Novo escândalo da carne brasileira liga JBS à fazendas com desmatamento ilegal na Amazônia e revela fragilidade dos sistemas de controle
A JBS, maior produtora de proteína animal do mundo, foi multada ontem (22/03) em mais de 24 milhões de reais por comprar gado de áreas desmatadas ilegalmente. A empresa teve suas unidades em Redenção e Santana do Araguaia, no sul do Pará, embargadas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama). A prática é considerada crime ambiental e está em desacordo com o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Carne, firmado em 2009 entre o Ministério Público Federal e 69 empresas, incluindo a JBS. A Operação ‘Carne Fria’, do Ibama, foi deflagrada uma semana depois do escândalo da ‘Carne Fraca’, que expôs a corrupção no controle sanitário do processamento de carnes das maiores indústrias do setor.
A JBS, alvo das duas operações, também integra o Compromisso Público da Pecuária na Amazônia, desde 2009, pelo qual se comprometeu a excluir fazendas envolvidas com desmatamento, trabalho escravo, invasão de terras indígenas e Unidades de Conservação. Desta forma, as práticas ilegais apuradas pelo Ibama significam claro descumprimento aos termos do compromisso.
Por considerar extremamente grave as denúncias que pesam contra a JBS, o Greenpeace suspende as negociações com a empresa relacionadas à implementação do Compromisso Público da Pecuária até que a JBS possa comprovar, de fato, que a carne vendida é própria para o consumo e livre de desmatamento, trabalho escravo e conflitos com terras indígenas e áreas protegidas.
O Greenpeace vem advertindo as empresas signatárias do Compromisso Público da Pecuária sobre a necessidade do controle total da cadeia de produção, incluindo as fazendas que fornecem gado indiretamente para abate pela companhia. Em setembro de 2016, por ocasião da terceira verificação anual, cobramos publicamente mais ambição e maior responsabilidade do setor sobre o controle sistemático dos fornecedores indiretos: As empresas pouco fizeram para resolver a questão. As empresas já mostraram, através do monitoramento geográfico das fazendas diretas, tido no passado como algo impensável e inviável, que isso é possível e necessário. É uma mudança inevitável já que o mercado já tem demandado este tipo de controle. Outro ponto que merece destaque é que todos os frigoríficos continuam comprando de fazendas sem o Cadastro Ambiental Rural (CAR), fundamental no controle de desmatamento e cuja exigência legal, instituída pelo novo Código Florestal, foi mais uma vez adiada pelo governo federal. As empresas precisam se antecipar à lei se quiserem diminuir os riscos em sua cadeia de produção. Além disso, são indutoras poderosas no cumprimento desta importante política pública, diz a nota.
O mais novo escândalo da carne brasileira revela a fragilidade dos sistemas de controle e a necessidade de ampliar o controle social sobre a cadeia de produção pecuária, com mais transparência e acesso público a dados relevantes para a sociedade. Desde 2007, o governo federal vem anunciando maior controle na cadeia de produção bovina, especialmente para exportação, com a adoção de GTA eletrônica e sua integração com o Sisbov (Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos), mas isso nunca aconteceu. Esta falta de comprometimento do governo em criar um sistema auditável para a cria, recria e engorda impossibilita que a pecuária brasileira deixe de ser o sistema econômico que mais destrói florestas no mundo.
As três maiores redes de supermercados do país – Carrefour, Pão de Açúcar e Walmart – que assumiram em 2016 o Desmatamento Zero em suas políticas de compra, também precisam dar uma resposta à sociedade sobre quais medidas vão adotar para evitar que essa carne vá parar na mesa da família dos brasileiros.
Fonte : Greenpeace