POR LETICIA FERNANDES
BRASÍLIA —Na expectativa de barrar o mais rapidamente possível, na Câmara, a denúncia da Procuradoria-Geral da República, o presidente Michel Temer recebeu nesta terça-feira mais de 50 deputados no Palácio do Planalto e prometeu ajudar nas demandas regionais dos políticos que estiveram em seu gabinete. Temer foi denunciado por organização criminosa e obstrução à Justiça.
Os assuntos foram os mais diversos: de imposto sindical à burocracia que atrapalha a inscrição de times de futebol em campeonatos; da criação de universidades no interior a pedidos de recursos para obras de creches na Bahia. A todos os deputados, Temer seguia o mesmo modus operandi: anotava as demandas e prometia ajudar.
O deputado Roberto Britto (PP-BA), que esteve duas vezes com Temer ontem, contou, animado, que o presidente respondeu positivamente a um projeto de lei para facilitar a vida de times de futebol. A ideia é que não seja mais exigido dos clubes a Certidão Negativa de Débito (CDB). Se o projeto vingar, clubes não serão mais impedidos de disputar campeonatos caso não tenham o documento. À tarde, Britto voltou ao Palácio, dessa vez pedindo recursos para terminar a construção de cerca de 130 creches na Bahia, que, segundo ele, viraram elefantes brancos.
Para Britto, que negou ter conversado sobre a denúncia, o momento é “oportuno” para despejar no governo as demandas regionais. Ele diz não ter decidido como votará no plenário.
— A gente aproveita para colocar os problemas que temos no estado. O momento é bom para isso — disse o deputado ao GLOBO, negando conversa sobre a denúncia. — Não tocamos nesse assunto de denúncia, não perguntei e ele também não falou. Até porque ainda não tenho formação do meu voto, tenho que esperar o parecer — completou.
Outro encontro foi com o deputado Paulinho da Força (SD-SP) e integrantes da Força Sindical. Na reunião, Temer também se comprometeu a resolver uma alternativa ao fim imposto sindical, a chamada contribuição assistencial. A proposta ainda está em discussão, mas os participantes afirmaram que Temer mostrou boa vontade em ajudar no pleito da entidade em cerca de duas semanas.
O deputado Paes Landim (PTB-PI) também esteve no Palácio, mas não com Temer diretamente. Ele se reuniu com o chefe de gabinete da Secretaria de Governo, Carlos Henrique Sobral, responsável por cuidar dos cargos e nomeações. Landim disse que veio apenas cobrar a criação da universidade do Delta do Parnaíba, no Piauí. Seguindo o mantra repetido a todos que foram recebidos, o deputado afirmou que Temer já havia “prometido recursos” para ajudar a tirar o projeto do papel. Temer também recebeu integrantes da bancada ruralista, que, sozinha, tem votos suficientes para barrar a denúncia no plenário da Câmara. A pauta da reunião, segundo parlamentares, foi a discussão da possibilidade de plantio em terras indígenas.
COMANDO DO DEPEN EM DISPUTA
Foram ao menos 12 horas de audiências de Temer com deputados. A agenda começou às 10h e passou das 22h de ontem. Somando as visitas de deputados que não constavam da agenda oficial, o número de parlamentares que estiveram com o presidente pode ter chegado a 70. Muitos deles estiveram no gabinete mais de uma vez.
Em outra frente, no cardápio de agrados em busca de votos, está a indicação para o posto de diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça. O órgão administra o Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), que acumula cifras bilionárias ao receber percentuais de loterias e outras fontes. Há planos para a construção de mais presídios federais.
O atual diretor do Depen, Marco Antonio Severo, formalizou o pedido de demissão na primeira quinzena de setembro. Desde então, o Palácio do Planalto capitaneou as negociações para a indicação do novo nome, sem a participação do ministro da Justiça, Torquato Jardim, como seria o protocolo mais comum para um posto técnico que cuida de área sensível como o sistema penitenciário federal. A exoneração de Severo está prevista para ser publicada nesta semana.
Parlamentares do PMDB, como o deputado Carlos Bezerra (PMDB-MT), vêm pressionando pelo cargo. Um dos cotados é Luiz Antônio Pôssas de Carvalho, advogado ligado ao PMDB de Mato Grosso e indicado de Bezerra. Ele teve duas passagens como diretor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no ano passado. Em ambas as ocasiões, pesou o apoio do padrinho ao ocupante do Planalto.
A primeira passagem pelo Incra ocorreu no período de negociação por apoio contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff . Como o deputado Carlos Bezerra votou pelo afastamento da petista, Carvalho perdeu o cargo. Mas, com a ascensão de Temer, o advogado voltou ao Incra, onde ficou até novembro. (Colaboraram Renata Mariz e Catarina Alencastro)
Fonte: O Globo