Economia Criativa: um caminho sustentável
Bens e serviços de valor intangível são o foco da economia criativa, que se baseia na venda de experiências
Foto: George Vale
A Economia Criativa é uma nova forma econômica em ascensão no mundo de hoje. Como o nome indica, ela diz respeito à geração de valor por meio da criatividade. São bens e serviços baseados no capital intelectual e cultural e que buscam melhorar, inovar ou resolver problemas.
Vender experiências é um dos lemas da Economia Criativa, como explica o pesquisador inglês John Howkins, um dos grandes especialistas no tema, no vídeo abaixo. O setor do varejo é o que tem maior destaque e potencial na área, pois possui mais liberdade para criar diferentes soluções para cada tipo de público. A liberdade é um dos pré-requisitos para que a criatividade venha à tona, possibilitando o desenvolvimento de novos produtos em resposta a demandas ou interesses específicos, com um maior cuidado e atenção aos recursos ambientais.
A Economia Criativa se divide em quatro grandes áreas: consumo, mídias, cultura e tecnologia. São negócios nos mais variados segmentos que se agrupam nessas categorias e que se identificam com os movimentos e tendências da inovação e da criatividade. São exemplos empresas de desenvolvimento de softwares e videogames, grupos culturais, escritórios de design, artistas plásticos, produtores de artesanato, restaurantes e agências de turismo cultural.
No Brasil, o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) é um dos grandes incentivadores do setor da Economia Criativa, que em 2015 gerou uma riqueza de R$ 155,6 bilhões para a economia brasileira, segundo o “Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil”, publicado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) em dezembro de 2016. Esse valor equivale a 2,64% do PIB nacional de 2015, com 851,2 mil profissionais formais empregados na chamada indústria criativa. O Ministério da Cultura teve entre 2012 e 2015 uma Secretaria de Economia Criativa, que abrangia diversas áreas culturais, criação de games e serviços de comunicação e publicidade. A pasta atualmente se chama Secretaria de Economia da Cultura e abarca oficialmente somente atividades culturais.
A ONU publica desde 2008 alguns relatórios sobre o tema. O Relatório de Economia Criativa 2010, produzido pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) em parceria com o PNUD, destaca que “a Economia Criativa se tornou uma questão atual da agenda econômica e de desenvolvimento internacional durante esta década. Estimulada de forma adequada, a criatividade incentiva a cultura, infunde um desenvolvimento centrado no ser humano e constitui o ingrediente chave para a criação de trabalho, inovação e comércio, ao mesmo tempo em que contribui para a inclusão social, diversidade cultural e sustentabilidade ambiental.”
O relatório enfatiza ainda que o setor foi um dos menos afetados pela crise econômica mundial, pois se baseia em novos preceitos, adotando relações de trabalho mais igualitárias e políticas de consumo mais justas, sustentáveis e inclusivas. Conceitos como venda direta do produtor para o consumidor, valorização da identidade local, produção sob demanda e consumo de bens personalizadossão diretrizes que impulsionam o mercado criativo.
As pequenas e médias empresas são a maioria nesse setor, embora algumas grandes companhias já adotem práticas como liberar uma porcentagem do tempo do trabalhador para ser dedicada a projetos de inovação. Os bens e serviçoscomercializados, em geral, tem um valor intangível, baseado na venda de experiências, o que propõe aos consumidores uma nova relação com os produtos. A ideia é consumir menos para consumir melhor, seja conhecendo as pessoas de quem você compra ou incentivando negócios sustentáveis e com preocupação ambiental.
Para saber mais, confira este vídeo em que a especialista e pioneira no setor Lala Deheinzelin explica a relação entre Economia Criativa e Sustentabilidade.
O que é economia regenerativa?
A economia regenerativa afirma que reconhece o valor real do meio ambiente, diferente da economia padrão
Economia regenerativa é um sistema econômico que valora o Sol e a Terra, considerados “bem de capital original”. Nesse sentido, diferente do que acontece na economia padrão, a economia regenerativa afirma que reconhece o valor real do meio ambiente – o sistema de suporte da vida humana.
