Por José Luiz Penna – presidente nacional do PV
Segundo estimativas da ONU, em boletim divulgado nesta segunda-feira, o bloco dos países emergentes de fato sofrerá um impacto colossal, com o Brasil despontando como um dos mais afetados, por conta da queda no comércio exterior, quebra no preço de commodities e fuga de capital. Pelo documento o pacote para resgate inicial do bloco não sairá por menos de 2,5 trilhões de dólares – algo próximo ao dobro do PIB brasileiro
No plano nacional, já há sinais de movimento em desespero pela falta de dinheiro e alimento nas comunidades mais carentes aprofundada pelo isolamento, notadamente no Sudeste, que concentra a maior fatia desses aglomerados, como destaca a Folha de domingo. Na rede hospitalar, mesmo com a espiral da contaminação ainda em formação, a demanda por leitos de UTI já se insinua explosiva. Em função disso, a corrida nesse pela construção de hospitais de campanha a toque de caixa.
Em outra ponta segmentos contrários à política de isolamento pressionam pela retomada da economia já. A principal ameaça do momento vem dos magnatas do setor varejista, que sinalizam com a demissão de um terço de seus 1.8 milhão de empregados. O tambor do varejo vem coadjuvado pelas buzinas das hordas bolsonaristas, que saem às ruas em seus carros para defender que seus empregados sigam para o trabalho de peito aberto contra a pandemia – em sintonia com peça publicitária do governo federal sob o slogan “O Brasil Não Pode Parar”, cuja veiculação afinal acabou proibida pela justiça federal do Rio.
Todo esse desatino em torno da necessidade emergencial de preservar vidas e a retomada da atividade econômica leva a chancela do (des)governo do capitão Messias Bolsonaro. Ninguém em sã consciência ignora os efeitos colaterais de uma paralisação prolongada. Nem tampouco desconsidera a catástrofe que adviria com a falta de medidas de restrição.
Mas não estamos falando de alguém de mente sã. Por desígnios insondáveis coube ao país a infelicidade de viver um dos momentos aterradores da humanidade sob o signo da ignorância e da vilania. Assim o país está condenado a dois martírios: o temor pela pandemia e o descontrole causado pelos delírios autoritários do capitão presidente.
No sábado seu ministro da saúde, Luiz Mandetta, em pronunciamento de mais de duas horas, falou da necessidade de se manter a quarentena de acordo com o estabelecido, negando qualquer possibilidade de isolamento seletivo ou vertical. E lembrou que a retomada da atividade econômica só deverá ser feita mediante critérios técnicos previamente estabelecidos. Isso depois de uma reunião pela manhã no Planalto, em que traçou, para o presidente e parte do seu ministério, cenários sinistros resultantes de eventual descontrole da doença.
Não adiantou. No domingo pela manhã Bolsonaro saiu às ruas para voltar a atacar as medidas de isolamento, em afronta direta a seu ministro e à comunidade científica. “Normalmente o populista cria uma espécie de ambiente tóxico na política entre ele e seus oponentes”, diz o cientista político americano Steven Levitsky, autor de Como As Democracias Morrem, para quem o capitão continuará com a mesma estratégia populista com que chegou ao poder. Segundo Levitsky, em entrevista exclusiva ao Estadão, “na crise em que o Brasil se encontra, não há nenhuma garantia de que Bolsonaro se comportará democraticamente.”
Certamente não. É pelo impasse que o capitão se move, é no caos que ele busca sustentação, não importam quais sejam as consequências. O capitão deixou de ser um problema político para se constituir em risco letal à nação. Por isso passou da hora de remover esse cidadão da cadeira presidencial, dado já perceptível por parcelas significativas da sociedade civil e da própria classe política. Pelo conjunto da obra, traduzida pelo risco institucional e por sua notória incapacidade de conduzir o país nesta travessia dramática, é que nós da frente partidária de oposição endossamos o documento em que pede sua renúncia.
Espero que este manifesto sensibilize seus pares dentro do governo e que estes ajam para que as propostas econômicas de enfrentamento à crise, muitas delas nele contidas, possam ser debatidas e levadas a termo para mitigar os efeitos nefastos que deverão recair sobre a população.