Por: Eduardo Jorge*
Um movimento revolucionário fermentana vida de milhares de pessoas em vários países. Ele é discreto, pacifista, construtivo, agregador e vem para ser um dos principais motores de implementação do desenvolvimento sustentável.
Vem para reformar profundamente as formas de viver, conviver, produzir, consumir, de se relacionar com os limites da natureza, com as outras espécies de seres vivos. Vem para revolucionar o capitalismo e o socialismo. Seu nome é simplicidade voluntária.
Suas raízes mais longínquas podem ser procuradas nas conversas de Jesus Cristo ou Buda com seus seguidores há mais de 2.000 anos no Oriente Médio ou subcontinente indiano. A força de sua atração transformadora mudou os impérios da Antiguidade.
Mais recentemente, quando do ano 1000 da era cristã, são Francisco de Assis lançou novamente, numa vertente ultrarradical, um movimento para reformar o império religioso, opulento e obeso que se dizia herdeiro de Cristo em Roma.
Lutero na Alemanha, os Quaker na Inglaterra e Inácio de Loyola do lado da Contrarreforma de certa forma retomaram a crítica esquecida pelos poderosos da época. Os papas João 23 e Francisco vêm dessa linhagem. Mas foi com Gandhi na Índia que podemos dizer que a simplicidade voluntária atingiu sua formulação mundana e atual.
Ela é uma espécie de síntese de todas as reformas e mudanças culturais que ele propunha como alternativa de liberdade e de vida equilibrada para o grande país asiático, que ao se libertar do domínio inglês marcou o fim do maior império colonial da história.
A fórmula de Gandhi tem cada vez mais trânsito em diferentes culturas. Para nós, do Ocidente, a facilidade de entendê-la e senti-la vem da influência que ideias de Jesus, Tolstoy e Henry Thoreau tiveram sobre a formação do pensamento gandhiano.
A simplicidade voluntária não é opção pela pobreza. É opção pelo essencial, pelo que é necessário para nossa vida e para a vida da comunidade. Não é uma visão totalitária, pois o essencial e o necessário são sempre diferentes em cada um de nós, mas é uma crítica tenaz, permanente, contra o consumismo moderno, contra a opressão da extrema riqueza e da extrema pobreza que permitem que exista um país como os Estados Unidos da América ao mesmo tempo em que existe uma Etiópia. E que permite que existam, em cada país, diferenças tão grandes quanto essas de Los Angeles e Adis Abeba.
Ela também não é uma utopia regressiva, hostil à inovação e ao desenvolvimento científico e tecnológico. Apenas pretende dar um sentido ético a esse desenvolvimento.
As propostas da ONU chamadas de desenvolvimento sustentável e cultura de paz têm na simplicidade voluntária a sua mais acabada fusão. Elas querem redimensionar todas as políticas públicas atuais, da educação à mobilidade, da segurança pública à política habitacional, da política energética à agricultura.
O Partido Verde do Brasil, neste ano tão importante de escolhas sociais e políticas, deseja ter a oportunidade de conversar com os brasileiros sobre isso. O país, pela diversidade de seu povo e por sua natureza abençoada, pode e deve ser uma liderança nesse novo internacionalismo que reconhece na Terra uma pátria comum da humanidade e de todos os outros seres vivos que dividem conosco o planeta azul.
* Eduardo Jorge é dirigente nacional do Partido Verde