Por Rayssa Tomaz, jornalista, mãe de três crianças, ativista e Secretária de Juventude do PV-DF.
A pandemia do novo coronavírus alterou as dinâmicas familiares em todo o mundo. Os novos desafios incidem de forma ainda mais marcante nas famílias monoparentais. Conceitualmente e para efeitos jurídicos, são as unidades familiares em que um único adulto é responsável pelos filhos, sejam eles biológicos ou adotivos.
Segundo dados da pesquisa da Escola Nacional de Seguros, intitulada “Mulheres Chefe de Família no Brasil: Avanços e Desafios”, estas composições somam cerca de 15,3% da população. Outro dado importante é o fato de 80 mil crianças terem sido registradas sem o nome do pai apenas em 2020, segundo dados da Associação Nacional dos Registradores Civis de Pessoas Naturais – Arpen Brasil. O número é cerca de 6% maior que 2019.
Divulgadas as primeiras informações sobre o Plano Nacional de Imunização do Governo Federal, foram elencados os grupos prioritários de vacinação. Estão na lista os profissionais de saúde, os idosos e com comorbidades, os professores e profissionais essenciais e de segurança. Nada sobre adultos, principalmente mas não exclusivamente, mães em famílias monoparentais, a despeito de suas especificidades que a tornam um grupo de alto risco.
Iremos imunizar os professores – importante para a retomada das aulas presenciais. Mas o retorno das escolas coloca famílias em risco, uma vez que as crianças poderão levar a doença para a casa, afetando a curva etária e de gênero da doença.
São muitos os relatos de mães contaminadas pela COVID-19 e que, sozinhas, tiveram que manter os cuidados com as crianças ao passo que sofriam do medo e da ansiedade de serem internadas. Quem cuidaria de seus filhos?
O lado mais perverso da pandemia, talvez, tenha sido o de separar os mais velhos dos mais jovens. O lugar dos avós na criação dos netos tem sido cada vez em maior destaque nas famílias brasileiras. Os dados mostram que os avós idosos, grupo mais afetado por formas graves da doença e com maior incidência de mortes por COVID-19, auxiliavam em muitos casos as mães que precisavam trabalhar. No contexto de isolamento social, muitas famílias ficaram sem esse essencial amparo.
Como consequência, foi registrada ainda uma maior ocorrência de demissões de mulheres, em relação aos homens, no segundo trimestre de 2020. Em junho, 5 milhões de homens deixaram os postos de trabalho na última quinzena de março e 7 milhões de mulheres ficaram desempregadas – segundo dados da PNAD.
Como retornar ao novo ‘normal’ sem discussões sérias e efetivas sobre famílias monoparentais, relativa à redução e adaptação de jornada, auxílio dos contratantes, orientações específicas e, especialmente, sem vacina?
É preciso reconhecer que houve uma diferenciação no auxílio emergencial para as mães solo, mas as necessidades vão além dos recursos financeiros. Adultos em composição familiar monoparental têm que ter acesso rápido à imunização contra a COVID-19.