O fenômeno é explicado no relatório como ‘perda de resistência significativa e repentina’ e aponta que os materiais na barragem apresentavam ‘comportamento frágil’. Barragem se rompeu em janeiro, 257 corpos já foram identificados e 13 vítimas seguem desaparecidas.
Um estudo técnico contratado por um escritório de advocacia que atende a Vale confirmou que a causa do rompimento da barragem da mineradora em Brumadinho foi “liquefação”, que é quando um material sólido passa a comportar como fluido. O laudo foi divulgado nesta quinta-feira (12).
A barragem B1, da Mina Córrego do Feijão, se rompeu em 25 de janeiro e vitimou 270 pessoas. Peritos já identificaram 257 mortos. Outras 13 pessoas ainda estão desaparecidas. Esta é a primeira vez que a causa do rompimento é divulgada. A Polícia Civil de Minas Gerais disse, em 28 de novembro, que havia concluído o laudo sobre o desastre, mas não revelou o resultado da perícia.
O fenômeno é explicado no relatório como “perda de resistência significativa e repentina” e aponta que os rejeitos e outros materiais que estava na barragem apresentavam “comportamento frágil”. Isso significa que o fluxo de água presente nesse material exerceu uma força que anulou o peso e a aderência de suas partículas, fazendo com que elas ficassem soltas.
Seis dias após a tragédia, o subsecretário de Regularização Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente de Minas, Hildebrando Neto, disse que tudo indicava que o rompimento da estrutura poderia ter sido causado por liquefação, que foi o mesmo fenômeno causador do colapso da barragem da Samarco em Mariana, em 2015.
Impactos do rompimento
Cão farejador é usado por bombeiros na busca por vítimas da lama da barragem estourada em Brumadinho — Foto: Mauro Pimentel/AFP
O estudo usou imagens de satélite para medir os volumes de antes e depois do rompimento da barragem e determinar quanto de rejeito havia sido despejado.
O resultado foi que 9,7 milhões m³ de rejeitos vazaram no rompimento, o que corresponde a cerca de 75% de todo o material que havia na estrutura antes do colapso. O volume do pré-rompimento era de 12,7 milhões m³.
Desde o dia do desastre, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais mantém dezenas de militares na região na que já é considerada a maior operação de busca e salvamento da história do país.
Além dos bombeiros, cães farejadores e equipamentos, como retroescavadeiras e drones, são usados com o objetivo de localizar todos os corpos. Até o momento, 257 mortos foram identificados e 13 desaparecidos ainda são procurados.
Gatilhos do rompimento
O relatório ainda apontou vários gatilhos que podem ter contribuído para a desestabilização da barragem.
- Carregamento rápido, como construção ou lançamento de rejeitos;
- Carregamento cíclico rápido, como sismos ou detonações;
- Carga por fadiga, como detonações repetidas;
- Descarregamento, como aumento dos níveis de água no solo e movimentos, como dentro da fundação ou devido à presença de camadas fracas;
- Erosão interna e/ou “piping”;
- Interação humana;
- Perda localizada de resistência devido ao fluxo de nascentes subterrâneas;
- Perda de sucção e resistência em zonas não-saturadas acima do nível da água;
- “Creep” (deformações específicas que se desenvolvem com o tempo sob carga constante).
O Comitê Independente de Assessoramento Extraordinário de Apuração da Vale, constituído pelo Conselho de Administração da mineradora em 27 de janeiro, portanto dois dias após a tragédia, investiga o rompimento da barragem e divulgará seu relatório em outra data.