Grajaú, no extremo Sul, e Cachoeirinha, na Zona Norte, encabeçam a lista dos piores distritos para as crianças. Ranking leva em conta 28 indicadores, como educação, renda, saneamento e saúde.
Por Tatiana Santiago e Cíntia Acayaba, G1 SP
Veja o vídeo acessando ao link da matéria: G1
Quatro em cada dez crianças de até seis anos moram nos 26 piores distritos da capital paulista para a primeira infância.
O Grajaú, no extremo Sul de São Paulo, e Cachoeirinha, na Zona Norte, encabeçam a lista dos mais mencionados negativamente, segundo estudo divulgado pela Rede Nossa São Paulo nesta terça-feira (5).
Esses distritos estão quase sempre entre os piores em indicadores como educação, renda, saneamento e saúde.
“Isso mostra que a cidade vem cuidando de maneira péssima, de maneira bastante desqualificada das nossas crianças. Não conseguir ter um trabalho para a Primeira Infância para essa parcela importante da população fundamental é muito difícil lá na frente conseguir mudar essa situação. São Paulo é a principal capital econômica da América Latina, isso mostra que a cidade é muito boa para produzir riqueza, mas é uma péssima cidade para distribuir igualmente”, lamentou o gestor de projetos da Rede Nossa São Paulo, Américo Sampaio.
Segundo o estudo, 442.929 das 1,1 milhão de crianças de até seis anos que vivem na cidade moram nos 26 piores distritos dentre os 96 da capital paulista (veja o mapa).
Desigualdade
Para Jorge Abrahão, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, as crianças, “nossas riquezas”, como chama, não estão sendo tratadas de maneira correta. “Elas estão nesses espaços que têm os piores índices de saneamento, de segurança. Nesses espaços vulneráveis”, disse.
No Grajaú, diz Abrahão, a qualidade do serviço de uma maneira geral é ruim. “Acúmulo de desigualdades e problemas de várias dimensões fazem com que um distrito fique nessa condição. Seria razoável que os investimentos fossem mais para o Grajaú do que para o Jardim Paulista, por exemplo”, afirma.
Fernanda Vidigal, responsável pela Fundação Van leer no Brasil, parceira no estudo, concorda. “As distâncias [entre os distritos] são muito grandes, mas já esperadas. Com a pesquisa, fica claro onde são os pontos focais, fica mais fácil de fazer a intervenção, onde é preciso investir”, afirma.
O Mapa da Desigualdade da Primeira Infância tem como objetivo mostrar as diferenças existentes dentro da cidade de São Paulo em relação à situação das crianças.
Utilizando a mesma metodologia do Mapa da Desigualdade da Cidade de São Paulo, o estudo inédito revela o “desigualtômetro” – a distância entre o melhor e o pior distrito – em cada um dos 28 indicadores vinculados à primeira infância.
O estudo completo, chamado Observatório da Primeira Infância (OPI), tem 130 indicadores e permite ao interessado, pela internet, selecionar e comparar até cinco itens que possuam dados por distrito.
Por meio da interatividade, dá para saber a situação dos indicadores por ele selecionados em cada um dos 96 distritos da cidade de São Paulo.
Indicadores
- Pediatria
Os médicos pediatras da República, região central de São Paulo, dedicam o menor número de horas ambulatoriais semanais aos pacientes de até 6 anos na cidade. No Jaçanã, na Zona Norte, o atendimento é 707 vezes maior do que o distrtito do Centro.
O pior tempo médio de agendamento para consulta pediátrica é na Brasilândia, na Zona Norte: 20 vezes pior do que no Morumbi, melhor distrito neste quesito.
- Doenças respiratórias
No entanto, Brasilândia é o que mais sofre com a internação por doenças respiratórias da cidade: 6.759 vezes a mais do que no distrito com menos crianças de até 6 anos com esse problema de saúde: Cidade Dutra, na Zona Sul da cidade.
- Rede de esgoto
A rede de esgoto no extremo da cidade, em Marsilac, é 123 vezes menor do que na República, na região central.
- Favelas
Já em relação à distribuição territorial de favelas, Cidade Ademar, na Zona Sul, tem 102 vezes mais favelas do que Santo Amaro, também na Zona Sul.
- Banheiros
Crianças de Moema, na Zona Sul, têm quase duas vezes mais banheiros em casa do que os pequenos de até 5 anos em Marsilac.
- Renda
Os dois bairros também ficam no extremo quando se trata de renda per capita das casas com crianças de até 5 anos: a renda é 44,4 vezes maior em Moema do que em Marsilac.
- Iluminação
Marsilac também perde em iluminação: tem 145 vezes menos lâmpadas por área do que o distrito da República, no Centro.
- Creches
O tempo de atendimento para vaga em creche chega a variar 17 vezes entre Vila Andrade, na Zona Sul – com 441 dias de espera – e Guaianases, na Zona Leste – com 25 dias de espera, em média. Os dois distritos também são extremos no indicador de demanda de vagas atendidas em creches.
- Lixo
O serviço de coleta de lixo doméstico também é pior em Marsilac e é completo no Jaguará.
- Esporte
A Vila Andrade tem o pior indicador de equipamentos esportivos para cada 10 mil habitantes: 0,058, 27,84 vezes menor do que no Pari, com 1,62.
A Prefeitura de São Paulo afirmou que ainda não teve acesso à pesquisa, mas que está trabalhando para reduzir as diferenças, criando, por exemplo, mais vagas em creches.
De acordo com a administração municipal, as Secretarias da Educação, Saúde e Assistência Social fizeram um plano conjunto de apoio à primeira infância, e 56 pediatras foram contratados neste ano.
Fonte: G1