Australianos vão às urnas com trabalhistas favoritos para retomar poder
Passados seis anos de governo conservador, a oposição trabalhista é a favorita nas pesquisas de opinião nas eleições australianas neste sábado, 18 – sexta-feira, 17, no Brasil. Na disputa acirrada das últimas semanas, os candidatos se desdobraram para cativar os eleitores com propostas sobre imigração, mudança climática e estagnação salarial
A Austrália ficou conhecida pela alternância acentuada de poder. Desde 2007, nenhum primeiro-ministro conseguiu completar um mandato. O atual premiê, Scott Morrison, é o quinto a governar o país em cinco anos e pretende manter-se no cargo por mais um mandato.
Desde 1968, representantes dos partidos Liberal e Trabalhista se revezam no cargo. Morrison assumiu em setembro de 2015, depois de uma eleição interna da sua legenda. Tornou-se o sucessor de Malcolm Turnbull, que renunciou ao ser atingido por um golpe interno.
O atual premiê é defensor de ideias socialmente conservadoras e do liberalismo econômico. O político de 51 anos é cristão praticante e fez da redução de impostos e do bom manejo da economia nacional sua principal carta de apresentação. Por outro lado, não hesita em mostrar-se como um linha-dura em temas como a imigração ilegal e o retorno de combatentes jihadistas ao país, depois da derrota do Estado Islâmico na Síria.
O favorito nestas eleições, contudo, é o líder trabalhista Bill Shorten, ex-líder sindicalista favorável à transformação do país em uma república. O político defende em sua campanha a igualdade de gênero, o acesso gratuito às creches, melhorias na saúde e na educação públicas, assim como ações drásticas para reduzir os efeitos da mudança climática.
Shorten chega ao pleito como candidato unificador do Partido Trabalhista, depois de um período de revoltas internas ocorridas durante a permanência da legenda no poder, entre 2007 e 2013.
Apesar das previsões apontarem a vitória dos trabalhistas, uma surpresa não é impossível. A Austrália é mais um país a registrar o aumento do ceticismo em relação aos partidos tradicionais, fomentado pela queda do poder aquisitivo e pela elevação da desigualdade social.
A campanha registrou vários momentos de violência, com candidatos agredidos e outros que desistiram após sofrerem ataques racistas e sexistas nas redes sociais.
Scott Morrison foi atingido por um ovo durante um dos seus atos eleitorais em Albury, no sudeste do país. O ataque aconteceu na Associação de Mulheres Rurais, mas o ovo não quebrou.
Outros candidatos
Tony Abbott, que foi premiê entre 2013 e 2015, também pleiteia o posto mais alto dentro do governo australiano. Apesar de ser do mesmo partido de Morrison, aparece como uma liderança visível da ala conservadora. A corrida também se divide entre o ex-médico Richard di Natale, a ultranacionalista Pauline Hanson e o milionário Clive Palmer.
Di Natale tornou-se líder do Partido Verde em 2015 e assumiu um papel crucial na legalização do casamento gay e no melhor tratamento aos solicitantes de refúgio detidos em centros situados nas ilhas do Pacífico. Já Hanson, da legenda Uma Nação, consolidou sua popularidade com discursos anti-imigração.
Magnata dos setores da mineração e imobiliário, Palmer, foi considerado como uma das 200 pessoas mais ricas do país em 2016. Candidatou-se pelo Partido Unido da Austrália com um discurso populista e conservador e o lema “Vamos fazer a Austrália grande”, similar ao de Donald Trump nos Estados Unidos.
Mudança climática e política energética
A mudança climática e a política energética têm sido temas sensíveis tanto para os governos do Partido Trabalhista como da coalizão Liberal-Nacional há mais de uma década.
O governo da ex-premiê Julia Gillard (2010-2013) foi fortemente criticado por ter criado um imposto sobre as emissões de dióxido de carbono (CO2), enquanto a coalizão conservadora é questionada por favorecer o uso do carvão para a geração de energia e argumentar que as energias renováveis aumentam o preço das tarifas de eletricidade.
As eleições deste sábado – sexta-feira, no Brasil – coincidem com o fortalecimento de protestos populares em favor de medidas mais incisivas para reduzir os efeitos da mudança climática e em rechaço ao projeto de uma mina de carvão perto da Grande Barreira de Coral, um Patrimônio da Humanidade situado no nordeste da Austrália.
O temor de imigrantes
Com mais de 24 milhões de habitantes, concentrados principalmente na faixa litorânea do sudeste, o país tem na imigração e no controle demográfico alguns dos principais assuntos de debate.
A chegada de estrangeiros, sobretudo nas cidades de Sydney e Melbourne, e a pressão sobre as infraestruturas levou o governo a reduzir a cota anual de imigrantes permanentes de 190.000 para 160.000 e a adotar medidas para promover a migração para cidades do interior e zonas rurais.
A política de imigração dos últimos anos ficou marcada pelo envio de estrangeiros solicitantes de refúgio a centros de detenção em Nauru e Papua Nova Guiné, no Oceano Pacífico. O fato tem provocado críticas de organismos internacionais e organizações de direitos humanos contra o país.
A questão gerou grande controvérsia mundial e sofreu um ponto de inflexão após as reivindicações de médicos, políticos e de parte da população por melhorias no tratamento dos imigrantes. A mobilização resultou em uma lei para facilitar a imigração de estrangeiros à Austrália por razões médicas.
O governo conservador defende o controle das fronteiras para evitar também a entrada de possíveis terroristas. Mas suavizou o seu discurso anti-imigração muçulmana após o ataque contra duas mesquitas na Nova Zelândia em março promovido por um cidadão australiano.
Resistência à crise
A Austrália registra quase 30 anos de crescimento econômico ininterruptos e prevê expansão de 3% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2021. No ano passado, o crescimento foi de 2,3%. Embora o desemprego se mantenha estável em 5%, os trabalhadores enfrentam estagnação dos salários e alto custo de vida, principalmente de habitação. A atual situação dificulta o aluguel de imóveis pelas pessoas de baixa renda e a compra por famílias de classe média.
A coalizão formada pelo Partido Liberal propõe manter o crescimento econômico e reduzir os impostos, além de prever geração de mais empregos com projetos de mineração e o desenvolvimento dos estaleiros. Já os trabalhistas apostam em oferecer melhores oportunidades aos trabalhadores com o acesso gratuito a creches e o investimento em hospitais e escolas, além do aumento dos salários.
Como funcionam as eleições?
A Austrália é um dos poucos países do mundo em que o voto é obrigatório, assim como no Brasil. Os postos de votação abriram às 8h da manhã de sábado e fecharão às 18h – 18h desta sexta-feira e 5h da manhã de sábado, no horário de Brasília..
As cédulas de votação são de papel, e o sistema de votação é bastante complexo, já que os australianos devem votar em seus candidatos ou partidos em ordem de preferência. Ou seja, a primeira opção deve ser marcada com o número “1”, a segunda com o número “2” e assim por diante.
Para a Câmara dos Deputados, concorrem seis candidatos por divisão eleitoral, enquanto para o Senado são eleitos seis representantes por estado a cada 3 anos.
(Com EFE e AFP)
Fonte: Veja