Investimento é estratégico para militares, e Bolsonaro já demonstrou interesse em concluir Angra 3
Estudos da consultoria PSR, uma das mais respeitadas do país na área de energia, analisaram o impacto de diferentes fontes sobre a conta de luz e chegaram à conclusão que a retomada das obras da usina nuclear de Angra 3 sairá mais cara para o consumidor do que abandonar o projeto.
O investimento em energia nuclear é considerado estratégico por boa parte dos militares, e o interesse em concluir Angra 3 já foi sinalizado pela equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
A usina foi alvo da Operação Lava Jato e suspeitas de irregularidades em seus contratos levaram até à prisão do presidente da Eletronuclear.
Finalizar a obra custaria cerca de R$ 17 bilhões, abandoná-la, R$ 12 bilhões —considerando os custos para quitar empréstimos, desmontar a estrutura, ressarcir contratos rompidos e pagar dívidas.
Analistas envolvidos na retomada do projeto vinham afirmando que o valor anterior era muito baixo e que, sem uma alta, seria inviável retomar as obras.
O diretor da PSR Bernardo Bezerra questiona essa lógica. “Deveriam concluir a obra de Angra 3 se fosse mantida a tarifa anterior [de cerca de R$ 240]. Se essa tarifa torna a usina inviável, é melhor parar a obra, pagar o custo necessário e adotar a solução mais atrativa ao consumidor”, diz.
Para mostrar o efeito financeiro sobre a conta de luz dos brasileiros, a consultoria contabilizou o gasto para desativar Angra 3 e os custos para erguer e operar projetos solares. Somou tudo, e concluiu que haveria uma economia de R$ 6,6 bilhões.
“Usamos a energia solar apenas como exemplo, poderia ser outra fonte”, diz Bezerra.
A vantagem de Angra 3, segundo ele, seria de outra natureza: o desenvolvimento de tecnologia nuclear nacional, considerada estratégica por alguns.
Para Raphael Gomes, sócio da área de energia do Demarest, a fonte nuclear traz vantagens importantes: não polui e dá segurança ao sistema elétrico do país. No entanto, o novo preço é questionável.
“Retomar a obra seria importante, mas não a esse custo, muito acima das usinas que têm sido contratadas nos leilões recentes”, afirma.
Para ele, além do preço, o modelo de contratação, que prevê que os custos sejam integralmente repassados à conta de luz, poderia ser revisto.
O TCU (Tribunal de Contas da União) também ficou preocupado com os custos. Abriu uma auditoria para analisar os critérios de retomada das obras e seus efeitos sobre os custos finais. A previsão é que essa análise seja concluída em março de 2019.
Procurado para comentar, o Ministério de Minas e Energia não quis se manifestar. A Eletrobras afirmou, em nota, que não vai comentar o assunto no momento.