Apesar do contexto da maior fragmentação partidária registrada na Assembleia Legislativa – são 28 siglas representadas –, o preço da governabilidade de Romeu Zema (Novo) será uma articulação habilidosa para a formação de maioria, com grande probabilidade de não fugir à histórica regra: as bases se iniciam potencialmente elásticas e o seu formato dependerá do ritmo do governo e, a partir do terceiro ano do mandato, das perspectivas que apontar para a sucessão de 2022.
O núcleo da base de apoio de Romeu Zema começa com os três deputados estaduais do Novo e o PV de Agostinho Patrus, que tem cinco cadeiras na Casa e se articula com partidos à esquerda e à direita para viabilizar a sua candidatura à presidência da Mesa Diretora. Com seis deputados eleitos, o PSL se inclina à base do futuro governo. “Temos vários alinhamentos com o Novo: além de estarmos iniciando na política, defendemos o liberalismo econômico. Existe forte vontade de cooperar”, afirma o deputado eleito Coronel Herique (PSL),
Além de tentar puxar o PSL, haverá esforço na articulação de Zema, feita neste momento pelo vice-governador eleito Paulo Brant (Novo), para atrair à base de sustentação uma dezena de siglas que têm entre duas e quatro cadeiras na Casa, entre elas PSD, PRB, PHS, PTB, PSC, SD, Pode, PDT, Avante e Patri. Há tendência também de puxar deputados “órfãos” – únicos dos respectivos partidos – reunidos em bloquinhos, de legendas neutras, que não protagonizaram embate direto com o Novo nas eleições, como foi o caso do PSDB. Também com o PT e partidos esquerda como o Psol e o PCdoB, que possivelmente irão atuar em bloco, o Novo, por sua própria plataforma, tende a apresentar maior dificuldade de articulação.
Embora tenha evitado se posicionar explicitamente na eleição interna para a composição da Mesa Diretora, de modo a não comprometer a interlocução com partidos na formação de sua base, Zema tem sugerido em seus movimentos discreto apoio a Patrus. O cargo é fundamental não apenas pelo comando da elaboração da pauta, mas em decorrência da liderança exercida por deputados eleitos sobre o plenário: são grandes as possibilidades internas de “pequenos favores” aos aliados, que tornam a vida parlamentar muito mais fácil. Contudo, diante de um cenário de cortes orçamentários –, o que deverá acontecer inclusive em todos os poderes – que irão encolher o saco para a distribuição de bondades, ainda é incerto como os deputados estaduais irão se adequar à nova realidade.
“Nossa atuação será de diálogo com os outros parlamentares porque entendemos que política é esforço conjunto. A ideia é ter o bloco de maioria para apoio ao governo, mas pelo momento não há nenhum interlocutor autorizado a falar pelo Executivo”, assinala Laura Serrano (Novo), deputada eleita em primeiro mandato. Laura diz que a atuação dos parlamentares do Novo será “austera” no que diz respeito ao uso da verba de gabinete e a contratação de assessores comissionados. “Mas não temos a pretensão de exigir que os outros façam o mesmo”, acrescenta ela.
‘RAZOABILIDADE DAS PROPOSTAS’
Entre veteranos, cautela. Há boa vontade e desejo de composição, mas tudo depende do andor. “O governo Zema ainda é incógnita. Há disposição para apoiá-lo, mas dependerá da razoabilidade das propostas. Por exemplo, vão acabar com a Secretaria do Meio Ambiente? Não voto isso. Então estou na expectativa, ainda sem saber o que esperar, mas há abertura para o diálogo”, afirma Sávio Souza Cruz (MDB), reeleito para o sexto mandato.
O fato é que ainda é cedo para projetar como o novo plenário da Assembleia, que tomará posse em 1º de fevereiro, vai interagir com o futuro governo. No momento há certezas sobre o passado: as últimas legislaturas interagiraram com os governos em três blocos – da maioria de sustentação, da minoria de oposição e co “independente” – que a rigor emprestou apoiou mediante negociações com o Executivo no varejo. Para o futuro, a sorte está lançada.
Fonte: EM