É possível constatar que isso ocorre em atividades profissionais como professoras de nível fundamental, secretárias e vendedoras de cosméticos
A maioria das mulheres sempre recebeu salários mais baixos do que os homens, mesmo quando exercem funções idênticas. A novidade é que agora é possível constatar que isso ocorre até em atividades profissionais em que elas são maioria, como professoras de nível fundamental, secretárias e vendedoras de cosméticos.
De um modo geral, em 2018, o rendimento médio das mulheres ocupadas com idades entre 25 e 49 anos de idade (R$ 2.050) equivalia a 79,5% do recebido pelos homens (R$ 2.579) nesse mesmo grupo etário. A população ocupada de 25 a 49 anos totalizava 56,4 milhões de pessoas no Brasil em 2018. Esse contingente era composto por 54,7% de homens e 45,3% de mulheres.
O estudo “Diferença dos rendimento do trabalho de mulheres e homens nos grupos ocupacionais – Pnad Continuada 2018” mostra que no grupo dos profissionais classificados como ciências e intelectuais a participação das mulheres é 63%, mas os rendimentos equivaliam a 64,8% da remuneração dos homens.
As mulheres também representavam maioria, 60%, no grupo dos trabalhadores de apoio administrativo, mas o percentual do rendimento, embora superior ao registrado no grupo dos profissionais das ciências e intelectuais, equivaliam a 86,2% da remuneração dos homens. Eles são minoria no setor de cosméticos, mas ganham mais. As mulheres eram 59% do contingente de trabalho nessa área, mas no final do mês recebiam o equivalente a 66,2% da renda masculina.
A participação das mulheres era maior entre os trabalhadores dos serviços domésticos em geral (95,0%), professores do ensino fundamental (84,0%), Trabalhadores de limpeza de interior de edifícios, escritórios, hotéis e outros estabelecimentos (74,9%) e dos Trabalhadores de centrais de atendimento (72,2%).
Em cargos altos de diretoria e gerência as mulheres estão em desvantagem. Elas receberam o equivalente a 71,3% da remuneração dos homens e representavam apenas 41,8% dos cargos de comando. È a primeira vez que o IBGE desmembra os dados da Pnad por categoria. O IBGE analisou as horas trabalhadas, a cor, a raça, a idade e o nível de instrução das mulheres ocupadas de 25 a 49 anos. Os dados da série histórica (2012 a 2018) são dos 4º semestres de cada ano.
A única exceção é com relação a membros das forças armadas, policiais e bombeiros militares. Neste caso, as mulheres receberam 100,7 da remuneração dos homens no período analisado. De acordo com o IBGE, isso ocorre porque as mulheres possuem escolaridade média mais alta dos que a dos homens e não ingressam na carreira no primeiro nível de hierarquia. A maioria começa na frente, aumentando a média salarial.
As mulheres da ocupação de Agricultores e trabalhadores qualificados em atividades da agricultura (exclusive hortas, viveiros e jardins) – que mostravam a menor proporção de mulheres (23,8%) -, recebiam 64,2% do rendimento dos homens. Nas ocupações de Médicos especialista e Advogados, que mostravam relativo equilíbrio da participação feminina (em torno de 52%) e demandam nível de instrução mais elevado em ambos os casos, a diferença de rendimento aumentava, com percentuais que diminuíam para 71,8% e 72,6%, respectivamente.
O estudo “Diferença do rendimento do trabalho de mulheres e homens nos grupos ocupacionais – Pnad Contínua 2018” analisou, em nível Brasil, as horas trabalhadas, a cor ou raça, a idade, o nível de instrução das mulheres ocupadas de 25 a 49 anos. Também foi estudada a distribuição por sexo nos grupamentos ocupacionais e as diferenças de rendimento médio real entre mulheres e homens. Os dados são do 4º trimestres.
Valor da hora trabalhada: Em 2018, o valor médio da hora trabalhada era de R$ 13,0 para a mulheres e de R$14,2 para os homens, indicando que o valor do rendimento da mulher representava 91,5% daquele recebido pelos homens. Em média, homens trabalharam 42,7 horas e as mulheres, 37,9 horas, ou seja, 4,8 horas a menos na jornada semanal da mulher.
