Ritmo da reação será determinante para poupar vidas, afirmam cientistas: quanto mais cedo ela ocorrer, maior será a chance de sobreviver
DO OC – Reduzir as emissões de gases de efeito estufa faz bem para a saúde. Isso você já sabe. Mas um estudo publicado nesta segunda-feira (19) pela revista científica Nature Climate Change estimou o benefício: é possível salvar a vida de até 153 milhões de pessoas antecipando – e intensificando – a redução do carbono liberado para a atmosfera nas próximas décadas, sem ultrapassar a marca do 1,5°C até o fim do século.
O estudo monitorou 154 áreas urbanas e indicou os locais que serão mais castigados pelos efeitos do carbono na atmosfera. No topo do ranking estão as cidades indianas de Kolkata e Déli. Elas podem perder mais de 4 milhões de habitantes cada uma até o fim do século devido à poluição do ar. Moscou, São Paulo, Los Angeles, Puebla (México), Nova York e Cidade do México, juntas, podem ser responsáveis pelas mortes de 120 mil a 320 mil habitantes no mesmo período.
“A ciência já tem uma boa compreensão sobre os efeitos da poluição do ar no corpo humano. Podemos dizer com um grau de certeza relativamente alto que algumas cidades serão duramente afetadas se continuarmos nesse grau de não mobilização”, disse Karl Seltzer, pesquisador da área de ciências da terra e do oceano da Universidade Duke, nos EUA, e um dos autores do estudo. “O grande problema é que as pessoas tendem a acreditar que as mudanças climáticas terão impacto em lugares distantes, nunca em sua cidade ou em seus familiares”, afirma.
Nas três simulações feitas pelos pesquisadores, o ritmo da ação climática é determinante: quanto mais cedo e intensa ela ocorrer, maior o número de mortes evitadas. Ao reduzir drasticamente a liberação de carbono na atmosfera, com um acréscimo na temperatura limitado a 1,5°C até o fim do século (a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris), será possível evitar as mudanças climáticas mais graves e a morte de 153 milhões de pessoas. A comparação foi feita com o cenário que bate os 2°C no fim do século e no qual a ação climática é lenta. Nestas condições, 40% das mortes ocorreriam nos próximos 40 anos.
O último relatório divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) revela que uma em cada quatro mortes no mundo foi causada por questões relacionadas ao meio ambiente. Boa parte delas tem relação indireta com as mudanças climáticas, como diarreias, doenças transmitidas por mosquitos e desnutrição. A associação de doenças a causas ambientais é maior em países de baixa renda, onde o impacto tende a ser ainda maior. No Brasil, cerca de 15% a das doenças poderiam ser evitadas por medidas ambientais. Não é que o clima seja a causa das doenças, mas ele pode estar associado ao aumento do risco de contraí-las. (LUCIANA VICÁRIA)
Fonte: Observatório do Clima