhuma. As acusações que me fazem, todas dizem respeito a financiamento de campanha. Eu era presidente de partido e o apoio às campanhas estaduais e nacional era feito por empresas privadas. Elas doavam para os partidos políticos e esses recursos eram registrados na Justiça Eleitoral, estão todos lá. Os investigadores avançam e chegam à conclusão de que o recurso foi aplicado em campanha eleitoral. Tenho plena confiança de que tudo isso vai ficar esclarecido. Houve uma movimentação de criminalizar as doações eleitorais em determinado momento, misturando o que é lícito com o ilícito. Tem algo em comum em todos os depoimentos. Todos dizem que Aécio nunca deu contrapartida. É isso que está levando a que inquéritos caminhem para o arquivamento.
Em relação à JBS, o senhor precisava do empréstimo e pediu a Joesley, mas por que o dinheiro foi entregue em uma mala?
Na verdade, e uma gravação que havia sido omitida por ele mostra isso, minha irmã ofereceu a Joesley um apartamento que já havia sido oferecido a quatro ou cinco empresários. Com o objetivo de obter sua delação, ele disse “não tenho interesse, mas empresto o dinheiro, quando venderem o apartamento, você me paga”. Ele que fez questão de que fosse daquela forma, em dinheiro. Ele disse na gravação, “tem dinheiro das minhas lojas e eu vou te emprestar”, dinheiro privado. Obviamente, por que insistiu que fosse daquela forma? Para criar a imagem, fazer a fotografia e vender isso para a Procuradoria-Geral da República como estímulo aos benefícios que eles tiveram. Ele insistiu em que fosse dessa forma. Foi um erro aceitar. Foi a forma como ele propôs que eu pagasse os advogados. Agora, onde está o crime? Foi uma armação com conhecimento de membros do MP para que conseguissem sua delação. Em 24 de março, o sr. Joesley participa de uma reunião na PGR durante várias horas, assina um pré-acordo de delação, sai dessa reunião e vai fazer comigo essa gravação, que é um ato ilícito. E, mesmo nessa conversa, não conseguiu encontrar nenhum crime, tanto que a denúncia da Procuradoria não cita contrapartida nem crime algum.
O último relatório da PF diz que apreenderam chips de celular na sua casa em nome de laranjas. Como explica?
Não recebi isso ainda. Não sei de quem são esses telefones, estou esperando que possamos ter acesso para explicar. Porque era uma casa usada desde a campanha eleitoral por muita gente, quero entender isso para dar explicações cabais. Mas eles próprios investigaram ligações desses telefones e não há ligação que pudesse ser comprometedora. Aliás, em razão desse episódio da JBS, houve essa busca e apreensão, que será um ativo importante na minha defesa, porque não se encontrou nada que pudesse apontar para o cometimento de alguma ilegalidade. Isso vai ficar, no final, provado.
Neste ano o senhor viu sua irmã ser presa e foi afastado do Senado. Qual foi o pior momento?
Essa, de todas as questões, foi a mais absurda, porque a Andrea, que Minas conhece pela correção absoluta, marcou um encontro com ele, a quem não conhecia, para oferecer um apartamento. Isso é corroborado por um telefonema em que ela o convida para conhecer o apartamento da minha mãe, que estava à venda e ponto. A participação dela é apenas essa. Foi levada de roldão em uma injustiça absurda. Acho que a Justiça vai reconhecer no final. Houve ali uma ação despropositada do Ministério Público Federal em uma questão que o tempo vai mostrar que, se houve crime, ele não foi cometido por mim e muito menos por ela. E sim por esses empresários, agora se sabe, com apoio e solidariedade de membros do Ministério Público.
Fonte: Correio Braziliense