Cor e Raça
O estudo mostrou diferença importante na desagregação dos dados por cor ou raça da população ocupada. O rendimento médio da população ocupada de cor preta ou parda correspondia, em média, a 60,0% daquela de cor branca. Dirigentes e gerentes (64,1%) e Profissionais das ciências e intelectuais (60,4%) tinham as maiores proporções de pessoas brancas, enquanto os das ocupações elementares (69,1%) e dos Trabalhadores qualificados, operários e artesões da construção, das artes mecânicas e outros ofícios (60,3%) registravam as principais participações de trabalhadores da cor preta ou parda.
Intrução: O nível de instrução da população ocupada de 25 a 49 anos tem aumentado ao longo da série da Pesquisa (2012-21018), com crescimento da proporção de pessoas com pelo menos o ensino médio completo e nivel superior. Em 2012, 13,1% dos homens ocupados tinham o ensino superior, passado para 18,4% em 2018. Entre as mulheres essa estimativa foi de 16,5% (2012) para 22,8% (22,0%).
Jornada
Em média, a jornada de trabalho semanal da mulher era 4,9 horas inferior à jornada dos homens. Essa diferença era menor nos grupamentos de Dirigentes e gerentes (-2,0 horas), dos Técnicos e profissionais de nível médio (-1,9 hora) e a de Trabalhadores de apoio administrativo (-1,2 hora). Por outo lado, as mulheres dos grupos de Trabalhadores qualificados da agropecuária, florestais, da caça e da pesca e dos Trabalhadores qualificados, operários e artesões da construção, das artes mecânicas e outros ofícios trabalhavam, em média, 7,0 horas a menos que os homens.
ONU Mulheres estimula empresas a praticar equidade
Organizações Internacionais estão convocando empresas a assumir um compromisso público pela igualdade de gênero. De acordo com a ONU Mulheres, uma das organizações responsáveis pela ação, 198 empresas já aderiram ao Princípio de Empoderamento das Mulheres, iniciativa que conta com instrumentos para que as próprias empresas façam um autodiagnóstico em uma plataforma online.
As informações que as empresas incluem na ferramenta são confidenciais e serão usadas posteriormente para estudos. O objetivo imediato é que as próprias empresas façam seu diagnóstico e avaliem suas práticas, políticas e programas pela perspectiva de gênero, de forma que possam estabelecer planos de mudança com foco na igualdade. Ainda não há um balanço de quantas empresas, das que participam da iniciativa, já incluíram seus dados na plataforma. Ainda neste ano, a ONU Mulheres pretende divulgar um balanço das melhorias que a ação gerou no ambiente organizacional das empresas, com relação à equidade de gênero.
Unilever, Furnas, Itaú, banco Santander e Grupo Boticário são exemplos de grandes grupos que aderiram à iniciativa, que inclui também startups. Além da plataforma, as empresas contam com a assistência das organizações participantes, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a União Européia,e têm acesso a planos de trabalho para transformar a cultura organizacional, indicadores de progressos e intercâmbio de boas práticas de gênero em comunidades de negócios.
Em outro programa, o “Ganha-Ganha: Igualdade de Gênero Significa Bons Negócios”, com foco no Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Costa Rica e Jamaica, essas organizações internacionais promovem o intercâmbio entre empresárias e empreendedoras latino-americanas e europeias.
“Mulheres do mundo inteiro enfrentam obstáculos para o acesso a direitos econômicos, trabalho decente e proteção social. O empoderamento econômico das mulheres é uma das estratégias capazes de remover obstáculos e criar as condições para desenvolver toda a sua potencialidade das mulheres”, afirma Ana Carolina Querino, representante interina da ONU Mulheres no Brasi. Segundo ela, o desenvolvimento profissional das significa o incremento do PIB. Segundo dados do Banco Mundial, divulgados pela ONU Mulheres, uma maior projeção profissional das mulheres causaria um impacto de 3,3% no Produto Interno Bruto, seriam cerca de R$ 382 bilhões a mais na economia.
Um dos benefícios da ação, segundo Ana Carolina, é que as grandes empresas têm o poder de influenciar as cadeias produtivas, espalhando a mudança de cultura em todos os setores e classes sociais.
A desigualdade de gênero no mercado de trabalho gera uma perda média de 15% nas economias dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de acordo com informações da ONU Mulheres.