Economia regenerativa x economia padrão
A economia regenerativa é uma proposta teórica em sintonia com o sistema capitalista vigente, mas que sugere mudanças no modo como as coisas são valoradas. O que a diferencia da economia padrão é que, enquanto na teoria econômica padrão pode-se regenerar os bens ou consumi-los até seu ponto de escassez, na economia regenerativa, ao levar em conta o valor econômico dos capitais originais, a Terra e o sol, pode-se restringir o acesso a esses bens de capital original de maneira que sua escassez seja evitada.
Princípios da economia regenerativa
A economia regenerativa, no âmbito teórico, parte do pressuposto de que os princípios universais do cosmos, tais como integridade, ética, cuidado e compartilhamento, devem ser usados como um modelo para o design do sistema econômico. Os defensores dessa teoria vão contra os princípios neoliberais e propõem em seu lugar que o mercado se autorregule por meio de relações eficientes e transparentes, isso tudo em conjunto com outros oito princípios-chave:
1. Relacionamento
A teoria da economia regenerativa afirma que a humanidade é parte integrante de uma teia interconectada de vida em que não existe separação real entre “nós” e “eles”. Segundo essa teoria, a economia humana está completamente inserida na biosfera, onde todos estão ligados uns aos outros e a todos os locais em nível global. Assim, danos causados a qualquer parte refletirão e prejudicarão as outras partes, manifestando-se como uma onda.
2. Riqueza holística
A economia regenerativa considera que a verdadeira riqueza não é apenas o dinheiro no banco. Ela parte do pressuposto de que a riqueza é o bem-estar do conjunto, que deve ser alcançado por meio da harmonização de múltiplos tipos de riqueza ou capital, inclusive sociais, culturais, vivos e experiencial. A riqueza deve ser definida por uma prosperidade amplamente compartilhada em todas as variadas formas de capital.
3. Inovação, adaptação, sensibilidade
O terceiro princípio da economia regenerativa diz que, em um mundo em que a mudança está sempre presente, as qualidades de inovação e adaptabilidade são fundamentais para a saúde do todo. Essa afirmação é comparada à teoria de Charles Darwin, que diz: “Na luta pela sobrevivência, a vitória do mais forte é à custa de seus rivais”.
4. Participação
A teoria da economia regenerativa afirma que, em um sistema interdependente, todas as partes devem se relacionar com o todo; negociando não apenas suas próprias necessidades, mas também contribuindo para a saúde e o bem-estar dos conjuntos maiores em que estão incorporadas.
5. Honra, comunidade e local
Cada comunidade humana, segundo a teoria da economia regenerativa, consiste em um mosaico único de povos, tradições, crenças e instituições, formado pela geografia, história, cultura, ambiente local e necessidades humanas. Dessa forma, deve-se nutrir comunidades e regiões saudáveis e resilientes de acordo com a essência de sua história.
6. Abundância do efeito de borda
Criatividade e abundância, para os teóricos da economia regenerativa, florescem sinergicamente nas “bordas” de sistemas. Para exemplificar esse princípio, é feita uma analogia com a abundância de vida interdependente dos pântanos onde os rios encontram o oceano, em que as oportunidades de inovação e fertilização cruzadas são maiores. Partindo desse ponto de vista, a economia regenerativa acredita que trabalhar de modo colaborativo em todas as margens – com a aprendizagem e o desenvolvimento contínuos provenientes da diversidade que existe nesses locais – é transformador tanto para as comunidades onde os intercâmbios estão acontecendo quanto para os indivíduos envolvidos.
7. Fluxo circulatório robusto
Assim como a saúde humana depende da circulação de oxigênio, nutrientes, etc., a saúde econômica depende de fluxos circulatórios de dinheiro, informações, recursos, bens e serviços para manter o intercâmbio, a descarga de toxinas e a nutrição de cada célula em todos os níveis das redes humanas. De acordo com a economia regenerativa, a circulação do dinheiro, da informação, o uso eficiente e a reutilização de materiais são particularmente importantes para indivíduos, empresas e economias, e atingem o potencial regenerativo esperado dentro do modelo regenerativo. Nesse sentido, a economia regenerativa se aproxima de alguns exemplos de uso eficiente e de reutilização de materiais, como a compostagem, o uso de cisternas e de outros produtos mais sustentáveis.