Deputados federais não são só capital político: eles também representam a garantia de engorda dos cofres das legendas, que, com grandes bancadas e votações expressivas, acabam recebendo mais dinheiro na distribuição do fundo partidário. Um levantamento feito pelo GLOBO com base em informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) revela que os 10 deputados federais mais votados em 2010 renderam R$ 111 milhões no último mandato, entre 2011 e 2014.
O montante equivale a 8,4% do R$ 1,32 bilhão repartido entre todas as siglas registradas no TSE no período. Tiririca, que tem mais votos entre eles, conseguiu sozinho R$ 29,9 milhões para o PR na divisão do fundo. Já Garotinho, o segundo lugar, foi responsável por R$ 15,3 milhões do dinheiro destinado ao PR. O repasse do fundo partidário é constituído por recursos públicos e particulares. De seu total, 5% é distribuído igualmente entre as siglas e 95% de forma proporcional à votação dos deputados federais na última eleição.
Entre os 10 candidatos mais votados em 2010, apenas quatro tentarão se reeleger. Uma média bem abaixo dos 513 deputados da Câmara, onde 398 parlamentares, 77% do total, vão disputar um novo mandato. Os dados são de um levantamento do Diap.
De acordo com o professor de Ciência Política da PUC-Rio, Ricardo Ismael, abocanhar uma fatia grande do fundo e acumular tempo de propaganda eleitoral na TV ajudam a explicar a existência de candidatos famosos ou que, originalmente, não são ligados à política, mas podem despertar o interesse do eleitor:
— O sistema eleitoral proporcional para deputado federal e estadual depende da quantidade de votos. Em cada eleição, você vai ter os partidos que vão se valer de pessoas com potencial de voto. São celebridades ou lideranças comunitárias, aqueles que têm mais chances mesmo para entrar e são mais votados.
Ele explica também que o fundo normalmente é usado para atividades que fazem parte da rotina administrativa dos partidos. Já as campanhas são financiadas, principalmente, por doações.
Professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Alexandre Gouveia acredita que, nas eleições, o fundo beneficia os candidatos que começam na vida política e são pouco conhecidos, atraindo, assim, poucas doações.
Jornal O Globo