O líder do Partido Verde, deputado Sarney Filho (MA), prestou homenagem, no plenário da Câmara, nesta terça-feira, 10, a Carlos Camacho, ex-presidente municipal do Partido Verde e ambientalista histórico que morreu nesta segunda-feira, 9. Leia a íntegra da nota:
Carlos Galeão Camacho, nasceu em 02 de maio de 1942 em Pelotas RS, sendo filiado a dois partidos em toda sua vida…primeiro ao Partido Comunista do Brasil e a partir 1986 ao Partido Verde, sendo fundador e filiado nº 1 do Partido Verde de São Paulo, capital.
Sempre muito eloquente, sua história de vida apontou que foi um subversivo, discordando do que considerava não correto e prejudicial ao melhor do comportamento humano e da vida. Assim era em relação política partidária e a política social.
Por ocasião da ditadura implantada no Brasil a partir de 1.964, esteve presente em muitos movimentos de luta contra a ditadura militar e pela liberdade cidadã. Perseguido, retirou-se para o Chile, e lá solicitou asilo político, dedicando-se a engenharia de abrigar e dar encaminhamento econômico e social aos exilados políticos brasileiros. Casou-se com a chilena Mirna e com ela teve dois filhos.
Com a abertura política no Brasil a partir de 1979, retornou ao país para refazer sua vida profissional, familiar e política. Dedicado ao ramo de hotelaria e restaurantes, atividades que desenvolveu com maestria durante sua estada no Chile, 1984, implantou na cidade de São Bernardo do Campo no ABC paulista com o auxílio de amigos, empresas, sindicatos e trabalhadores, inúmeros projetos sociais e comunitários de abastecimento à população de baixa renda, tais como mutirões de moradias, cooperativas municipais de alimentos e cestas familiares complementares…ajudou a implantar a primeira cozinha comunitária, que servia refeições gratuitas e/ou a preços populares, antes mesmo das chamados “Cozinhas Bom Prato” com refeições vendidas a R$ 1,00 (um real), projetos assistenciais que hoje são parte de programas sociais nas grandes cidades brasileiras.
Seus clubes de coração eram o Farroupilha de Pelotas, RS, Internacional de Porto Alegre, RS e o Corinthians de São Paulo, SP
Camacho teve muitos amigos nos meios políticos e compartilhou amizades com grandes políticos brasileiros e de expressão mundial do Socialismo como Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, o poeta chileno Pablo Neruda, o português Mário Soares, fundador da Internacional Socialista, o social democrata alemão, Willy Brand e outros tantos da política brasileira. Foi servidor como assessor parlamentar da Câmara dos Deputados.
Uma história se destaca na vida de Carlos Camacho e que ficou famosa no Partido Verde, porém, jamais compreendida no Brasil como modelo de socialização da moeda como meio de troca: em Campina do Monte Alegre, SP, pequena cidade do interior do estado de São Paulo, o Partido Verde elegeu o Prefeito. Na época, com as dificuldades econômicas impostas pelo Plano Collor exaurindo as receitas pessoais, familiares, empresariais e municipais desde sua implantação, a cidade inventou “o dinheiro verde” ou “Campino”, uma modalidade de base monetária amparada em produção e serviços e que circulava apenas na cidade a partir da referência “cruzado”. Na cidade, o projeto Dinheiro Verde deu certo e teve grande repercussão nacional nos meios de comunicação pela inventividade e iniciativa na busca de uma solução econômica adequada a um melhor meio de vida comunitária, mas esbarrou na Legislação Monetária Brasileira. Camacho sofreu inúmeros processos por essas práticas pouco ortodoxas, porém, não teve sequer uma condenação.
Estudioso e bem-falante, sempre gostou do vocabulário jurídico e chegou a planejar um “consulado jurídico nacional” para que a sociedade pudesse compreender de fato os significados das leis e suas aplicações, o que poderia revolucionar a legislação em pontos quais, sempre discordou. Professor de direito constitucional, preparava-se para apresentar tese de doutoramento em direito canônico, amparada nas teorias do Evolucionismo e Criacionismo.
Era um estudioso das sociedades alternativas baseadas no bem-estar dos homens e demais participantes da natureza.
Amante de poesia e literatura, admirador da obra literária e política do espanhol Federico Garcia-Lorca, da filósofa alemã Anna Arendt e das teses jurídicas de São Paulo, São Jeronimo e Santo Agostinho e, como um bom gaúcho, admirava a obra e a vida de Julio de Castilhos e Getúlio Vargas.
Homem de fé extrema, Camacho era ecumênico, numa referência aos princípios laicos destacados nos Programa Partidário e Valores de Cidadania do Partido Verde, porém, abraçou a obra social e religiosa da Companhia de Jesus, a ordem jesuíta, tornando-se, desde de 2005 Diácono Permanente da Igreja Católica Apostólica Romana, servindo na Paróquia da Comunidade São Luiz Gonzaga, em São Paulo, SP. Em 2010, torna-se seu Diácono Principal.
Admirado e respeitado por todos os paroquianos, demais diáconos, sacerdotes, bispos e Arcebispo de São Paulo, SP do qual era grande amigo, dizia-se temente a Deus e com intensa confiança em Nossa Senhora Aparecida, com sua família, abraçou a Igreja Católica como prática de fé, dando, igualmente aos militantes e colaboradores do Partido Verde, um grande exemplo de religiosidade, atributo do Sétimo Valor do Partido.
Camacho jamais abriu ou encerrou uma reunião do Partido Verde presidida por ele, sem uma oração de agradecimento pela amizade e fé, símbolos de união entre homens, mulheres e a natureza.
Foi sempre um incentivador alegre e corajoso nunca se importando com críticas e julgamentos da classe política. Amado por algumas ordens de esquerda, não compreendido por outras, sempre foi confidente de muitos intelectuais políticos, religiosos, acadêmicos e formadores de opinião, deixando para a história, incontáveis fatos e casos onde se destacam a existência de um homem bom e justo à sua maneira, de exemplar esposo e pai, de grande orientador religioso, arregimentador e conciliador político, merecedor quando em vida, de todo o respeito e admiração de seus pares do Partido Verde, do qual foi presidente exemplar da Executiva Municipal de São Paulo, capital, dirigente da Executiva Estadual de São Paulo e membro da Comissão Executiva Nacional do Partido. Era respeitado por dirigentes de todos os partidos políticos brasileiros e outros no exterior.
Como um bravo orientador das melhores relações entre as pessoas, foi um conciliador político, social e religioso, deixando a todos um legado educacional ímpar de paz interior e compartilhamento incondicional.
Seu principal lema conciliador, “Quando todos buscam vencer, todos perdem”, por certo, jamais será esquecido.
Carlos Galeão Camacho, para sempre, parte fundamental na história do Partido Verde do Brasil.
Passou pela Vida para Ficar na Eternidade.
Obrigado.
Deputado Sarney Filho (PV-MA)