Acidentes no trânsito sempre aconteceram. Mas os desta semana no Rio indicam que era hora de buscar novos caminhos, de, pelo menos, tentar reduzir as mortes absurdas.
Uma criança chamada Kawani, de apenas três meses, foi atropelada e morta em Padre Miguel, ao lado de sua mãe que empurrava o carrinho.
O motorista sofreu uma tentativa de linchamento porque os moradores acharam que estava bêbado.
Na mesma semana, um ônibus entrou na esquina do Bob’s na Visconde de Pirajá e fez um estrago. Ônibus com multas como aquele que tombou no viaduto da Ilha do Governador.
Na rodoviária Novo Rio, ao manobrar o ônibus, o motorista não viu que havia uma idosa atrás dele e a matou instantaneamente.
Se somamos isso às quedas na Supervia e aos outros desastres menos noticiados, constatamos que a paz no trânsito é um tema essencial, sobretudo nesses tempos de muitos carros.
A Operação Lei Seca representou um avanço e conseguiu reduzir acidentes. Mas é um trabalho limitado a certas regiões da cidade e a certas horas da noite.
O governo ainda está às voltas com o transporte alternativo. A proibição das vans na Zona Sul só será bem sucedida a médio prazo se houver licitação para que um serviço legal preencha sua lacuna.
No caso dos ônibus, depois de dois acidentes em que os ônibus estavam, de certa forma, irregulares, é de se esperar que se faça uma avaliação geral dos veículos em funcionamento.
Basta ameaçar tirar de circulação os ônibus irregulares que haverá uma tendência a pagar as multas e consertar o que for necessário.
Se o ônibus é punido muitas vezes mas não acontece nada com ele, continua a circular como se fosse legal, a sensação de impunidade acaba levando-o a novas infrações.
Novas campanhas pedagógicas são necessárias, talvez o tema cresça de importância se for mencionado em novelas de televisão.
Mas o instrumento mais interessante que o governo tem é o de centro de comando e controle que construiu com apoio da IBM.
As câmeras já existem e cobrem uma boa parte da cidade. Podem ser ampliadas. E podem estar articuladas com um rápido poder de resposta.
As multas são importantes. Mas são cifras abstratas que cobrem da mesma forma, por exemplo, o excesso de velocidade.
Sabemos, no entanto, que há excessos de velocidade que indicam um acidente próximo. Uma boa articulação entre o centro de comando e a rua poderia evitá-lo.
O antropólogo Roberto da Mata estudou o trânsito brasileiro e concluiu, entre outras coisas, que refletia alguns dos problemas da própria sociedade brasileira, como uma certa resistência à vida democrática.
Ultrapassagens arriscadas, a saída pelo acostamento e a própria hostilidade entre os motoristas revelam que há muita coisa a fazer.
Numa semana em que crianças e idosos foram mortos é hora de buscar novos caminhos. O trânsito está mais difícil por causa das obras, mas nada justifica essa sucessão de tragédias cotidianas.
Artigo publicado no Jornal Metro em 22/04/2013